O meu coração...

No meu peito jaz um moribundo. Um moribundo que tenta sobreviver a todo o custo. Bate ainda, mecanicamente. O moribundo chora, perante a dor que o atravessa, tendo noção que é o fim. O moribundo que procura nos ínfimos da sua existência uma razão para continuar, porque quer continuar, quer lutar até ao fim.
E o meu moribundo volta a tardes de sol, a eternidades num banco. O meu moribundo sofre, cada vez mais, cada vez menos. E deixa-se embalar nas profundezas dos pensamentos, retomando sentimentos esquecidos. A minha boca sorri, um sorriso sonhador, uma sombra da felicidade de outros tempos.
Os meus olhos insistem em torturar-se a ler cartas, textos. A ler a vida que passou. E o meu moribundo pára de bater nesses momentos em que eu já não sou eu, e sou sim, o eu de tempos atrás.
O meu rosto, pálido, inexpressivo, observa o espelho. Observa o ser que mais amei, e morre mais um pouco. As minhas mãos, mortas e inertes, as que registam estas palavras, tremem com o frio que vem das profundezas.
As profundezas que nunca achei ter… A alma, como lhe chamam, essa parte de nós, essa parte de mim, morta, apagada, esquecida. Como o moribundo. Essa parte de mim, desfeita, assombrada pelos meus demónios.
E assim, nos meus 15 anos (sou tão nova!), deixo os meus olhos devanear no horizonte, perdidos algures, à procura dos olhos de outro alguém. Deixo as minhas mãos pousadas no meu colo, amarradas uma à outra, quando esperavam estar amarradas a outras, mais quentes. E os meus lábios roxos, expectantes, num último suspiro, libertam o nome que despedaça o moribundo.

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