O Animal
O peluche mantem-se ali a fitar a parede. A fitar a minha parede de um azul contundente. De olhos cegos e vazios.
Consigo, nos olhos cegos e vazios dele, ver os olhos cheios de quem mo ofereceu. Os olhos que, na altura, enchiam os meus.
Agradeci mentalmente pelo silêncio eterno daquele animal inanimado. Se ele pudesse falar, enumeraria os momentos em que lhe sorri tristemente, de olhos ternos e perdidos nos nós da minha mente. As fatídicas noites de insónias em que o envolvi nos meus braços num ato de total simbolismo, esperando que a minha mensagem atravessasse aqueles quilómetros. As aterrorizantes noites após os meus pesadelos. O degradante dia em que o olhei com um ódio serpenteante. O angustiante minuto em que o movi para longe da minha vista direta.
Fito-o agora com a noção de que já não me mergulho na desiludida agonia que ele antes trazia. Vê-lo apenas me lembra de todas as recordações já marcadas em mim. Apenas me lembra o conflito gigantesco em que estou. Apenas me lembra a desconfiança e a esperança misturadas.
Mas, depois de toda a revolução na minha mente, lembra-me os tempos felizes. E lembra-me as noites em que ele me manteve a sanidade, me impediu de enlouquecer de desilusão. E lembra-me que tenho saudades dele.
Como se pode ter saudades de todos os traços de uma pessoa e, no entanto, ela não ter qualquer lugar no nosso coração?
Pego no peluche e coloco-o de novo no lugar que antes lhe pertencia: em cima da minha cama, à vista de todos.
Sorri e enviei uma mensagem telepática para essa personagem que há tanto tempo me enchia os olhos.
A mensagem baseava-se em ''obrigada'' e ''adeus''.
''Obrigada por há tantas décadas atrás, pelo menos assim o parece, me teres enchido os olhos.''
''Mas já não há espaço em mim para ti. Adeus.''
Consigo, nos olhos cegos e vazios dele, ver os olhos cheios de quem mo ofereceu. Os olhos que, na altura, enchiam os meus.
Agradeci mentalmente pelo silêncio eterno daquele animal inanimado. Se ele pudesse falar, enumeraria os momentos em que lhe sorri tristemente, de olhos ternos e perdidos nos nós da minha mente. As fatídicas noites de insónias em que o envolvi nos meus braços num ato de total simbolismo, esperando que a minha mensagem atravessasse aqueles quilómetros. As aterrorizantes noites após os meus pesadelos. O degradante dia em que o olhei com um ódio serpenteante. O angustiante minuto em que o movi para longe da minha vista direta.
Fito-o agora com a noção de que já não me mergulho na desiludida agonia que ele antes trazia. Vê-lo apenas me lembra de todas as recordações já marcadas em mim. Apenas me lembra o conflito gigantesco em que estou. Apenas me lembra a desconfiança e a esperança misturadas.
Mas, depois de toda a revolução na minha mente, lembra-me os tempos felizes. E lembra-me as noites em que ele me manteve a sanidade, me impediu de enlouquecer de desilusão. E lembra-me que tenho saudades dele.
Como se pode ter saudades de todos os traços de uma pessoa e, no entanto, ela não ter qualquer lugar no nosso coração?
Pego no peluche e coloco-o de novo no lugar que antes lhe pertencia: em cima da minha cama, à vista de todos.
Sorri e enviei uma mensagem telepática para essa personagem que há tanto tempo me enchia os olhos.
A mensagem baseava-se em ''obrigada'' e ''adeus''.
''Obrigada por há tantas décadas atrás, pelo menos assim o parece, me teres enchido os olhos.''
''Mas já não há espaço em mim para ti. Adeus.''
Comentários
Enviar um comentário