Ódios de estimação - I

Ser velha aos quinze anos é tortuoso. É tortuoso ver pessoas da nossa idade a fazer e a dizer coisas próprias da idade e só me apetecer bater-lhes. Dizer as patéticas frases feitas, jurar amores eternos, dizer que já se passou por muito com década e meia de vida.
Credo. Não estou para textos bonitos hoje, meus leitores. Quero apenas vomitar ódios de estimação.
E um deles são os adolescentes. Os ridículos adolescentes.
Comecemos pelos amores. ''Amo-te para sempre.'' Que bom, que bonito. Que treta. É óbvio que não vai ser para sempre. São novíssimos, têm a vida toda pela frente, não digam disparates desses. Não caiam nas melosas lamechices. Ou então caiam, mas controlem a língua. Porque juras de amor dessas são ridículas. Digam-nas quando estiverem nos vossos 30, 40 anos. Não quando ainda têm tanto para descobrir na vida, tanto porque se apaixonar, tantas pessoas para conhecer. Enfim... Isso apenas dá em obsessões. A vida em si tem um fim, o que obriga a que tudo o que há nela também o tenha. Portanto, não se prendam ou não se finjam prender antes de terem visto tudo o que querem neste maravilhoso mundo. O mesmo no que toca a ciúmes. Porquê? Porquê se auto-envenenarem com algo tão estúpido, com uma sensação tão inútil e tão amarga?
Falemos agora do materialismo. Porquê que alguém é melhor ou pior pelas marcas de roupa que usam? Juro, eu não pago mais do que 20 euros por uma camisola. E vivo extremamente confortável em termos económicos, acreditem. Simplesmente acho ridículo. Acho ridículo que as pessoas precisem dos melhores telemóveis, das melhores roupas para se considerarem satisfeitos. Acho ridículo que as pessoas prefiram prescindir de bens essenciais a não ter roupas das melhores marcas. Estamos em recessão e as pessoas preocupam-se com as aparências. Enfim...
E os gostos, ai os gostos... Ninguém pode ler, que é de nerd, ninguém pode gostar de coisas diferentes que leva com olhares reprovadores. Ou então, em determinados círculos sociais, toda a gente quer ser diferente. Meu Deus... Não tenham vergonha de ser quem são, de fazer o que fazem. Se vos julgarem é porque são crianças autênticas.
E as frases feitas, engulam-nas. Digam o que querem por palavras vossas. Não por expressões (porque ainda por cima as expressões de hoje em dia matam o português) e sim pela vossa cabeça.
Agora passando para o capítulo parental. Não vou aprofundar muito esta parte porque seria hipócrita repreender-vos por serem absolutos idiotas com os vossos pais quando tantas vezes o sou também. Fui dotada de muito pouca paciência, à imagem deles, na realidade.
De qualquer das maneiras, controlem-se. Respirem fundo e controlem as expressões faciais, a voz, as palavras. Respondam-lhes com frieza, com argumentos válidos. E tudo melhorará. Não se esqueçam que essa gente criou-vos para serem excelentes, com amor, dedicação e esforço. Portanto sejam-no. E façam para que eles fiquem orgulhosos de vocês.
Por fim a maravilhosa frase ''já passei por muito''. Que piada. Em década e meia de vida já passaste por muito. Ora, ora... Alguém que te era muito próximo morreu? Apanhas porrada todos os dias seja da família, do namorado ou de colegas? Não tens comida no prato? Não tens roupa? Tens alguma doença incontornável? Se respondeste que sim a alguma destas perguntas, consigo aceitar que digas aquela frase. Se disseste que não a todas, vai passear. Passaste por muito o quê? Meia dúzia de corações partidos? Meu Deus...
Olhem, eu em parte entendo. Somos adolescentes, temos as hormonas às voltas, não sabemos o que dizemos e o que fazemos. Também tenho desses momentos. Mas a maior parte das vezes prefiro ficar quieta, pensar duas vezes. Portanto aconselhava que começassem a fazer o mesmo.
Somos o futuro do Universo. Convém que comecemos a agir como tal.
Ser jovem não é sinónimo de ser estúpido.
Mas, mais uma vez, talvez esta seja apenas a velhice a falar. Talvez me tenha tornado intolerante e impaciente.
Porque ser velha aos quinze anos é tortuoso...

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