As primeiras despedidas

''Vou-me embora''.
Foi tudo o que eu vi no rosto dela. E apesar da tristeza que me assolou respirei fundo.
Apenas para concluir que ela se ia mesmo embora. Que o meu inferno na terra estava a começar. Que era a primeira de tantas despedidas.
Elas não se iam simplesmente embora.
Elas iam desaparecer da minha vida. Como se nunca nela tivessem existido.
Achei que o choque não me ia deixar chorar. Não deixou, ao início, à frente delas. Porquê? Será que inconscientemente já me preparei para ser a única que se mantém firme?
Depois a realidade abateu-me no segundo em que a vi entrar no carro de olhos vermelhos e inchados.
Ela não ia voltar.
E agora estou sentada na minha cama, quase a sufocar à frente do computador.
Nunca a vou ver outra vez, não dentro do equipamento que ela usou por tantos anos, nunca a vou ouvir a resmungar outra vez, a rir da forma histérica dela.
Foi a primeira saída. E eu já acho que não aguento mais nenhuma.
Não consigo pensar...
Ela foi-se embora. Foi mesmo. Para não voltar.
Aquela pequenina foi-se.
Foi-se.
Simplesmente.
E temos, tenho, de carregar o peso da perda no peito.
Como é que se despede de alguém assim? Tão definitivamente, tão permanentemente?
Para sempre?
Como é que é suposto perdermos o laço assim, esquecermos que ele existiu?
Meu Deus, ... Quero passar o resto da minha vida a chorar. Não quero fazer mais nada, dizer mais nada.
Quero deitar a alma fora através das lágrimas. Há que aproveitar, dado que nunca o consigo fazer.
Estou de coração partido. Esmagado, desfeito.
E com ela começam as saídas da minha vida.
Porquê?
Porquê, se eu não consigo aguentar?
Porquê que continuo a partir o meu coração se já não tenho ninguém para o suportar, para o recolar?
Daniela, desculpa. Desculpa se alguma vez te fiz a vida difícil, se fui ranhosa, teimosa, ou seja o que for.
Quero que saibas que estes anos foram os melhores da minha vida. E que te agradeço por teres feito parte deles.
Podes ser pequena, mas és grande no nosso coração, no coração do Arcozelo.
Adoramos-te.
Obrigada, sê feliz.
Adeus.
Este é o primeiro adeus. E está a desfazer-me.
Vocês são pedaços de mim. Adoro-vos. Por favor, não desapareçam simplesmente, porque eu preciso de me manter inteira.

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