Regeneração

Passaram duas semanas desde que o teu nome me fez tremer pela última vez.
Não sei se hei de ficar feliz ou se hei de ter pena. Não sei como vai ser a minha vida sem estar agarrada a algo irreal.
Não me deixa mais feliz. Deixa-me simplesmente indiferente. Não tinha noção do quão indiferente estava até ao segundo em que me disseram. Até ao segundo em que soube que tinha acabado.
Incrível. Nem passaram dois meses. Não passaram dois meses e eu já me consegui levantar de novo. Talvez porque este execrável processo já tinha começado muito antes do Fim.
No entanto sei que não consigo começar de novo. Pelo menos não para já. Porque tu podes já não estar em mim mas todas as memórias estão. Todos os pequenos pormenores ainda estão marcados na minha mente.
Mas dei-te o meu perdão. Não quero que esta frase pareça condescendente ou arrogante. A verdade é que precisava de to dar, a verdade é que o merecias. De qualquer das maneiras, o meu perdão marcou o início do fim do processo, o início da regeneração da minha mente, o início do fim deste capítulo.
Tal como disse, ainda não estou pronta para começar a escrever outro capítulo. Talvez pare de escrever por um pouco ou talvez me entretenha a escrever infinitos rascunhos que nunca passarão de folhas soltas.
A primavera ajuda. O calor ajuda. As leves brisas, o encadeante sol, o florescer de tantas plantas cujos nomes nunca soube, o intoxicante cheiro provocam um sorriso a qualquer pessoa. Todo este processo fez-me acreditar que a alma humana supera tudo. Não que aquilo que eu passei tenha sido grave ou sequer complexo, foi algo ínfimo e patético, mas para mim foi complicado. Não que não tenha passado por coisas piores. Mas já não me lembrava da última vez que tinha passado fosse pelo que fosse.
Como eu estava a dizer, a mente humana supera tudo. Pode demorar o seu tempo, pode ter várias fases, pode doer, pode arder, pode humilhar, mas acabamos por recolher os nossos cacos. Acabamos por ser felizes de novo.
Afinal, foi para isso que fomos feitos. Para ser felizes.
Pergunto-me agora como vou ocupar a minha mente. Talvez leia intermináveis histórias, talvez me enterre em nostálgicos filmes, talvez estude, talvez me ocupe com a minha aparência, talvez escreva, talvez volte a ocupar-me com os meus ódios e as minhas indignações de estimação. Talvez me torne uma pessoa mais sorridente ou talvez volte às saudosas expressões hostis e sorrisos de escárnio.
Talvez faça tudo isso.
É demasiada liberdade para uma pessoa indecisa como eu. Mas gosto. Gosto da sensação de libertação. Gosto de sentir os meus muros a reerguer-se,  as minhas prioridades a voltarem aos seus sítios, o meu humor a voltar.
Gosto de ser suficiente para mim outra vez.
E gosto desta palavra. ''Regeneração''. Porque não importa que tipo de guerra travaste. Pequena ou grande, contigo ou com os outros, sozinho ou acompanhado.
O que importa é que a travaste. E mesmo que sintas que a tenhas perdido, não perdeste. Nunca a perdes. Porque assim que a guerra acaba, recuperas-te. E isso é melhor que qualquer batalha ganha.

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