Juventude Desperdiçada

A voz do padre ecoa no silêncio profundo. Reza pelos mortos, pelos vivos. Lá fora chove devagar, quase tão devagar como o batimento do coração de quem está dentro da caixa de madeira. Da enorme caixa de madeira.
Como pode algo tão efémero, tão simples, levar uma vida inteira? Levar um coração que tanto bateu, que tanto sentiu? Como pode um simples material levar um corpo de alguém que foi amado e odiado tão fortemente?
A congregação está cheia de preto. Quando morre uma criança é suposto usar-se preto ? É suposto ver tantos rostos em puro sofrimento, que eu considero completamente falso?
Uma criança como aquela não tinha idade para distinguir o certo do errado, como ia ter idade para ter amizades que ficassem em tão absoluta tortura quando ela morresse?
E o preto atravessa a rua. E no lugar do eterno descanso, onde a chuva cai cada vez mais devagar e se mistura com o sal que escorre nos rostos, o silêncio é cortante. Fala mais alto do que qualquer dor.

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