Rolling in the deep...

O quarto está escuro e quente.
O ar está abafado.
Estou deitada na cama, enrolada nos lençóis a olhar para o vazio. Tenho um pequeno sorriso espantado nos lábios. As minhas mãos estão amarradas uma à outra. O meu cabelo espalha-se pela almofada.
Na minha cabeça infinitos cenários se pintam. Todos eles são utópicos e fantasiosos. Todos eles só provam a minha fraqueza.
Mas sorrio. Vivo naquelas realidades por uns minutos.
Depois treino mentalmente milhares de discursos nos quais garanto o meu bem estar, nos quais deixo de lado a minha imaturidade, nos quais deixo de ser eu.
Revivo ainda os momentos mais cruciais dos últimos tempos. Estes momentos despertam em mim a indignação, a raiva, a dor, a saudade.
Não consigo parar de querer escrever mesmo sem saber o que escrever. Preciso de algo que me impeça de enlouquecer. Porque parece que estou mesmo a enlouquecer.
É diferente de tudo o que já senti. É como se o meu coração estivesse protegido por uma redoma que abafa a dor. E ao mesmo tempo mal me consigo aguentar em pé com ela.
Não sinto a dor em si. O que sinto, creio eu, são as saudades.
Mas não são saudades da pessoa.
Já me passou a fase da dor física pela falta das mãos dele.
Tenho saudades do absoluto sentimento de confiança em que eu andava mergulhada. Tenho saudades da estabilidade. Tenho saudades do sorriso no meu rosto ao pensar nele.
Tenho saudades de estar tão loucamente apaixonada que não fazia diferença tudo o resto.
E ao mesmo tempo tenho saudades de não estar nem minimamente afeiçoada a seja quem for.
Tenho saudades das tretas filosóficas que ele costumava dizer.
Tenho saudades da maneira curta e lenta como ele dizia... Aquela palavra.
Tenho saudades de ele me abraçar e resmungar que teve imensas saudades minhas.
Tenho saudades de quando ele me surpreendia e dizia alguma coisa tremendamente inteligente.
Tenho saudades de conhecer as mania de uma pessoa, de realmente me sentir fascinada com cada traço da personalidade de alguém.
Acho que se resume nisso.
Estou farta da vontade constante de dormir. Da falta de fome. Da falta de vontade. Das dores físicas. Das saudades.
Mas a verdade é que eu preciso disto.
Preciso de toda esta fase de falta de caráter, de saturação, de falta de esperança, de auto-ódio.
Para depois, daqui a uns dias, me levantar de novo.
E deixar de ser esta parte de mim que eu desconhecia e que detesto, para passar a ser a parte de mim anterior a ele. A parte de mim que eu adorava.
Mas para isso preciso de me reinventar, renovar, renascer.
E preciso de todo este irritante escuro e silencioso quarto, dentro do qual sangram todas as minhas esperanças, ambições e sonhos, à espera do momento em que se hão de levantar e ser-me outra vez.

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