Independência - I
Ela inspirou com força o ar puro.
Parte de si não acreditava que se tinha decidido a ir às montanhas. Não acreditava que estivesse assim tão desesperada.
Detestava as montanhas. Detestava tudo o que fosse longe da sua terra à beira mar.
No entanto, eram aquelas as suas origens. O seu pai sempre adorara aquela zona.
Ela lembrava-se de todas as histórias que ele lhe contava sobre as brincadeiras de um menino de olhos azuis nos montes. Lembrava-se de, quando era mais nova, rodopiar e acabar por cair na enorme expansão verde. Lembrava-se de ser tão pequena, a relva tão verde, o céu tão azul, as montanhas tão altas, os rios tão rápidos.
Lembrava-se de tudo ser tão intenso, demasiado intenso para o seu pequeno coração.
Talvez fosse disso que estava à procura. Da intensidade com que antes sentia tudo.
E portanto tinha feito as malas e tinha viajado até ao local que fazia os olhos do seu herói brilhar.
Regozijou-se pelo facto de agora poder ir onde bem lhe apetecia. De faculdade acabada, independência económica e liberdade finalmente demarcada, Margarida, de 25 anos, via aquilo que desejara a vida inteira realizar-se.
Liberdade era uma palavra que a fazia sorrir ali, espontaneamente, contra o vento que fazia com que o seu cabelo dançasse à sua volta. Estava livre. Livre da supervisão dos pais, das obrigações dos estudos.
Claro que se mantinham as obrigações laborais, mas em nada se comparavam com as académicas.
A verdade é que era impossível negar a beleza daquele sítio. Idílica. Talvez escrevesse sobre ela.
Essa observação fê-la sorrir. Se havia coisa pela qual sempre esteve apaixonada era a escrita.
Daí se ter tornado jornalista. E daí, em tão tenra idade, ter subido tanto na escala hierárquica do jornal.
Adorava o seu trabalho. Tinha sido talhada para ele. E normalmente nunca se permitiria afastar-se duas semanas dele mas a verdade é que precisava.
Precisava de se voltar a encontrar. Havia uma parte de si que tinha morrido. E ela precisava de a reavivar.
E então deslocara-se pelo país até se instalar numa pousada tradicional em Trás-os-Montes.
Naquele momento passeava pelos campos à beira do Tâmega de sapatilhas e roupa prática, o cabelo dourado a ser empurrado pelo vento.
Sorria levemente mergulhada nos seus pensamentos. Os seus passos eram largos e lentos. Os seus enormes olhos azuis passeavam pela paisagem.
Um cachorro latiu-lhe alegremente, desviando a sua atenção. Margarida sorriu-lhe e baixou-se para lhe afagar o focinho.
''Oh, Guida, tu e os cães!...''
Margarida quase que deu um grito. Surpreendida pela reprodução da sua mente afastou-se do cachorro e voltou a virar o rosto para o Tâmega.
Impressionante como o tom de voz dele estava tão marcado nos seus ouvidos que ainda o conseguia ouvir.
Parece que por vezes não importa quão longe se esteja ou quanto tempo passe.
Parte de si não acreditava que se tinha decidido a ir às montanhas. Não acreditava que estivesse assim tão desesperada.
Detestava as montanhas. Detestava tudo o que fosse longe da sua terra à beira mar.
No entanto, eram aquelas as suas origens. O seu pai sempre adorara aquela zona.
Ela lembrava-se de todas as histórias que ele lhe contava sobre as brincadeiras de um menino de olhos azuis nos montes. Lembrava-se de, quando era mais nova, rodopiar e acabar por cair na enorme expansão verde. Lembrava-se de ser tão pequena, a relva tão verde, o céu tão azul, as montanhas tão altas, os rios tão rápidos.
Lembrava-se de tudo ser tão intenso, demasiado intenso para o seu pequeno coração.
Talvez fosse disso que estava à procura. Da intensidade com que antes sentia tudo.
E portanto tinha feito as malas e tinha viajado até ao local que fazia os olhos do seu herói brilhar.
Regozijou-se pelo facto de agora poder ir onde bem lhe apetecia. De faculdade acabada, independência económica e liberdade finalmente demarcada, Margarida, de 25 anos, via aquilo que desejara a vida inteira realizar-se.
Liberdade era uma palavra que a fazia sorrir ali, espontaneamente, contra o vento que fazia com que o seu cabelo dançasse à sua volta. Estava livre. Livre da supervisão dos pais, das obrigações dos estudos.
Claro que se mantinham as obrigações laborais, mas em nada se comparavam com as académicas.
A verdade é que era impossível negar a beleza daquele sítio. Idílica. Talvez escrevesse sobre ela.
Essa observação fê-la sorrir. Se havia coisa pela qual sempre esteve apaixonada era a escrita.
Daí se ter tornado jornalista. E daí, em tão tenra idade, ter subido tanto na escala hierárquica do jornal.
Adorava o seu trabalho. Tinha sido talhada para ele. E normalmente nunca se permitiria afastar-se duas semanas dele mas a verdade é que precisava.
Precisava de se voltar a encontrar. Havia uma parte de si que tinha morrido. E ela precisava de a reavivar.
E então deslocara-se pelo país até se instalar numa pousada tradicional em Trás-os-Montes.
Naquele momento passeava pelos campos à beira do Tâmega de sapatilhas e roupa prática, o cabelo dourado a ser empurrado pelo vento.
Sorria levemente mergulhada nos seus pensamentos. Os seus passos eram largos e lentos. Os seus enormes olhos azuis passeavam pela paisagem.
Um cachorro latiu-lhe alegremente, desviando a sua atenção. Margarida sorriu-lhe e baixou-se para lhe afagar o focinho.
''Oh, Guida, tu e os cães!...''
Margarida quase que deu um grito. Surpreendida pela reprodução da sua mente afastou-se do cachorro e voltou a virar o rosto para o Tâmega.
Impressionante como o tom de voz dele estava tão marcado nos seus ouvidos que ainda o conseguia ouvir.
Parece que por vezes não importa quão longe se esteja ou quanto tempo passe.
Comentários
Enviar um comentário