...

''Como estás?''
Já não são os de olhos brilhantes que perguntam.Sou eu mesma.
Parece que estou sempre a pensar no assunto, sempre a revivê-lo, sempre a falar dele. Mas é como se nunca conseguisse saciar a minha vontade de falar, de esclarecer.
Passam alguns minutos da meia noite. Por uns minutos é dia 21 de março. O dia tão esperado.
Nunca pensei que fosse passá-lo... Assim.
Será que ele se vai lembrar?
Claro que não. Já não lhe faz diferença. Já não lhe faço diferença.
Isso por alguma razão é reconfortante. Simplesmente arrancá-lo assim da minha vida, é reconfortante.
Talvez tenha acabado. Talvez não nos voltemos a ver. Ou talvez só nos vejamos daqui a muito tempo.
Talvez as nossas vidas tenham mesmo tomado rumos contrários.
Talvez aquela saída tenha sido a nossa despedida.
Mais uma vez, reconfortante.
É reconfortante saber que a partir de agora as escolhas dele não afetam a minha vida e que as minhas não afetam a dele.
Este vai ser um dia complicado.
Mas não importa. Daqui a 24 horas estarei a dormir. E este dia terá passado.
Estará ele a pensar no mesmo que eu? Ou estará a desfrutar da imensa atenção que sempre quis e que está finalmente a receber?
Será mesmo o fim?
Sim.
Começo finalmente a aceitar isso. Não quer dizer que não continue a lembrar-me dos tempos felizes. Ou que não continue a ter saudades.
Simplesmente estou a aceitar isso.
Consigo respirar outra vez.
Quem diria que a maturidade ajudava?
Quem diria que lidar com isto de maneira adulta me faria ver melhor a situação, me faria perdoar-me e perdoá-lo, me faria conseguir respirar de novo?
Tenho pensado muito no assunto. E realmente todos os dias chego a conclusões incríveis, que me orgulham que fazem com que seja mais fácil compreender.
''E então, como estás, Cláudia?''
Cansada. Envergonhada. Com o orgulho ferido. Com saudades. Carente.
Só há uma maneira de tirar isto do meu sistema. É despedir-me. É usar uma palavra que sempre me custou a dizer. Ainda por cima destinada a quem é.
Esta palavra simboliza a primeira de muitas despedidas, porque eu nunca consigo fazer nada à primeira.
Assim escrevo, com toda a minha alma, cada letra contendo um pedaço de nós, aliás, das cinzas de nós, das cinzas dos nossos momentos, das nossas memórias, dos nossos sorrisos, dos nossos toques, dos nossos olhares, das nossas palavras:
Adeus.
E, onde quer que estejas, feliz meio ano.

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