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A mostrar mensagens de 2016

Dos meus votos inquebráveis

"Para ti. Que um dia se torne eterno nos teus braços, que passe como se o andar de um caracol se tratasse. Poder entender todos os pequenos pormenores, apreciar cada gesto, toque, sorriso. Não quero que essa eternidade seja somente bonita; espero que tenha, por vezes, momentos menos bons, obstáculos que dificultem o caminho, o nosso caminho, para que possamos aprender a ultrapassá-los, juntos. Amar não é para ser fácil, é para valer a pena. Desejo-te uma insónia  cheia de lembranças minhas, se possível, todas as noites. E sonha, porque uma vida sem sonhos é o verdadeiro pesadelo. Que continues a imaginar o teu futuro, os teus objetivos, mas com uma ligeira alteração: comigo a teu lado. Sim, porque espero estar contigo quando esses fins forem alcançados. Sinto-me feliz, rodeado do teu carinho e amor. Adorava poder ver esses teus olhos castanhos a brilharem para mim todas as manhãs, ouvir-te a dizer que me amas. Magoa quando estou longe de ti, é certo, mas o que era do amor sem a...

Velhice

Acho que me sinto velha.  Sinto-me tão cheia por dentro que pareço vazia, tão profunda que pareço superficial. Uma vez disse que me sentia uma floresta queimada e devastada por chamas postas. Hoje em dia sinto-me demais. Não me sinto gasta, ou perdida ou sequer ligeiramente corroída, sinto-me meramente demais. Sinto a mais pequena dor ou indignação como se fossem imensos cortes de papel que sangram e não como pontos de ignição de um incêndio de fúria. Sinto todas as críticas e rejeições e sinto a vida como se ela estivesse dentro de mim e não fora.  Ao mesmo tempo, parece-me que estou fora da vida a olhar para dentro. Sinto um fosso entre mim e a realidade, sinto que estou parada enquanto o mundo avança em todos os sentidos menos na minha direção. Durante um tempo tudo isto pareceu-me meramente uma pequena crise de identidade a que o meu cérebro geralmente muito ocupado tinha de se entregar para lidar com a falta de estimulação. Mas já não me parece tanto assim. Sei quem ...

O que será, será

Não sei esta será meramente mais uma tangente minha, daquelas em que nem há nexo nem justificação. Talvez assim o seja, como invariavelmente acaba sempre por ser. Não sei se esta sensação de ser uma estranha na minha vida vai prevalecer indefinidamente, nem sei se é mesmo uma sensação e não uma mera paranóia. Mas a verdade é que não me reconheço. Procuro em mim a racionalidade e a frieza de outros dias e tudo o que encontro dentro de mim é a rapariga de 13 anos que tanto fiz para esquecer. Sinto-me uma adolescente outra vez. Insegura, que reage ao rumo das emoções e que diz disparates sem pensar neles, que não sabe comunicar e que expressa tudo atabalhoadamente. Não sou essa rapariga, esse desastre regido por hormonas há anos. A minha personalidade clara e rigorosa tomou conta de mim e sobrepôs-se às hormonas por muito tempo. É isso que eu vejo quando olho em volta. Claridade, confiança, precisão. Frieza. E um toque de feminilidade excessiva. Mas não é como eu me sinto. Sinto-me um d...

Divagações cinzentas

Os dias sucedem-se no espaço de um minuto. Tudo parece passar vertiginosamente. Parecem já não se distinguir, misturarem-se todos na névoa da estabilidade, na consciência de perenidade, de permanência, no nevoeiro de dormência. Todos os dias são uma rotina, mesmo quando não o são. Mesmo quando estou noutro país, noutra hora, a contar as horas para voltar à minha cama, ao meu ar e à familiaridade. Dentro de mim há apenas uma indignação já antiga e que me cansa o coração pela frustração que me traz. E ainda a vontade incessante de voltar para o meu casulo. É apenas isso que me revoluciona: a constante fúria por tudo o que se passa no mundo e o amor. Quão cliché. Tornei-me num cliché, em mais uma rapariga que foi feita para ser tanto e acabou por implodir. Ainda sou capaz de muito, e, espero eu, apesar de tudo parecer num impasse neste momento, farei muito e serei muito. Não me quero deixar escorregar para um mero recipiente de ser humano. Creio que é por isso que me incomodam tanto e...

Arte

"Arte", é tudo em que penso. Ele é absolutamente arte. Cada pedaço dele é arte. Arte pura, arte simples, arte firme. Tudo o que ele é, é arte. Todos os traços dos olhos cor de mel dele, ou do cabelo negro com que ele se preocupa demais, da pele dele, do corpo dele. Todos os traços da personalidade dele, a voz doce mas inflexível dele, a maneira como ele olha para mim, o rosto dele quando está concentrado em alguma coisa, e tudo nele é um conto de fadas. Daqueles gravados nas cassetes da minha infância. Cada segundo que passo a olhar para ele sinto-me a pessoa mais absorta do mundo, que por alguma razão tem esse privilégio, não só de olhar para ele, mas de lhe tocar e, acima de tudo, de ser parte dele. Lembro-me todos os dias da ironia de tudo isto. Da ironia de uma rapariga que nunca acreditou em contos de fadas ter tropeçado num. Uso o termo "conto de fadas" muito livremente. Nenhuma relação é um conto de fadas, todas carregam a sua dor, o seu ressentimento, a s...

Hipocondria

Já não sei o que se passa há muito tempo.Já não sei o que se passa comigo, com o mundo, com esta vida há muito tempo. Agarrava-me tanto ao controlo de tudo e de todos, e dou por mim já sem controlar nada. Não controlo nada, nem as noites que durmo, nem as palavras que escrevo, nem o corpo em que vivo. Não controlo os textos que estudo, a mão que agarro, ou os lábios que beijo. Perdi o controlo do hoje e do amanhã. Vou apenas com o vento, para onde quer que este me leve, seja para longe ou para perto. Recuso-me a sofrer às mãos da minha cabeça, mas sofro às mãos do corpo. Não faço ideia se o que escrevo tem nexo, se a conexão que tenho continua limpa e pura, se continuo eu. Já não me lembro de ter tempo para isso, já não sei o que é poder debruçar-me sobre pensamentos mundanos. A vida passa-me. Não sou eu que passo por ela. Ela simplesmente avança, e eu estou tão ocupada que me esqueço que ela passa. Entre os olhos cor de mel, o cabelo preto e o sorriso doce, esqueço-me que a vida ...

Ciúmes cegos (?)

As minhas mãos tremem. A minha cabeça entra na espiral sem fim já tão minha conhecida. Não há como sair dela, apenas com o tempo, apenas com distrações. Pergunto-me se não estarei em muitos maiores sarilhos do que aqueles em que me permito pensar... Mas a minha mente bloqueia-me essa ideia, sabendo que enlouquecerei se começar a pensar nisso, sabendo que esse é um assunto demasiado sério. Portanto, concentro-me no quão zangada estou. Concentro-me no bater ímpar do meu coração, em vez de pensar na sensação que me queima por dentro. Estou furiosa, e, por alguma razão sinto-me traída. Traída por mim própria e pela minha imaginação, é claro, mas traída. Já vivi esta história demasiadas vezes, sei como acaba, sei como me deixa. Sei também que me tinha prometido morrer antes de a voltar a viver. E recuso-me a voltar a vivê-la, recuso ver-me a cair de novo noutra situação do género. Parte de mim tem vontade de simplesmente ir. Ir, para qualquer lado, desde que longe. Nunca mais voltar. S...

O Peso do Tempo

Estará só na minha cabeça a indiferença? Estarão os silêncios incluídos, estarão as ofensas regularizadas? Acabará esta história como todas as outras? Comigo, deitada, desiludida, e, acima de tudo e de todos, sozinha. Poderá um conto de fadas terminar assim? Poderá este conto de fadas terminar assim?... Será que me enganei quando defini outro futuro para mim? Enganei-me quando vi um futuro? Será que depois de todo este tempo e depois de toda esta luta, o fim vai ser o mesmo? Deixando-me apenas com mais memórias para apagar? Será que alguma vez posso sair deste ciclo sem fim? Será que vou perder outra vez, apesar de ter lutado, contra o tempo, a distância e contra mim própria? Será que depois disto tudo vou acabar exatamente onde comecei? Passaram demasiados anos, não saberei voltar. Doeu demasiado, vai doer demasiado. Já não sou a pessoa que era, perdi pedaços entretanto e para voltar àquele momento teria não só de ser inteira, como teria de sobrar, mais do que preencher. Teri...

Paranóia

Quando é que tudo se tornou tão real? Quando é que fiquei tão lúcida? Quando é que deixei de saber tudo, de ver tudo, de perceber tudo? Quando é que me tornei um peão na minha própria vida, deixando-me ficar apenas a ver? Para onde foi a estabilidade? Para onde foram os pensamentos cinzentos em dias aborrecidos, sempre iguais? Para onde foram os dias irrelevantes, sem preocupações para além de acordar no dia seguinte e fazer tudo de novo? Tudo parece demasiado mudado, demasiado cheio e vazio. Já não sei a que me agarrar. Já não existem constantes. Já nada na minha vida é constante ou perpetuamente aborrecido. Parece que a cada semana vem um novo desafio, uma nova montanha. E eu dou por mim já demasiado cansada e extenuada para continuar. Dou por mim sem conseguir desligar, sem me conseguir esquecer. Tudo é uma presença ubíqua na minha mente. Ser pessimista fazia-me melhor à saúde. A partir do momento em que passei a ter esperança, passei a morrer aos bocados. Cada lasca nos ...

Divagações de uma Ex-cética

As comédias românticas dizem-nos que o amor é complicado. Que é sujo, que dói, que é suposto ser pouco saudável, agressivo e que deve marcar-nos para toda a vida, como se nunca mais se pudesse amar mais nada ou ninguém da mesma maneira. Como se não fossemos todos apenas mais um nome numa longa lista de nomes escritos num papel cuspido de dor, mágoa, desilusão e arrependimento. Como se não fôssemos todos meramente alguém de que outra pessoa se lembrou e se esqueceu num abrir e fechar de olhos. Costumava magoar-me tremendamente esta realidade. Para pessoas com ideias irrealistas de grandeza é difícil ser-se apenas um nome num papel. É difícil imaginar que alguém consiga ultrapassar-nos, ou até nem sequer nos ver, ou pelo menos não reparar. Custa que alguém que imaginávamos que estava ao nosso serviço e dispor vire as costas um dia sem aviso, sem querer saber se o vemos a sair da nossa vida. Nunca achei que pudesse ser apenas um nome numa lista de arrependimento e de desprezo. Um nome...

Catarse

Não há como saber o que o futuro nos traz. Pode ser extrema felicidade ou sofrimento desesperado. Provavelmente ambos e nunca nenhum. Não há como controlar o futuro. Não há como agarrarmos o nosso peito e lhe dizermos para sobreviver à dor e à desgraça, não há como obrigarmo-nos a avançar. Vamos todos invariavelmente morrer. Mas não sabemos quando, como ou onde. Não sabemos se teremos dito e feito tudo, mas sabemos que o mais provável é que morramos a meio de uma frase, frase essa inútil e extremamente irrelevante, metáfora perfeita para a nossa existência. Eu sempre imaginei os piores cenários. Em todas as situações de toda uma vida. Ser pessimista não é só uma escolha, é acima de tudo uma reação do instinto de sobrevivência. Se imaginarmos todas as hipóteses possíveis, o sofrimento será sempre inferior ao que poderia ser, porque ao menos nós sabíamos que ele aí vinha. Não morreremos dissolvidos em autocomiseração e dor, embora tenhamos de suportar os dois. Sobreviveremos. Passam...

Regresso

Nos últimos dias senti-me dentro da minha pele. Pela primeira vez em tanto tempo que nem consigo contar. Senti-me fria, vazia, impassível. Acima de tudo, senti-me calma. Senti como se o mundo tivesse finalmente parado de correr e eu pudesse finalmente aproveitá-lo. Já não sinto como se a minha vida me escorresse por entre os dedos e que estes eram os anos para morrer antes de renascer, que eu bloquearia e de que nunca me lembraria de novo na minha vida. Talvez tenha estado enganada. Apesar de tudo, sinto as mudanças. Sinto-as na minha muito maior sensibilidade e compreensão de dores alheias, sinto-as no aumento ligeiro da minha paciência, sinto-as no amor profundo que espero que nunca passe. Já não me sinto a definhar lentamente. O cansaço existencial mantém-se, e a absoluta noção de que não existe felicidade por inteiro também. Já não vivo descuidada. Diz a pessoa que sempre teve as maiores defesas deste planeta. Mas era ingénua. Acreditava numa vida que eu controlava, acreditava...

Esquecimento

Passei uma vida sem sentir. Não atribuo a isso nenhum pendor negativo ou positivo, é apenas um facto. E acho que vivi uma vida feliz, portanto, chego à conclusão que a falta de sentimentos é a tão apregoada felicidade. O simples conforto, sem mais nem menos, sem dor por excesso ou falta, é a felicidade. Passei uma vida a enterrar os apertos do meu coração em palavras, imagens e sons. Sempre que sentia o mínimo desconforto tentava entrar no estado mais vegetativo possível, à espera que esse desconforto fosse lavado pela minha racionalidade, assim que a minha cabeça arrefecesse, assim que o meu cérebro se lembrasse de quem eu era, e de que me recusava a existir enquanto ser humano sentimental. Raramente me permitia a realmente sentir. Até porque quando me permitia, não sentia. As dores a que eu me permitia eram imaginadas por mim, manipuladas por mim, ao tentarem representar aquilo que sentia quando a dor era verdadeira. Mas quando a dor é verdadeira não consigo escrever, ou pensar,...