Divagações de uma Ex-cética
As comédias românticas dizem-nos que o amor é complicado.
Que é sujo, que dói, que é suposto ser pouco saudável, agressivo e que deve marcar-nos para toda a vida, como se nunca mais se pudesse amar mais nada ou ninguém da mesma maneira.
Como se não fossemos todos apenas mais um nome numa longa lista de nomes escritos num papel cuspido de dor, mágoa, desilusão e arrependimento. Como se não fôssemos todos meramente alguém de que outra pessoa se lembrou e se esqueceu num abrir e fechar de olhos.
Costumava magoar-me tremendamente esta realidade. Para pessoas com ideias irrealistas de grandeza é difícil ser-se apenas um nome num papel. É difícil imaginar que alguém consiga ultrapassar-nos, ou até nem sequer nos ver, ou pelo menos não reparar. Custa que alguém que imaginávamos que estava ao nosso serviço e dispor vire as costas um dia sem aviso, sem querer saber se o vemos a sair da nossa vida.
Nunca achei que pudesse ser apenas um nome numa lista de arrependimento e de desprezo. Um nome dito com indiferença, um rosto para que o novo nome olha com superioridade, uma pessoa esquecida numa memória mergulhada de pessoas.
Mas é isso que todos somos, a certa altura. Ou talvez toda a vida.
Por muito que doa, somos tão imemoráveis como dias de vento em terras montanhosas. Irrelevantes e indiferentes para a maior parte das pessoas que passam pela nossa vida. E para aquelas que não o somos, seremos. Haverá algumas exceções, mas não mais do que o mínimo possível.
O amor sempre se me afigurou como nada complicado. Aliás, parecia a equação mais simples de sempre. Encontro, atração física, vida conjunta, problemas, separação. Depois da separação é que tudo se tornava complicado. Porque depois vem o esquecimento. E eu simplesmente não queria ser esquecida. Porque eu não me conseguia esquecer, ultrapassar, portanto, não imaginava como outra pessoa o poderia fazer.
Provocava-me uma completa sensação de desilusão a ideia de que era apenas um nome. Sempre fui apenas um nome ligado a um corpo, a um rosto e a uma personalidade, todos irrelevantes.
Mas as comédias românticas, e todos os filmes de romance em geral, representavam amores em que ninguém se esquecia. Por 50 anos, permaneciam-se memórias difusas de amores de infância, amores imortais e amores trágicos. Como se com a memória não viesse o esquecimento, e com o esquecimento não viesse o fim do amor.
O amor morre com a memória. Isso apesar de me ter parecido óbvio, visto que o amor se liga ao cérebro falível, não ao coração romantizado, parecia-me extremamente cruel. Eu era alguém, e não queria ser esquecida.
Mas depois percebi o conforto que vem com o esquecimento. Eu passava a ser só mais uma pessoa, ninguém de importância, o meu histórico era apagado da memória alheia, eu era só um rosto no comboio, um corpo nas ruas, no máximo um nome. A única pessoa que me conhecia era eu, de resto eu não era mais do que uma palavra que me deram quando abri os olhos pela primeira vez.
Eu nunca tinha amado porque não me lembrava de amar. Nunca ninguém me havia amado porque quem quer que o tivesse feito não se lembrava.
Até que um dia deixei de me poder esconder no esquecimento. O esquecimento após ajuda com memórias, não com a realidade. Dei por mim num amor nada complicado. Mas não era não complicado pelas razões indiferentes e minimalistas com que eu o descrevia antes. Era não complicado porque era puro, respeitador, simples, e indolor.
Já sabia que os filmes estavam errados, no que tocava à complexidade do amor, mas descobri que estavam também errados quanto à sua natureza.
Há, de facto, amores complicados, sujos e dolorosos. Mas não este. Existem amores agressivos, abusivos, desrespeitadores e que nos deixam sem ar. Mas não este. O amor nunca foi complicado, mas também nunca foi sujo. Pelo menos não o amor certo. Não este amor. Este amor é tão puro quanto pode ser.
Chego portanto à conclusão que as senhoras dos filmes que procuraram o Sr. Certo toda a duração do filme, na verdade procuravam o Sr. Errado. Porque o Sr. Certo nunca estaria do outro lado do mundo, mas apenas e da forma menos suja e complicada possível, ao lado delas.
Dei, por mim, de novo, aterrorizada com a ideia de ser apenas mais um nome numa lista. Mas desta vez na lista de alguém que eu sei ser o único nome escrito em todos os papéis que eu possa ter. O único e o último. Aterrorizada com a ideia de me tornar apenas um rosto e um nome para uma pessoa cujo corpo, mente, palavras e rosto eu terei sempre marcadas a ferro no meu cérebro, corpo e coração.
Antes era a dor, a desilusão e o orgulho ferido que a ideia me provocava, agora é o absoluto terror, não só de ser esquecida, mas de ser deixada, não pelo simples facto, não pela simples humilhação, mas pelo facto de que parte de mim teria também virado as costas. Uma pessoa tão fragmentada como eu não se pode dar ao luxo de se partir dessa forma.
Que é sujo, que dói, que é suposto ser pouco saudável, agressivo e que deve marcar-nos para toda a vida, como se nunca mais se pudesse amar mais nada ou ninguém da mesma maneira.
Como se não fossemos todos apenas mais um nome numa longa lista de nomes escritos num papel cuspido de dor, mágoa, desilusão e arrependimento. Como se não fôssemos todos meramente alguém de que outra pessoa se lembrou e se esqueceu num abrir e fechar de olhos.
Costumava magoar-me tremendamente esta realidade. Para pessoas com ideias irrealistas de grandeza é difícil ser-se apenas um nome num papel. É difícil imaginar que alguém consiga ultrapassar-nos, ou até nem sequer nos ver, ou pelo menos não reparar. Custa que alguém que imaginávamos que estava ao nosso serviço e dispor vire as costas um dia sem aviso, sem querer saber se o vemos a sair da nossa vida.
Nunca achei que pudesse ser apenas um nome numa lista de arrependimento e de desprezo. Um nome dito com indiferença, um rosto para que o novo nome olha com superioridade, uma pessoa esquecida numa memória mergulhada de pessoas.
Mas é isso que todos somos, a certa altura. Ou talvez toda a vida.
Por muito que doa, somos tão imemoráveis como dias de vento em terras montanhosas. Irrelevantes e indiferentes para a maior parte das pessoas que passam pela nossa vida. E para aquelas que não o somos, seremos. Haverá algumas exceções, mas não mais do que o mínimo possível.
O amor sempre se me afigurou como nada complicado. Aliás, parecia a equação mais simples de sempre. Encontro, atração física, vida conjunta, problemas, separação. Depois da separação é que tudo se tornava complicado. Porque depois vem o esquecimento. E eu simplesmente não queria ser esquecida. Porque eu não me conseguia esquecer, ultrapassar, portanto, não imaginava como outra pessoa o poderia fazer.
Provocava-me uma completa sensação de desilusão a ideia de que era apenas um nome. Sempre fui apenas um nome ligado a um corpo, a um rosto e a uma personalidade, todos irrelevantes.
Mas as comédias românticas, e todos os filmes de romance em geral, representavam amores em que ninguém se esquecia. Por 50 anos, permaneciam-se memórias difusas de amores de infância, amores imortais e amores trágicos. Como se com a memória não viesse o esquecimento, e com o esquecimento não viesse o fim do amor.
O amor morre com a memória. Isso apesar de me ter parecido óbvio, visto que o amor se liga ao cérebro falível, não ao coração romantizado, parecia-me extremamente cruel. Eu era alguém, e não queria ser esquecida.
Mas depois percebi o conforto que vem com o esquecimento. Eu passava a ser só mais uma pessoa, ninguém de importância, o meu histórico era apagado da memória alheia, eu era só um rosto no comboio, um corpo nas ruas, no máximo um nome. A única pessoa que me conhecia era eu, de resto eu não era mais do que uma palavra que me deram quando abri os olhos pela primeira vez.
Eu nunca tinha amado porque não me lembrava de amar. Nunca ninguém me havia amado porque quem quer que o tivesse feito não se lembrava.
Até que um dia deixei de me poder esconder no esquecimento. O esquecimento após ajuda com memórias, não com a realidade. Dei por mim num amor nada complicado. Mas não era não complicado pelas razões indiferentes e minimalistas com que eu o descrevia antes. Era não complicado porque era puro, respeitador, simples, e indolor.
Já sabia que os filmes estavam errados, no que tocava à complexidade do amor, mas descobri que estavam também errados quanto à sua natureza.
Há, de facto, amores complicados, sujos e dolorosos. Mas não este. Existem amores agressivos, abusivos, desrespeitadores e que nos deixam sem ar. Mas não este. O amor nunca foi complicado, mas também nunca foi sujo. Pelo menos não o amor certo. Não este amor. Este amor é tão puro quanto pode ser.
Chego portanto à conclusão que as senhoras dos filmes que procuraram o Sr. Certo toda a duração do filme, na verdade procuravam o Sr. Errado. Porque o Sr. Certo nunca estaria do outro lado do mundo, mas apenas e da forma menos suja e complicada possível, ao lado delas.
Dei, por mim, de novo, aterrorizada com a ideia de ser apenas mais um nome numa lista. Mas desta vez na lista de alguém que eu sei ser o único nome escrito em todos os papéis que eu possa ter. O único e o último. Aterrorizada com a ideia de me tornar apenas um rosto e um nome para uma pessoa cujo corpo, mente, palavras e rosto eu terei sempre marcadas a ferro no meu cérebro, corpo e coração.
Antes era a dor, a desilusão e o orgulho ferido que a ideia me provocava, agora é o absoluto terror, não só de ser esquecida, mas de ser deixada, não pelo simples facto, não pela simples humilhação, mas pelo facto de que parte de mim teria também virado as costas. Uma pessoa tão fragmentada como eu não se pode dar ao luxo de se partir dessa forma.
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