Ciúmes cegos (?)
As minhas mãos tremem. A minha cabeça entra na espiral sem fim já tão minha conhecida. Não há como sair dela, apenas com o tempo, apenas com distrações.
Pergunto-me se não estarei em muitos maiores sarilhos do que aqueles em que me permito pensar... Mas a minha mente bloqueia-me essa ideia, sabendo que enlouquecerei se começar a pensar nisso, sabendo que esse é um assunto demasiado sério.
Portanto, concentro-me no quão zangada estou. Concentro-me no bater ímpar do meu coração, em vez de pensar na sensação que me queima por dentro.
Estou furiosa, e, por alguma razão sinto-me traída. Traída por mim própria e pela minha imaginação, é claro, mas traída.
Já vivi esta história demasiadas vezes, sei como acaba, sei como me deixa. Sei também que me tinha prometido morrer antes de a voltar a viver. E recuso-me a voltar a vivê-la, recuso ver-me a cair de novo noutra situação do género.
Parte de mim tem vontade de simplesmente ir. Ir, para qualquer lado, desde que longe. Nunca mais voltar. Simplesmente fugir das minhas responsabilidades, quaisquer que elas sejam. Deixar tudo para trás. Não ter que saber mais.
Por outro lado, é irracional, e estúpido, acima de tudo, pensar assim. Preciso de apenas respirar fundo e avançar. Posso sentar-me a moer no assunto ou posso esquecê-lo e avançar. Posso tentar fingir que não vejo, sorrir quando ele fala sobre o assunto, e pensar noutra coisa. Posso engolir toda esta raiva, esta tristeza e toda esta sensação de déja vu.
Com um pouco de esforço, posso-me esquecer de tudo isto. Tentando pensar racionalmente, tentando fazer o mesmo, possivelmente.
Ou será que não? Já ando a tentar fazê-lo há meses e não parece estar a melhorar.
Partir seria muito mais simples. Mas muito mais doloroso. Talvez, quem sabe.
Talvez precise de tempo para mim. Entre o atafulhanço no trabalho e esta situação, já não me lembro da última vez que realmente me olhei ao espelho. Que reparei nas manchas que aparecem ou não, nos pormenores que desaparecem ou não. A minha incomparável autoestima parece ter desaparecido, não porque diminui, mas porque me esqueci dela.
E não acredito nas palavras que lhe saem da boca, por alguma razão. Mas acredito cada vez mais nas que digo. Nas que afirmo fraqueza e excesso de olhos. E confirmo-o sempre que os olhos dele brilham de novo. E confirmo-o sempre que ele abre a boca.
E deixo-me cair na mesma situação de sempre. Acredito quase piamente que fui amaldiçoada. E, desta vez, pela última vez, não será diferente. Depois desta vez, não há mais, nunca mais. Depois desta vez eu concentro-me em mim, para o resto da minha vida. Depois desta vez, caso-me com a solidão e morrerei sozinha e velha, com a vida que consegui fazer.
Morrerei sempre com a mente nas palavras que lhe disse pela primeira vez e última vez, quando ele disse que me amava pela primeira de muitas e muitas vezes. Palavras que eu na altura via como um aviso para mim própria, mas que cedo percebi que eram apenas uma mera constatação de um facto, apenas uma promessa feita por outra pessoa a mim mesma:
"Vais destruir-me".
Mas não. Porque não existem provas. Aliás, não existe mais do que os meus delírios de mulher louca, de menina magoada, e de pessoa completamente perdida.
Porque não consigo confiar em ninguém? Toda a gente que me conhece mais intimamente localizaria um momento exato que levou a que a minha confiança ficasse cercada por um muro impenetrável. Mas eles estão errados. Eu nunca confiei em ninguém.
Antes eu apenas não queria saber, e porque não acreditava que fosse possível, não porque confiasse noutras pessoas, mas porque confiava demais em mim. Os anos fizeram-me apenas perceber que eu não sou indestrutível. E, além disso, e pior de tudo: desta vez eu quero saber. Demais, seria possível dizer.
E se a minha maldição não se concretizar, vai ser isto que me vai destruir. Que nos vai destruir.
Portanto, e de todas as vezes, recolho-me após ter remoído e sofrido o suficiente por antecipação de uma separação brusca e que neste momento seria infundada. Limpo a maquilhagem que possivelmente escorreu pela minha cara, distraio-me com qualquer tarefa.
E quando ele voltar, estarei de sorriso posto e olhos brilhantes. Ou tentarei pelo menos.
Pergunto-me se não estarei em muitos maiores sarilhos do que aqueles em que me permito pensar... Mas a minha mente bloqueia-me essa ideia, sabendo que enlouquecerei se começar a pensar nisso, sabendo que esse é um assunto demasiado sério.
Portanto, concentro-me no quão zangada estou. Concentro-me no bater ímpar do meu coração, em vez de pensar na sensação que me queima por dentro.
Estou furiosa, e, por alguma razão sinto-me traída. Traída por mim própria e pela minha imaginação, é claro, mas traída.
Já vivi esta história demasiadas vezes, sei como acaba, sei como me deixa. Sei também que me tinha prometido morrer antes de a voltar a viver. E recuso-me a voltar a vivê-la, recuso ver-me a cair de novo noutra situação do género.
Parte de mim tem vontade de simplesmente ir. Ir, para qualquer lado, desde que longe. Nunca mais voltar. Simplesmente fugir das minhas responsabilidades, quaisquer que elas sejam. Deixar tudo para trás. Não ter que saber mais.
Por outro lado, é irracional, e estúpido, acima de tudo, pensar assim. Preciso de apenas respirar fundo e avançar. Posso sentar-me a moer no assunto ou posso esquecê-lo e avançar. Posso tentar fingir que não vejo, sorrir quando ele fala sobre o assunto, e pensar noutra coisa. Posso engolir toda esta raiva, esta tristeza e toda esta sensação de déja vu.
Com um pouco de esforço, posso-me esquecer de tudo isto. Tentando pensar racionalmente, tentando fazer o mesmo, possivelmente.
Ou será que não? Já ando a tentar fazê-lo há meses e não parece estar a melhorar.
Partir seria muito mais simples. Mas muito mais doloroso. Talvez, quem sabe.
Talvez precise de tempo para mim. Entre o atafulhanço no trabalho e esta situação, já não me lembro da última vez que realmente me olhei ao espelho. Que reparei nas manchas que aparecem ou não, nos pormenores que desaparecem ou não. A minha incomparável autoestima parece ter desaparecido, não porque diminui, mas porque me esqueci dela.
E não acredito nas palavras que lhe saem da boca, por alguma razão. Mas acredito cada vez mais nas que digo. Nas que afirmo fraqueza e excesso de olhos. E confirmo-o sempre que os olhos dele brilham de novo. E confirmo-o sempre que ele abre a boca.
E deixo-me cair na mesma situação de sempre. Acredito quase piamente que fui amaldiçoada. E, desta vez, pela última vez, não será diferente. Depois desta vez, não há mais, nunca mais. Depois desta vez eu concentro-me em mim, para o resto da minha vida. Depois desta vez, caso-me com a solidão e morrerei sozinha e velha, com a vida que consegui fazer.
Morrerei sempre com a mente nas palavras que lhe disse pela primeira vez e última vez, quando ele disse que me amava pela primeira de muitas e muitas vezes. Palavras que eu na altura via como um aviso para mim própria, mas que cedo percebi que eram apenas uma mera constatação de um facto, apenas uma promessa feita por outra pessoa a mim mesma:
"Vais destruir-me".
Mas não. Porque não existem provas. Aliás, não existe mais do que os meus delírios de mulher louca, de menina magoada, e de pessoa completamente perdida.
Porque não consigo confiar em ninguém? Toda a gente que me conhece mais intimamente localizaria um momento exato que levou a que a minha confiança ficasse cercada por um muro impenetrável. Mas eles estão errados. Eu nunca confiei em ninguém.
Antes eu apenas não queria saber, e porque não acreditava que fosse possível, não porque confiasse noutras pessoas, mas porque confiava demais em mim. Os anos fizeram-me apenas perceber que eu não sou indestrutível. E, além disso, e pior de tudo: desta vez eu quero saber. Demais, seria possível dizer.
E se a minha maldição não se concretizar, vai ser isto que me vai destruir. Que nos vai destruir.
Portanto, e de todas as vezes, recolho-me após ter remoído e sofrido o suficiente por antecipação de uma separação brusca e que neste momento seria infundada. Limpo a maquilhagem que possivelmente escorreu pela minha cara, distraio-me com qualquer tarefa.
E quando ele voltar, estarei de sorriso posto e olhos brilhantes. Ou tentarei pelo menos.
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