''When you feel a feeling that you never felt before''
O cheiro é inebriante. Sei que se prolonga na minha camisola, no meu cabelo, nas minhas mãos. Que mais tarde ou o farei desaparecer ou o aproveitarei, inalando-o outra vez, sentindo tudo de novo.
A minha pele está toda arrepiada, lenta, suave. Os meus músculos ficam moles, como se não aguentassem o peso do meu corpo, como se precisassem de apoio, de suporte. Felizmente eu tenho apoio.
Estou subitamente cega. Não porque literalmente deixe de ver, mas deixo de figurativamente ver. Os meus olhos estão baços e veem muito além daquelas paredes ruídas, muito além daquelas cores de verão e outono, misturadas numa orgia maravilhosa. Os meus ouvidos ouvem muito além daqueles sons da natureza, tão simples, tão fáceis.
A minha respiração fica difícil, lenta. Torno-me, de repente, impossível de suportar sozinha. Não me consigo sequer mexer, as minhas reações usuais, extremamente reativas, desaparecem. E eu já não sou eu, o mundo já não é o mundo.
Até que por fim, aquela tortura tão deliciosa, pára. E eu torno-me racional de novo, fria outra vez. Fito os olhos verdes dele, encharcados de triunfo, e não sei, honestamente não sei, se o hei de odiar ou seja qual for a alternativa. Fito-o até me decidir. Em geral acabo por lhe sorrir, a espécie de alegria ganha ao desprezo.
Volto a fixar aquelas paredes ainda ruídas, agora caiadas e disfarçadas. Parecidas comigo, pensei de repente. E ri-me para o vazio, apercebendo-me da tão acertada comparação. Os olhos verdes estavam cravados em mim, curiosos, infinitos. Volto a fitá-los, de sorriso carregado de ternura.
Não há outra palavra para os olhos dele que não seja o infinito, que não seja o impossível, que não seja o imperdoável, que não seja a diferença. Poços sem fim nos quais eu me decidi a nunca mergulhar. Sabia que se lhe dissesse isto lhe agradaria e desagradaria mais do que eu alguma vez o quero agradar ou desagradar, portanto fiz um nó na minha garganta e voltei a mergulhar-me nos meus pensamentos, voltei àquelas paredes anteriormente ruídas, continuamente ruídas.
Lembro-me como se fosse ontem de quando essas paredes não estavam disfarçadas de tinta branca, não passando de borrões, de rascunhos antigos e inimagináveis. Lembro-me também dos outros olhos que eu tinha ao meu lado, raiados de todas as cores que existem, que me fitavam e me sorriam, bem como os que estavam ao meu lado nesse momento. Lembro-me das mãos que me passavam pela cintura e pelas pernas, grandes, cheias, ásperas do trabalho, rudes, expectantes e surpreendemente carinhosas. Exatamente como as que jaziam no meu colo nesse momento, que eu acariciava com insistência.
Lembro-me do ar frio que se respirava, obrigando-nos a não nos afastarmos, a cedermos à tentação e ao desespero que tínhamos um pelo outro. Condições tão adversas às presentes.
Não me consigo impedir de fazer comparações, por mais medíocre e injusto que considere que isso seja. Há tanta coisa igual que quase que sou obrigada a fazê-lo.
Mas há diferenças, claro que existem diferenças, senão eu viveria um ciclo sem fim da mesma ignorância, da mesma imprudência.
A primeira diferença é que na altura eu sabia exatamente como me sentia, como me ia sentir, como me sentira. Sabia exatamente quando me despenhava e quando me elevava. Foi, apesar de previsível, o sentimento mais diferente que eu já tive, cheio de altos e baixos, pondo o amor em papel secundário e tudo o resto em destaque. Entusiasmava-me e dava cabo de mim ao mesmo tempo. No fim acabou simplesmente por me engolir viva. Da maneira mais diferente que já existiu.
Agora, porém, eu estou absolutamente na escuridão. Aqueles olhos verdes são causadores de raiva e ternura, de carinho e violência, de sussurros e gritos. Não sei nada, não sei que dizer, que fazer. Estou simplesmente desarrumada, ele deixa-me simplesmente desarrumada, longe de qualquer sentimento e mais perto que nunca ao mesmo tempo.
Só suspiro, parece impossível, parece recorde!
Baseia-se tudo num grande ''não sei'' que ele, com o seu sorriso de triunfo e arrogância, responde com um determinado ''mas eu sei'' que apenas quer afirmar que ganhou. Que me ganhou.
Há ainda outra diferença. Os olhos infinitos estão aqui. Os outros desapareceram, esmoreceram. Podem estar a milhares de quilómetros ou ali perto, a diferença não é muita, estariam distantes na mesma. E eu estaria à espera de me cruzar com eles de qualquer das maneiras.
Portanto não importa, não importa se eu não sei, se não quero saber. Não importa se nunca senti esta sensação agridoce, se nunca senti isto. Não é o mesmo, eu sei que não é o mesmo. Talvez nunca será o mesmo. Supostamente a ideia é mesmo essa.
Mas não importa.
Tudo o que importa é que os olhos verdes que tanto anseiam por me reclamar, por me pertencer, estão aqui. E isso, para já e provavelmente por algum tempo, é suficiente.
A minha pele está toda arrepiada, lenta, suave. Os meus músculos ficam moles, como se não aguentassem o peso do meu corpo, como se precisassem de apoio, de suporte. Felizmente eu tenho apoio.
Estou subitamente cega. Não porque literalmente deixe de ver, mas deixo de figurativamente ver. Os meus olhos estão baços e veem muito além daquelas paredes ruídas, muito além daquelas cores de verão e outono, misturadas numa orgia maravilhosa. Os meus ouvidos ouvem muito além daqueles sons da natureza, tão simples, tão fáceis.
A minha respiração fica difícil, lenta. Torno-me, de repente, impossível de suportar sozinha. Não me consigo sequer mexer, as minhas reações usuais, extremamente reativas, desaparecem. E eu já não sou eu, o mundo já não é o mundo.
Até que por fim, aquela tortura tão deliciosa, pára. E eu torno-me racional de novo, fria outra vez. Fito os olhos verdes dele, encharcados de triunfo, e não sei, honestamente não sei, se o hei de odiar ou seja qual for a alternativa. Fito-o até me decidir. Em geral acabo por lhe sorrir, a espécie de alegria ganha ao desprezo.
Volto a fixar aquelas paredes ainda ruídas, agora caiadas e disfarçadas. Parecidas comigo, pensei de repente. E ri-me para o vazio, apercebendo-me da tão acertada comparação. Os olhos verdes estavam cravados em mim, curiosos, infinitos. Volto a fitá-los, de sorriso carregado de ternura.
Não há outra palavra para os olhos dele que não seja o infinito, que não seja o impossível, que não seja o imperdoável, que não seja a diferença. Poços sem fim nos quais eu me decidi a nunca mergulhar. Sabia que se lhe dissesse isto lhe agradaria e desagradaria mais do que eu alguma vez o quero agradar ou desagradar, portanto fiz um nó na minha garganta e voltei a mergulhar-me nos meus pensamentos, voltei àquelas paredes anteriormente ruídas, continuamente ruídas.
Lembro-me como se fosse ontem de quando essas paredes não estavam disfarçadas de tinta branca, não passando de borrões, de rascunhos antigos e inimagináveis. Lembro-me também dos outros olhos que eu tinha ao meu lado, raiados de todas as cores que existem, que me fitavam e me sorriam, bem como os que estavam ao meu lado nesse momento. Lembro-me das mãos que me passavam pela cintura e pelas pernas, grandes, cheias, ásperas do trabalho, rudes, expectantes e surpreendemente carinhosas. Exatamente como as que jaziam no meu colo nesse momento, que eu acariciava com insistência.
Lembro-me do ar frio que se respirava, obrigando-nos a não nos afastarmos, a cedermos à tentação e ao desespero que tínhamos um pelo outro. Condições tão adversas às presentes.
Não me consigo impedir de fazer comparações, por mais medíocre e injusto que considere que isso seja. Há tanta coisa igual que quase que sou obrigada a fazê-lo.
Mas há diferenças, claro que existem diferenças, senão eu viveria um ciclo sem fim da mesma ignorância, da mesma imprudência.
A primeira diferença é que na altura eu sabia exatamente como me sentia, como me ia sentir, como me sentira. Sabia exatamente quando me despenhava e quando me elevava. Foi, apesar de previsível, o sentimento mais diferente que eu já tive, cheio de altos e baixos, pondo o amor em papel secundário e tudo o resto em destaque. Entusiasmava-me e dava cabo de mim ao mesmo tempo. No fim acabou simplesmente por me engolir viva. Da maneira mais diferente que já existiu.
Agora, porém, eu estou absolutamente na escuridão. Aqueles olhos verdes são causadores de raiva e ternura, de carinho e violência, de sussurros e gritos. Não sei nada, não sei que dizer, que fazer. Estou simplesmente desarrumada, ele deixa-me simplesmente desarrumada, longe de qualquer sentimento e mais perto que nunca ao mesmo tempo.
Só suspiro, parece impossível, parece recorde!
Baseia-se tudo num grande ''não sei'' que ele, com o seu sorriso de triunfo e arrogância, responde com um determinado ''mas eu sei'' que apenas quer afirmar que ganhou. Que me ganhou.
Há ainda outra diferença. Os olhos infinitos estão aqui. Os outros desapareceram, esmoreceram. Podem estar a milhares de quilómetros ou ali perto, a diferença não é muita, estariam distantes na mesma. E eu estaria à espera de me cruzar com eles de qualquer das maneiras.
Portanto não importa, não importa se eu não sei, se não quero saber. Não importa se nunca senti esta sensação agridoce, se nunca senti isto. Não é o mesmo, eu sei que não é o mesmo. Talvez nunca será o mesmo. Supostamente a ideia é mesmo essa.
Mas não importa.
Tudo o que importa é que os olhos verdes que tanto anseiam por me reclamar, por me pertencer, estão aqui. E isso, para já e provavelmente por algum tempo, é suficiente.
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