De setembro de 2012 a setembro de 2013...

Estava a ler tudo o que escrevi desde aquela desastrosa noite há tantas noites atrás. Li cada pensamento magoado e destroçado, cada palavra carregada de saudade e desprezo, de desassossego e insónia. Li o suficiente sobre essa rapariguinha mudada, ingénua, completamente inocente e sem noção. Sobre as esperanças dela, as dores, as torturas.
Essa rapariguinha tinha desaparecido. No lugar dela ficava uma mulher, ácida e independente, feliz e sóbria. Não significa que aquilo que me aterrorizou naquela noite desapareceu, está ainda bem presente, bem expectante. Mas já não daquela maneira tortuosa, que me trazia o pânico ao peito, que me impossibilitava a respiração, que me inundava em mágoa e mágoa, tão antiga e tão inútil.
Ainda passo o dia a encher-me de memórias. Qualquer coisa me traz uma nova memória, seja o dia, seja o mês, seja a hora, seja o lugar, seja uma qualquer palavra. Ainda o espero encontrar em todos os cantos, a cada segundo, a todos os segundos. Ainda o procuro, o que é mais grave. Ainda o vejo em expressões familiares, em gestos familiares, em rostos familiares. A diferença é que agora já nada disso é uma poça de tristeza. É só um conjunto de recordações felizes que parecem muito mais recentes do que de facto são.
Em cada dia faz um ano de alguma coisa, alguma memória solta. E a cada dia eu me pergunto como seria se eu, há 1 ano, tivesse sabido. Se eu tivesse sabido que um ano depois eu seria só uma mulher nostálgica.
Tenho a certeza que me teria agradado. Se havia algo que eu há um ano queria tão desesperadamente era liberdade. E agora, estou finalmente cheia dela. Portanto, se eu soubesse, estaria agradecida, feliz, realizada.
Daqui a uns dias fará um ano. Fará um ano daquela tarde quente de fim de verão, no último dia de verão, em que eu acenei com a cabeça para responder a uma pergunta que já andava entranhada há muito tempo na garganta de quem ma fez. E esse simples acenar mudou tudo. Eu ainda  não o sabia na altura, estava simplesmente chocada com o acontecimento, mas sei-o agora.
Não quero que tão cedo haja uma ocorrência dessas. Quero aproveitar finalmente a liberdade que sempre quis, sem problemas ou obstáculos. Espero que seja uma experiência doce e leve e não amarga e solitária. Espero que seja o suficiente para apagar de vez as memórias e a pessoa inerente a elas. Espero que signifique novos começos, diferentes e fáceis.
Até lá estarei à espera, livre finalmente, feliz.

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