60 segundos

Parece-me que acabou para mim. Que passei o ponto em que posso ser salva, em que me consigo recuperar.
Digo isto, meus leitores, com um sorriso no rosto. Parece-me também que não quero ser salva. Que quero agarrar-me aos meus pensamentos e viver neles.
Sinceramente, quando não sentia nada era assustador. Parecia que tudo dentro de mim se tinha fechado e desmoronado, que as minhas oportunidades tinham acabado e que já não havia mais nada para mim. Assim, pelo menos, ainda tenho sobre que escrever, sobre que sonhar, sobre que enlouquecer. E eu sempre me preferi louca. Louca sou mais humana e não um autómato arrogante. Louca ainda tenho esperança. Esperança de me recuperar, de recuperar o meu espírito, o meu orgulho. Louca ainda sou nova. A loucura deixa-me ser jovem. Louca não sou infeliz. Não posso ser infeliz, vivo nas minhas ilusões. E as minhas ilusões só não são contos de fada porque não há ''e viveram felizes para sempre''. Não estou totalmente insana.
Não há forma de me salvar. Só o tempo. E o tempo é lento. Costumava ser rápido, quando nenhuma medida de tempo era suficiente para tudo o que eu queria fazer. As horas transformavam-se em minutos. A vida eram 60 segundos. Agora cada hora parece dias. Cada hora é mais uma hora de auto-tortura. E tal como eu disse, já nem me importo. Até gosto, gosto de me lembrar de tudo, gosto que cada memória, que cada nota seja como um ferro quente na minha pele.
Isto tornou-se demasiado físico, demasiado patético. Estou farta de já nem estar farta. Estou farta de estar simplesmente sentada a fartar-me de mim própria.
E é isto, meus amigos. A vida são 60 segundos. É melhor não pormos esses nossos 60 segundos nas mãos de outra pessoa. Senão depois surpreendemo-nos fartos de nós próprios e muito além de qualquer salvação possível.

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