Onde estás?...

Onde estás?
Porque fugiste desta terra que cheira a mar, a qual as ondas arranham com força? Porque escapaste desta região com coração de ouro, onde os olhos são de cores de terra e o mar ruge o azul mais profundo?
Encontraste refúgio entre as flores toscanas? Escondeste-te na festividade flamenca? Encontraste o que procuravas na beleza morena das cidades rodopiantes, fluentes na língua nasalada, na brutalidade ansiã?
E porque o fizeste? Em busca de esperança? Em fuga das trivialidades do quotidiano? Em busca de refúgio de todos os teus demónios?
Esperavas que, ao fugires, os teus problemas ficassem aqui? Esperavas que, ao fugires, já não sangrasses com a desilusão? Esperavas que a saudade te devolvesse a lucidez, pelo menos em parte?
Esperavas que o estrangeiro te clareasse as ideias, te devolvesse a perspetiva? Que te adotasse?
Esperavas adaptar-te e nunca mais teres de voltar?
Esperavas recomeçar?
Encontraste tudo o que procuravas?
Lamento se o território da nobreza e da valentia imortais te deixaram a ansiar por mais. E espero, de facto, que descubras o que quer que querias tão absolutamente. Espero que a terra do Além te tenha tratado como achavas que merecias.
Espero que tenhas encontrado um lar entre a franqueza e o repouso vizinho. Que, onde quer que estejas, sintas a realização, a felicidade. Que te esqueças da saudade, não característica dessa área.
Onde estás?...
Não o pergunto porque te procuro. Pergunto-te porque quero ou preciso de saber. Porque não posso simplesmente resmungar contra a lua e contra o céu estrelado. Preciso do real objeto das minhas contemplações, dos meus pensamentos. Já que não o tenho, preciso pelo menos do seu paradeiro.
Para que, assim, pelo menos, possa dirigir os meus esforços contra os mapas. Para que possa contar quantas centenas de quilómetros nos separam.
E para que possa decidir, no meu âmago, se estou aliviada ou infeliz por isso mesmo.

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