A desentrelaçarem-se

Éramos tão novos, sabíamos tão pouco.
Acho que isso é parte da beleza da vida. O mistério. O não se saber qual será o próximo passo, se sequer haverá próximo passo.
Ainda nem passou um ano. E, no entanto, desde essa altura, eu envelheci perto de 20 anos. Tornei-me intolerante a tudo o que antes me fazia rir, tornei-me calada quando anteriormente discutiria, tornei-me ponderada quando antes teria sido impulsiva.
Eu mudei. Só penso em infinitos planos, em objetivos, em futuros. Esqueci-me totalmente do presente. Esqueci-me da sensação da não existência do futuro. Esqueci o ''aproveita a vida'', o ''vive um dia de cada vez'' e todos esses mantras patéticos e desprezíveis, feitos para pessoas que não tencionam fazer nada consigo próprias.
Toda essa era da minha vida acabou. E, apesar de eu não gostar particularmente destas mudanças, apesar de elas apenas significarem a minha transformação numa velha amarga, elas constituem uma evolução. Eu evoluí.
Há 1 ano atrás (parecendo que foi há décadas atrás), éramos míseros miúdos apaixonados. Não necessariamente um pelo outro, mas sim pela vida, pelas cores, pelas pessoas, pelo ar, pelo sol, pelo mundo. Tentávamos absorver o máximo de cada experiência, para que nos ficasse marcada na mente.
Há 1 ano atrás, eu não era velha, ou preguiçosa, ou amarga, ou nada, aliás. Era simplesmente uma miúda cujos passos levaram para um mundo que a transformou em cinzento. Era conflituosa, espirituosa, divertida, solta e nova.
E ele. Há um ano atrás, ele já não era nenhum miúdo. No entanto, conseguia sê-lo se assim o quisesse. E as melhores memórias que tenho são de quando éramos os dois crianças perdidas algures. Algures um no outro, algures no espaço, algures no tempo.
Mas agora, passado este tempo todo, já não há hipótese de ele voltar a ser aquele miúdo por quem eu me apaixonei. Não há, porque entretanto a maioridade entrou na vida dele. E nada será igual, nunca mais. Estes são os últimos resquícios da presença dele na minha vida. Da presença dele na vida de seja quem for, por sinal. Custou-me, ao início, a assimilar, mas agora dou-me por resignada. Ele foi-se. Seja quem for que agora vive no corpo, no sorriso dele, já não é aquele rapaz. Já não é qualquer rapaz. É um homem. E esse homem não me diz nada, não me é nada.
Percebi que não me precisava de me preocupar com despedir-me dele, porque ele já se foi há muito tempo.  Não há nada que o traga de volta. Felizmente, esse já não é um problema meu.
Custa-me a acreditar neste fim. Não porque de facto me custe. Simplesmente porque é surpreendente e inesperado. E porque é o fim.
E os fins são sempre inesperados.
Portanto, cada um irá para seu lado. Cada um seguirá os seus planos, cada um evoluirá, cada um se transformará no que quiser, como quiser.
É o fim. O ponto final de uma história com demasiadas vírgulas.
Assim, com década e meia de vida, sinto o meu peito amargurado encher-se de resignação. Que assim seja. E que a vida me traga muitos mais miúdos apaixonados.
Pode ser que algum deles me consiga devolver a minha juventude.

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