Pré-despedidas.

Sorri largamente. Como já não me lembrava de sorrir.
O meu rosto estava encostado à janela do autocarro, nos meus ouvidos ressoavam mil músicas desoladas.
Na minha mente dançavam mil imagens de todos os pequenos momentos dos últimos 5 anos.
Conseguia ouvi-las a cantar. A disparatar nas letras, nos tons. Conseguia lembrar-me de tantas outras vezes que o fizeram.
Incrível como o tempo passa. Incrível quanto os nossos rostos se modificaram. Quanto crescemos psicologicamente e fisicamente. Incrível o laço.
O meu sorriso fecha-se. Todos aqueles anos chegariam ao fim. A um fim precoce. A um fim para o qual eu não estou preparada.
Será a vida toda assim? Será que um dia vamos acordar e perceber que já não reconhecemos quem já foi uma grande parte da nossa vida? Que já não nos reconhecemos?
O fim. Estarei finalmente a entender o significado destas palavras? Estarei finalmente a entender que a vida é feita destas palavras?
Que achariam de nós as raparigas que éramos há anos atrás? Será que eu me orgulharia daquilo que sou? Será que ficaria desiludida?
Será que todos aqueles anos podem ser apagados com as despedidas?
Será que realmente vou perder aquilo que foi o meu escape durante tanto tempo? Será que realmente perdi para sempre aquela sensação de entrar no campo e tudo o resto desaparecer?
Será que estou acabada?
Ouço-as a cantar cada vez mais alto. Tiro os auscultadores e vou para a beira delas. Se era uma das nossas últimas oportunidades de estarmos totalmente juntas, não me ia deixar ficar indiferente.
Elas riem-se por alguma estupidez feita. Pergunto-me se elas fazem ideia. Se não fizerem não importa. Também não seria eu, cujas palavras se atropelam em momentos destes, que lhes iria dizer.
Já tenho saudades delas.
Mudaram-me tanto todas elas... Para o bom e para o mau.
Mudámos juntas. Estivemos lá umas para as outras.
Desejo aos céus que assim se mantenha apesar da distância. Que nos mantenhamos juntas, em contacto. Que não seja o fim. Por favor, que não seja o fim.
Aprendi a gostar de todas elas por razões diferentes mas com o mesmo objetivo. Aprendi a conhecê-las, a aguentá-las.
Que não me sejam retirados todos estes anos... Elas são a minha maior recordação dos melhores anos da minha vida.
Que não seja assim tão simples, assim tão frio.
Que eu continue a tê-las tal como elas me têm.
Que a rapariga que eu era não me deteste. Que a rapariga sorridente das minhas fotografias sorria porque gosta daquilo em que se tornou.
Não consigo sequer imaginar sair daquele campo. Não consigo simplesmente deixar assim o passado. Devo tanto àquelas pessoas, àquelas bolas, àquelas sapatilhas, àquelas joelheiras.
São o meu coração.
Como posso deixar o meu coração?

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