Don't you remember?
Está uma melancólica tarde de sexta feira. Olho através da janela do quarto à procura de algo que não é, mas que eu acreditei que se podia tornar, visível.
Tenho uma expressão serena no rosto que combina com os meus pensamentos.
O meu coração parece estar a afogar-se. Não em dor, mas em água mesmo, entre ondas que o submergem de nostalgia e a volta à superfície racional.
Estou num frágil estado de equilíbrio. Entre a breve agonia e o breve sorriso de resignação.
Não tenho razões particulares para o meu desequilibrado humor. A minha mente procura razões que o justifiquem, para que a causa seja retirada e as consequências sejam evitadas.
Desisti um pouco dos meus planos de mudança. Tentei mantê-los pois acreditei que seriam melhores para mim, que ajudariam. Mas os velhos hábitos demoram a morrer e a ceder às mudanças.
Consegui, no entanto, remover alguns pormenores que me incomodavam. Vou considerá-los como pequenas vitórias.
O sentimento de saturação despenhou-se. Ficou apenas a amarga melancolia. A serena nostalgia.
O medo de ser esquecida.
Não consigo chorar, sabem? Parece que o meu cérebro tem este interruptor no que toca a chorar e ele é que decide quando faz sentido fazê-lo.
O que é complicado. Porque se chorarmos, sai tudo. E depois sentimo-nos melhor, nem que seja só por uns momentos. Eu não consigo chorar. O que implica guardar tudo no peito, nos ombros. E é um peso incrível. E eu não consigo dormir, não consigo comer, não consigo respirar sem sentir esse peso no peito.
E esse peso transforma-se em rancor, em ódio. O meu rosto foi feito para expressões de ódio, de desprezo. Fui feita para as fazer, para as dirigir.
E esse peso transforma-se em dor, transforma-se em agonia, em amargura.
Continuo à procura de algo invisível através da janela do meu quarto. Algo que tive durante tanto tempo, algo com que tanto lutei.
Será que ele faz o mesmo? Será que ele se lembra de todas as fatídicas sextas-feiras que eu passei ao lado dele?
Será que ele também acha tão desequilibrado, tão estranho, tão infeliz que elas não voltem nunca mais?
Será que ele ainda sabe quem eu sou?
Não dissemos uma única palavra na despedida, talvez porque já tantas tinham sido ditas. E no entanto e apesar de não termos dito uma única palavra, nada ficou por dizer.
Quando o verei outra vez?
Quando terá sido a última vez que ele pensou em mim?
Ter-me-à apagado da memória?
Ter-se-à esquecido de todos os momentos?
O meu feitio é assim tão ácido, tão tóxico que ele teve de se afastar de vez?
Eu sei que tenho mil olhares de censura, o coração inconstante, rasgos de superioridade, mil sorrisos irónicos, mil sonhos erróneos. Sei que tenho muita amargura dentro de mim que tenho a tendência de passar. Sei que tenho um espírito errante.
Mas será tudo isto assim tão difícil de aturar?
Ou simplesmente ele esqueceu-se da razão pela qual me amava antes?
Ou será que a razão desapareceu?
Mas será que ele não se lembra?
Porquê que ele não se lembra?...
Tenho uma expressão serena no rosto que combina com os meus pensamentos.
O meu coração parece estar a afogar-se. Não em dor, mas em água mesmo, entre ondas que o submergem de nostalgia e a volta à superfície racional.
Estou num frágil estado de equilíbrio. Entre a breve agonia e o breve sorriso de resignação.
Não tenho razões particulares para o meu desequilibrado humor. A minha mente procura razões que o justifiquem, para que a causa seja retirada e as consequências sejam evitadas.
Desisti um pouco dos meus planos de mudança. Tentei mantê-los pois acreditei que seriam melhores para mim, que ajudariam. Mas os velhos hábitos demoram a morrer e a ceder às mudanças.
Consegui, no entanto, remover alguns pormenores que me incomodavam. Vou considerá-los como pequenas vitórias.
O sentimento de saturação despenhou-se. Ficou apenas a amarga melancolia. A serena nostalgia.
O medo de ser esquecida.
Não consigo chorar, sabem? Parece que o meu cérebro tem este interruptor no que toca a chorar e ele é que decide quando faz sentido fazê-lo.
O que é complicado. Porque se chorarmos, sai tudo. E depois sentimo-nos melhor, nem que seja só por uns momentos. Eu não consigo chorar. O que implica guardar tudo no peito, nos ombros. E é um peso incrível. E eu não consigo dormir, não consigo comer, não consigo respirar sem sentir esse peso no peito.
E esse peso transforma-se em rancor, em ódio. O meu rosto foi feito para expressões de ódio, de desprezo. Fui feita para as fazer, para as dirigir.
E esse peso transforma-se em dor, transforma-se em agonia, em amargura.
Continuo à procura de algo invisível através da janela do meu quarto. Algo que tive durante tanto tempo, algo com que tanto lutei.
Será que ele faz o mesmo? Será que ele se lembra de todas as fatídicas sextas-feiras que eu passei ao lado dele?
Será que ele também acha tão desequilibrado, tão estranho, tão infeliz que elas não voltem nunca mais?
Será que ele ainda sabe quem eu sou?
Não dissemos uma única palavra na despedida, talvez porque já tantas tinham sido ditas. E no entanto e apesar de não termos dito uma única palavra, nada ficou por dizer.
Quando o verei outra vez?
Quando terá sido a última vez que ele pensou em mim?
Ter-me-à apagado da memória?
Ter-se-à esquecido de todos os momentos?
O meu feitio é assim tão ácido, tão tóxico que ele teve de se afastar de vez?
Eu sei que tenho mil olhares de censura, o coração inconstante, rasgos de superioridade, mil sorrisos irónicos, mil sonhos erróneos. Sei que tenho muita amargura dentro de mim que tenho a tendência de passar. Sei que tenho um espírito errante.
Mas será tudo isto assim tão difícil de aturar?
Ou simplesmente ele esqueceu-se da razão pela qual me amava antes?
Ou será que a razão desapareceu?
Mas será que ele não se lembra?
Porquê que ele não se lembra?...
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