Laços proibidos
Querido amigo,
Talvez não te devesse escrever. Afinal, que te posso eu dizer?
Não é que alguém fisicamente me impeça, mas impede-me muito. Impede-me a minha vida, impede-me a tua, impede-me as vidas alheias. Não te posso dizer muito, mas queria apenas que soubesses o pouco que eu te posso dar.
Desde aquele dia que não me esqueço de nada. Sempre fui amaldiçoada com uma memória perfeita, que não falha mesmo quando está afogada. Portanto, só queria que soubesses que não me esqueci. Por muito irracional que eu considere que isso seja, por muito que não faça sentido. Não me esqueci.
Já me tentei convencer que o que passou, passou, mas não consigo acreditar mesmo nisso. O que é bastante irregular, porque quando me convenço de algo, tenho tendência a deixar a dúvida para trás.
Mas não desta vez.
Não é que estas palavras vão fazer qualquer diferença. Apenas as escrevo na vaga esperança que tu as leias ou na vaga esperança de que o escrevê-las me ajude a ultrapassar(-te).
Tenho a certeza que terás muitas teorias indiferentes e empáticas sobre mim. Haverá quem teorize contigo, de certeza. E ainda bem. Pelo menos quer dizer que não te esqueceste.
Se bem que não te culparia se tivesses esquecido. Eu própria me tenho tentado esquecer todo este tempo.
Creio que te quero dar uma explicação. Não que ta deva, não que a tenhas pedido. Apenas a quero dar-ta.
Não quero saber se sabes quem sou. Na realidade, nunca quis saber. Nunca ninguém quer que alguém o conheça completamente. E assim é. Sabes de mim o que podes, o que viste, o que ouviste, o que conseguiste arranjar.
Mas quero que saibas que nunca mais fui a mesma. Que tanto quis uma mudança, que a consegui. De forma escandalosa, é certo, mas consegui-a. Desde aquele dia que tenho procurado voltar ao que era, ou mudar-me completamente e não ficar apenas a meio caminho de uma mudança.
Infelizmente, sinto que não dá para voltar. Sinto que precisava mesmo de mudar e assim o fiz. E agora a pessoa que eu era já não existe.
Por essas e outras razões é que prendi o meu dedo anelar com algo que espero que me relembre prudência, inteligência e comprometimento comigo de forma absoluta e integral. Por essas e outras razões é que quero que o meu cabelo mude a sua cor por completo, para que se alguém me vir de longe, não me reconheça. Por essas e outras razões é que planeio marcar-me com um símbolo antigo de condenação.
Sim, é verdade, fui julgada por um júri dos nossos pares. Condenada a penitência. Esses meus e teus pares acreditarão que eu deva baixar a cabeça em sinal de respeito, submissão e castigo. E eu fá-lo-ei de boa vontade, porque não quero poluir os meus olhos, nem quero ter de pensar em quem para mim já não existe.
Por isso é que não te devo escrever. Somos, e sempre fomos, realidades completamente separadas, não por distância, mas por ambiente, por circunstâncias que nos são alheias. E essa distância, depois de uma súbita aproximação, aumentou significativamente.
Mesmo assim, quero que saibas que tenho pena que assim seja. Quero que saibas que não me esqueci, de alguma forma, e que sinto que não me esquecerei tão depressa. Quero, também, que saibas que te lembrarei com carinho, apesar de não ter razões para o sentir.
Mas sinto-o desde o momento em que soube quem tu eras e desde o momento em que me permiti olhar para ti. Sinto-o principalmente desde que me afundei. Sinto-o desde que te ouvi e desde que tudo voltou à sua ordem natural, ordem por que eu tanto ansiava e ordem de que agora me arrependo.
Quando te vir, porque te verei, quero que saibas que te vi. Posso não me permitir olhar para ti, mas quero que saibas que te vi. E que a tua imagem ficará impressa nos meus olhos por longo tempo.
Espero que obtenhas tudo o que queres e que sejas muito feliz.
Não tendo mais a acrescentar, porque não poderia ter mais que dizer a alguém como tu (que pode uma condenada como eu dizer a um santo?) despeço-me eternamente de alguém a quem não tive a oportunidade de realmente dizer "olá".
Adeus eterno, caro amigo. Tem estas palavras em mente, por favor.
E quando me vires, por favor, vê-me.
Talvez não te devesse escrever. Afinal, que te posso eu dizer?
Não é que alguém fisicamente me impeça, mas impede-me muito. Impede-me a minha vida, impede-me a tua, impede-me as vidas alheias. Não te posso dizer muito, mas queria apenas que soubesses o pouco que eu te posso dar.
Desde aquele dia que não me esqueço de nada. Sempre fui amaldiçoada com uma memória perfeita, que não falha mesmo quando está afogada. Portanto, só queria que soubesses que não me esqueci. Por muito irracional que eu considere que isso seja, por muito que não faça sentido. Não me esqueci.
Já me tentei convencer que o que passou, passou, mas não consigo acreditar mesmo nisso. O que é bastante irregular, porque quando me convenço de algo, tenho tendência a deixar a dúvida para trás.
Mas não desta vez.
Não é que estas palavras vão fazer qualquer diferença. Apenas as escrevo na vaga esperança que tu as leias ou na vaga esperança de que o escrevê-las me ajude a ultrapassar(-te).
Tenho a certeza que terás muitas teorias indiferentes e empáticas sobre mim. Haverá quem teorize contigo, de certeza. E ainda bem. Pelo menos quer dizer que não te esqueceste.
Se bem que não te culparia se tivesses esquecido. Eu própria me tenho tentado esquecer todo este tempo.
Creio que te quero dar uma explicação. Não que ta deva, não que a tenhas pedido. Apenas a quero dar-ta.
Não quero saber se sabes quem sou. Na realidade, nunca quis saber. Nunca ninguém quer que alguém o conheça completamente. E assim é. Sabes de mim o que podes, o que viste, o que ouviste, o que conseguiste arranjar.
Mas quero que saibas que nunca mais fui a mesma. Que tanto quis uma mudança, que a consegui. De forma escandalosa, é certo, mas consegui-a. Desde aquele dia que tenho procurado voltar ao que era, ou mudar-me completamente e não ficar apenas a meio caminho de uma mudança.
Infelizmente, sinto que não dá para voltar. Sinto que precisava mesmo de mudar e assim o fiz. E agora a pessoa que eu era já não existe.
Por essas e outras razões é que prendi o meu dedo anelar com algo que espero que me relembre prudência, inteligência e comprometimento comigo de forma absoluta e integral. Por essas e outras razões é que quero que o meu cabelo mude a sua cor por completo, para que se alguém me vir de longe, não me reconheça. Por essas e outras razões é que planeio marcar-me com um símbolo antigo de condenação.
Sim, é verdade, fui julgada por um júri dos nossos pares. Condenada a penitência. Esses meus e teus pares acreditarão que eu deva baixar a cabeça em sinal de respeito, submissão e castigo. E eu fá-lo-ei de boa vontade, porque não quero poluir os meus olhos, nem quero ter de pensar em quem para mim já não existe.
Por isso é que não te devo escrever. Somos, e sempre fomos, realidades completamente separadas, não por distância, mas por ambiente, por circunstâncias que nos são alheias. E essa distância, depois de uma súbita aproximação, aumentou significativamente.
Mesmo assim, quero que saibas que tenho pena que assim seja. Quero que saibas que não me esqueci, de alguma forma, e que sinto que não me esquecerei tão depressa. Quero, também, que saibas que te lembrarei com carinho, apesar de não ter razões para o sentir.
Mas sinto-o desde o momento em que soube quem tu eras e desde o momento em que me permiti olhar para ti. Sinto-o principalmente desde que me afundei. Sinto-o desde que te ouvi e desde que tudo voltou à sua ordem natural, ordem por que eu tanto ansiava e ordem de que agora me arrependo.
Quando te vir, porque te verei, quero que saibas que te vi. Posso não me permitir olhar para ti, mas quero que saibas que te vi. E que a tua imagem ficará impressa nos meus olhos por longo tempo.
Espero que obtenhas tudo o que queres e que sejas muito feliz.
Não tendo mais a acrescentar, porque não poderia ter mais que dizer a alguém como tu (que pode uma condenada como eu dizer a um santo?) despeço-me eternamente de alguém a quem não tive a oportunidade de realmente dizer "olá".
Adeus eterno, caro amigo. Tem estas palavras em mente, por favor.
E quando me vires, por favor, vê-me.
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