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A mostrar mensagens de julho, 2013

1 ano

O tempo fluí demasiado depressa. Escorre-nos pelos dedos, como se de nada se tratasse, como se nós não fôssemos mais que pequenas constantes na enorme equação do Universo... O tempo desaparece, passa, enquanto nós estamos ocupados a torná-lo nosso, a ''aproveitá-lo''. E, de repente, as nossas mãos estão enrugadas, os nossos olhos toldados, os nossos cabelos brancos... Tenho um medo paralisante da idade, da velhice, do tempo. Tenho medo de que o tempo simplesmente passe e que eu acabe por não atingir nada, por não ser nada, por não fazer nada. E todas as minhas promessas, todos os meus objetivos desvanecerão assim, como se fossem cinzas no ar, como se nunca tivessem sido meus e, portanto, duros e concretos... O tempo devora-nos, corrói-nos. Torna-nos naquilo que prometemos nunca ser, modifica-nos, transforma-nos. Devora-nos até sermos velhos grisalhos com os olhos lassos de cansaço, ironia e arrependimento. Os anos passam demasiado depressa, são demasiado fugazes...

Cansaço

Tinha esperança que a parte má e maliciosa de mim emergisse. Tenho saudades dos sorrisos de escárnio e das injeções de ironia. Tenho saudades da sensação de superioridade. Estou farta de estar na mó de baixo, farta de conversas sérias e profundas. Estou farta deste assunto que me remói as entranhas há demasiado tempo. Estava à espera de ficar furiosa. Não só furiosa, mas fula, cega de cólera. Estava à espera de ter a língua afiada e a visão toldada. Estava à espera de sentir o calor nas veias, a vontade de infligir dor. Estava à espera de me sentir tão indignada e exasperada que acabasse por voltar a ser eu e que esquecesse este assunto. E senti-me, de facto, indignada. Indignada o suficiente para criar um discurso enraivecido na minha mente, indignada o suficiente para deixar de o ver como um herói. Mas depois da indignação só veio o cansaço, mais uma vez. O cansaço tem-se espalhado no meu corpo. Quer seja o cansaço que me tira a hipótese de retaliar contra mim mesma e contra os o...

Reconsiderações

A noite quente espalha o cheiro a iodo e verão pelo ar. O céu está negro e baço, as árvores sussurram tristes canções. O vento grita silenciosamente. Os meus olhos estão fechados, expectantes e ansiosos. Espero pela resposta. Pela resposta que mudará o rumo de tudo, o meu rumo. Pela resposta que não é mais do que uma decisão minha. E o que eu decidir dirá muito sobre mim. A verdade é que não mereço dizer-lhe. Transformei-o num monstro. Transformei-o à minha imagem. Ele tornou-se egoísta, perdeu a simplicidade que eu sempre admirei nele, perdeu a franqueza, perdeu a honestidade e a fidelidade. Ele transformou-se em mim. Aprendeu a fazer malabarismos com as emoções alheias, aprendeu o meu sorriso arrogante. Ficou com um olhar malicioso e pungente, destruidor de almas. ''Ficou com o diabo nos olhos''. Portanto quem sou eu para lhe dizer? Quem sou eu para o puxar para este drama de novo? Ele não é a mesma pessoa, eu não sou a mesma pessoa. E a reação que eu espero provav...

Considerações

Estou a considerar confessar-me. Estou a considerar largar as palavras que andam presas na minha garganta. Tudo isto porque tive um sonho. Sonhei que tudo estava de volta, aliás, sonhei que tudo tinha avançado. E quando acordei queria esse sonho de volta, se bem que mais moderado. Portanto, de olhos entreabertos e deitada na minha cama, engendrei um plano, um plano que a mim me parece infalível, mas claro que não o é. Considerei puxá-lo para longe de alguma forma e dizer-lhe, como se fosse espontâneo. Não iria fazer um grande discurso, apesar de já ter um na ponta da língua. Não iria ser muito séria ou muito grave. Iria simplesmente dizer-lhe. Nem lhe iria dizer a palavra que me atormenta, ia simplesmente confessar-lhe, levemente e simplesmente: ''tive saudades tuas''. Pensei em dizer ''tenho saudades tuas'', mas isso tornaria a ação breve e pontual, enquanto que tem decorrido ao longo de muito tempo. Não achei, não acho, que seja difícil, teria apen...

Looking for myself

Fito cegamente as minhas mãos. Pequenas, douradas e corroídas pelo tempo. São mãos tão pequenas mas que deveriam pertencer a alguém muito mais velho que eu.  As minhas mãos abriam-se e fechavam-se, numa tentativa minha de me distrair. Estas mãos tremem, espelhando o que se passa no resto do meu corpo. Uma reação típica. Tremo quando estou entusiasmada, tremo quando estou zangada, tremo quando estou nervosa, tremo quando estou triste. Triste. Penso que é a palavra que mais se adequa. Triste e furiosa. Nunca estive triste, meus leitores. Já estive sem dúvida nostálgica e desiludida. Mas nunca estive triste, não realmente. É uma sensação ao mesmo tempo dilacerante e calmante. A desilusão destrói, abolindo as minhas entranhas, a nostalgia dá-me a volta ao estômago. A tristeza simplesmente me faz sentir pesada e resignada. Por outro lado já estive furiosa várias vezes. Penso que até gosto de me sentir furiosa, de me sentir indignada. A minha fúria não é cólera, não é descontrolada...

Ultrapassar

Estava à espera que esta palavra batesse à minha porta. Penso que passei a vida toda à espera que essa palavra batesse à minha porta. E creio que ela nunca bateu. Eu simplesmente distraí-me com outras questões  que acabaram por constituir o esquecimento das anteriores. Nunca, mas nunca ultrapassei. Estou há quatro dias razoável. Realmente razoável, íntegra, composta. E começo a pensar se realmente foi desta. Se acabou, se desisti. Adorava dizer que sim, mas é possível que esta seja só uma fase e que num destes dias eu volte a escrever mais um texto dilacerado. Pelo menos vou aproveitar enquanto ainda me sinto como se fosse eu. Acho que finalmente aceitei o fim. Ridículo após todos estes meses. Acho que o facto de ter feito um ano mudou muita coisa. Quem me dera que na altura, há um ano atrás, quando eu era uma pessoa completamente diferente, eu tivesse sabido. Quem me dera que eu tivesse tido a hipótese de realmente decidir se ignorava os sinais de aviso e arriscava, ou se me af...

Feminismo

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Eis a palavra que toda a gente cospe como se fosse venenosa. Como se significasse um conjunto de mulheres que nada mais são que vadias com a mania das grandezas à espera de conquistar o mundo. Mas em nada se assemelha à realidade. O feminismo é a defesa da igualdade, a defesa do direito à escolha, a defesa da mulher, que tantas vezes é vista como um invólucro bonito cujas únicas funções são fornecer comida, sexo e filhos ao homem. O mundo não está habituado a mulheres de sucesso. Não está habituado a mulheres independentes, que não vivem dependentes financeira ou emocionalmente de outro homem, que, por escolha própria, não querem filhos. É óbvio que ser uma mulher de sucesso não significa que não se possa casar ou ter filhos. Aliás, essas são ainda as maiores heroínas, porque conseguem balançar carreiras de sucesso com serem mães. Diria também balançar com serem esposas, mas o casamento é uma armadilha que escraviza o sexo feminino há demasiado tempo. Mas, desde que se seja independ...

Viver a vida

Nunca fui uma pessoa extremamente sociável. Sempre tive um medo tremendo de pessoas novas, de situações novas. Sempre preferi o que era familiar, natural, simples. Talvez seja essa a razão pela qual vivo mais no passado do que no presente. Porque não gosto de mudanças, porque penso sempre que as coisas eram melhores antes e piores agora. Mas talvez não o sejam. Nunca fui de palrar. De falar muito. Sempre detestei pessoas que não se calavam, monopolizando as conversas, impedindo as outras de falar. Sempre as detestei porque apesar da torrente de palavras que lhes jorrava pela boca, não diziam nada de jeito. Ao contrário de mim. Se eu não tivesse talvez um pouco de vergonha de toda a minha eloquência, talvez fosse extremamente sociável, talvez tivesse um milhão de amigos. Perdoem-me as minhas ilusões. Os jovens de hoje em dia não querem eloquência e sem dúvida que não querem todas as minhas lições de vida, todos os meus factos e conhecimentos. Sou demasiado velha, demasiado inteligente ...

Constrangimentos

Foi tão estranho ter-te assim tão perto. A meros centímetros de mim, à distância de um esticar de braço. Não pensei que voltasse a ver-te assim tão perto. Não pensei que pudesse voltar a reparar na tua pele morena ou que voltasse a ter a oportunidade de olhar, olhar mesmo, para ti. Achei que ver-te assim fosse reparar aquilo que está avariado dentro de mim, pelo menos parcialmente, mas penso que apenas piorou. Apenas me lembrou aquilo que eu era, o quão patética eu acharia que as minhas atitudes presentes são, o quão ridícula, hipócrita e fraca me tornei. E quando te toquei... Foi tão estranho, porque fi-lo sem querer, inconscientemente e com um à vontade ridículo. Talvez tenha pensado que acabaria com a névoa de estranheza que pairava. Bem, enganei-me. O teu rosto surpreendido trouxe-me de volta à Terra. Apesar de só te ter tocado com a ponta dos dedos, senti como se fosse um abuso monumental. Então afastei-me, mais uma vez constrangida e patética. Talvez no meu rosto se tenha espe...

Done

Não consigo. Nunca me senti tão incapaz. Não consigo. Não consigo lidar com isto, não me consigo amparar sozinha. Não sei o que raio se passa comigo, o que raio se passa dentro de mim. Mas não consigo. Estou farta do luto, estou farta da indiferença. E eu achei que recuperar-me fosse melhorar a coisa, mas eu estou de volta e não me sinto melhor. Isto é ridículo, já passou demasiado tempo. Demasiado tempo para eu estar tão... Não me consigo suportar. Parece que me estou a desfazer aos bocados, a cada dia que passa mais depressa, a cada dia que passa pior. Estou a deteriorar. E não consigo colar-me, controlar-me, só consigo hiperventilar para diminuir a azia, a dor. Só consigo deitar-me algures numa sala escura e implorar para chorar, para reagir. Estou farta de ser passiva! De deixar a vida passar-me ao lado porque houve algum fusível dentro de mim que se estragou! Quero ver as coisas como elas são, mas sempre que as tento escrever, sempre que tento pensar nelas, sou assolada po...

60 segundos

Parece-me que acabou para mim. Que passei o ponto em que posso ser salva, em que me consigo recuperar. Digo isto, meus leitores, com um sorriso no rosto. Parece-me também que não quero ser salva. Que quero agarrar-me aos meus pensamentos e viver neles. Sinceramente, quando não sentia nada era assustador. Parecia que tudo dentro de mim se tinha fechado e desmoronado, que as minhas oportunidades tinham acabado e que já não havia mais nada para mim. Assim, pelo menos, ainda tenho sobre que escrever, sobre que sonhar, sobre que enlouquecer. E eu sempre me preferi louca. Louca sou mais humana e não um autómato arrogante. Louca ainda tenho esperança. Esperança de me recuperar, de recuperar o meu espírito, o meu orgulho. Louca ainda sou nova. A loucura deixa-me ser jovem. Louca não sou infeliz. Não posso ser infeliz, vivo nas minhas ilusões. E as minhas ilusões só não são contos de fada porque não há ''e viveram felizes para sempre''. Não estou totalmente insana. Não há for...