Adeus, amor, adeus
Perguntas-me o que eu quero.
Eu sei que não queres ouvir a resposta.
Queres que eu te dê uma resposta ensaiada, ponderada, que não diga nada.
Uma resposta sem emoção, uma resposta adulta.
Não posso ficar zangada, porque a tua reação é de imediata retração.
Não posso chorar ou dizer-te que estou triste, porque a tua reação é de frieza.
Ando aqui neste limbo, a tentar dizer-te o que sinto e ao mesmo tempo a dizer-te o que queres ouvir.
Se eu dissesse o que o meu coração me diz, sei que te causaria dor. Sei que me causaria também dor, porque sei que não responderias o que eu quero que respondas.
Se eu te dissesse o que a minha cabeça me diz ...
Eu nem quero pensar no que a minha cabeça me diz.
A minha cabeça diz-me que está na altura de a minha vida avançar. Que isto não é saudável e que eu mereço melhor.
Mereço alguém que me queira, que me ame, alguém que me abrace e que não me queira largar.
Mereço alguém que olhe para mim como tu um dia olhaste para mim.
E, no entanto, nem me consigo imaginar a avançar.
Reparo mais nos homens que se alongam a olhar para mim, é verdade.
O meu cérebro pensa nas possibilidades. E, contudo, sei que nunca faria nada. Sei que nunca diria nada. Sei que nunca agiria, porque tal seria, ainda, trair a tua confiança.
Ainda que tu já não queiras saber.
O que dói mais nisto tudo, é a tua indiferença. A tua quase repulsa pelos meus sentimentos enquanto eu tenho que aceitar os teus sem dizer mais nada.
Não quiseste saber dos meus sentimentos quando me disseste adeus e não quiseste saber dos meus sentimentos quando voltaste, porque TU te sentias sozinho.
Conheço-te como a palma da minha mão. Sei que nunca foste uma pessoa egoísta. Mas agora és.
Quem quer que tu tenhas decidido que precisas de ser, não é a pessoa que eu amei e bem durante a boa parte de uma década.
Esta pessoa que me envia cartas embevecidas e desesperadas para no segundo seguinte me dizer que eu já não sirvo para no segundo seguinte estar a dar-me as mãos endoidecido de arrependimento.
Eu sei que não estás em ti, sei que o problema não é meu.
Mas dói-me ver-te a desvalorizar tudo o que vivemos. Dói-me ver-te a procurar as falhas e a apontar-mas como se tu não tivesses falhas que eu te pudesse apontar.
Disseste-me há uns dias que nós não somos dois estranhos que se apaixonaram, mas duas almas destinadas que se encontraram.
E eu disse-te que não acreditava em ti. Poucos dias depois e só penso que quem me dera não ter acreditado em ti. Quem me dera ter acreditado nas palavras que disse.
Eu sei que está a chegar a altura de partir. Sei que não aguento isto muito mais. Mas não sei o que me dói mais: se falar contigo e ver o quão diferentes estamos, ou se nunca mais falar contigo.
Tu perguntas-me o que que quero e a verdade é que o que eu quero é ter-te de volta. A ti e a nós, que acabámos sem razão ou justificação nenhuma, do nada.
Disseste-me adeus tão rápido e com tanta facilidade. Era como se para ti eu fosse uma mera pedra no teu caminho, a impedir-te de viver a tua vida.
Mas tu para mim ainda és o Céu e a Terra.
Ainda és o mover do solo debaixo de mim e o suspiro do vento.
Não choro porque não sei quem sou sem ti, mas porque tenho saudades tuas e da tua companhia.
Nunca fui dependente de ti, e sempre estive bem sozinha. O meu problema não é esse. O meu problema é que tu és o único para mim.
Ainda que muitos te sucedam e se tentem sentar no teu lugar, não consigo imaginar um mundo em que ao meu lado não estás tu.
Investi o meu tempo, o meu amor e a minha paciência em ti. Dei-te a minha juventude e contigo me tornei mulher.
Dei-te coisas que nem sabia que tinha.
Imaginei-nos num altar que nunca pensei pisar, eu vestida de branco e alguém a ditar que o nosso destino é juntos.
Não quero sonhar sem que tu estejas nos sonhos.
Quebraste-me todas as promessas que me fizeste, e depois de mais de meia década de me dares sonhos de vestidos brancos e casas com jardim, esperas agora que eu me esqueça de ti e da vida que sonhei para nós, do nada.
Ou pior, queres que eu me esqueça o suficiente para parar de te chatear com os meus sentimentos, mas não o suficiente para te deixar para trás.
Queres que eu fique aqui à espera, enquanto tu decides se eu sou merecedora do teu amor, e enquanto procuras outros pastos e paisagens.
Queres que eu fique aqui à espera, a rezar para que tu não conheças outra pessoa, para que caso decidas que eu afinal valho alguma coisa, que afinal não sou a vilã da tua história, e afinal sou apenas uma rapariga que te deu os melhores anos da vida dela de bom grado, não perderes a tua chance comigo.
Haverá homens por aí que me amarão bem. Talvez não como tu me amaste, talvez ninguém me volte a amar como tu me amaste, mas haverão homens que me quererão, que me dirão que eu sou bonita e que me amam, e que olharão para mim como se eu fosse a única pessoa do mundo.
E eu quero ser amada. Nunca quis mais nada. Quero viajar com alguém ao meu lado, dar a mão a alguém casualmente, beijar alguém e estar nos braços de alguém que me ame.
Nos meus sonhos, a dormir e acordada, só tu ocupas essa posição.
Mas um dia pode haver alguém que a queira ocupar. Deus, eu espero que mais alguém nesta vida me ame pelo menos metade daquilo que eu te amei.
Deixaste muito claro que não sabes se algum dia essa pessoa serás tu. E por muito que eu queira esperar para ver se é possível que voltes a olhar para mim como olhaste, não posso fazer isso a mim própria.
Se nunca mais ninguém me amar, ao menos eu ter-me-ei amado. E porque me amo, sei que o momento de dizer adeus está aqui.
Agarro-me ainda desesperadamente ao topo deste precipício.
Mas diz-me a voz na minha cabeça que me agarro por nada.
Não há nada para mim em cima do precipício. Ainda que tu por vezes ainda digas que há.
Por isso, agarrar-me só me magoa o corpo.
Dizem que a esperança é a última à morrer. Talvez devesse ser a primeira.
Não me sinto corajosa o suficiente para acabar este texto. Tal como não me sinto corajosa o suficiente para avançar com a minha vida.
Porque não é o que eu quero, nem nunca foi. E, no entanto, aqui estamos.
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