Estou irremediavelmente doente.
Tenho lido este livro sobre um homem que sofre de dores crónicas físicas e temo também as ter. Mas as minhas não são físicas.
Estou muito, muito doente...
Verga-me o peso de tudo nos ombros. O peso da solidão, da tortura e do medo.
Aterroriza-me o facto de que há a hipótese que desta vez talvez nada me salve. Nem o tempo, nem o carinho, nem a entrega. Só vejo uma espiral imensa de dor e tortura. Da qual não tenho como sair.
O tempo não passa. Passei a vida a queixar-me de que o tempo passava demasiado depressa e ele decidiu abrandar no momento errado. Decidiu abrandar sadicamente agora, que a vida se espreme da minha mente dorida.
E se nada me salvar?
E se ninguém conseguir chegar até mim e eu permaneça doente para os restos dos meus dias?
Na minha cabeça passeiam imagens de mudanças e resoluções, mas conseguirei cumpri-las? E serão as mudanças necessárias?
Este arranhar no meu peito enlouquece-me. Deixa-me sem rumo e tão completamente sozinha...
Nunca me senti mesmo sozinha na minha vida, porque desde que me tivesse, estava bem, estava inteira, estava completa, estava calma. No entanto, isso por alguma razão deixou de ser suficiente. Talvez porque estou doente. Ou talvez a doença veio de um acumular de solidão nunca sentido.
O que é que eu vou fazer? O que é que me vai curar?
Imaginei a minha vida a ir numa linha reta sem percalços e sem obstáculos e agora dou por mim sem saber o que fazer, se ficar, se ir, se simplesmente desaparecer.
A minha cabeça diz-me para esperar para ver, o meu coração diz-me para comprar o bilhete que me leve para o mais longe daqui possível. Para algum sítio com silêncio, sem pressão e com ar puro. Quem me dera que pudesse fugir e possivelmente nunca mais voltar. Que pudesse deixar de ser um incómodo para todos e, principalmente, para mim.
O que é que me vai curar desta vez?
Porque não são as promessas, ou o amor incondicional, nem a medicina. Gostam de dizer que é a minha própria cabeça, mas ela já não tem força para esse tipo de operações.
Estou demasiado cansada. Sem forças, demasiado fraca em todos os sentidos. Estou cansada ao ponto de me deitar à noite a desejar não acordar. A desejar que possa finalmente descansar num sono talvez não eterno, mas longo, que me recupere as forças.
Não sei quem é a rapariga que vejo no espelho. A cara dela está adulterada pela dor e pelo desespero. E essa não é a minha cara. A minha cara sempre esteve cheia de confiança e determinação. E aquela rapariga só mostra uma fraqueza tão profunda que já não tem remédio.
Dentro de uns dias vou voltar para casa. Para as paredes verdes que foram a minha verdadeira casa, não este edifício que contém o meu antro da tortura. Não me sinto em casa em lado nenhum a não ser nesse sítio onde estão todas as minhas memórias, ou pelo menos as que importam, em que eu estava à vontade e de que eu desejava sair tão desesperadamente. E agora só quero desesperadamente voltar. Ser apenas mais uma rapariga no meio de muitas e não importar.
Quero tanto não importar... Mas mais importante, não quero acordar. Não quero enfrentar o facto de que vou voltar para casa, como filha pródiga que sou, e que não tenho nada de impressionante para mostrar. E que, se tudo continuar assim, nunca terei nada de importante para mostrar. Serei apenas um fracasso do sistema.
Já sou um fracasso para mim. Esperava tanta coisa, de mim, do futuro. E dou por mim a fracassar em tudo aquilo que achei que faria bem.
Pela primeira vez da minha vida, estou sozinha e sou um fracasso. E talvez seja esse o meu futuro. Afinal, não me vejo a ganhar forças para recuperar aquilo que era, para atingir os objetivos que antes me interessavam ou para ser seja o que for para além de um desastre dependente e fracassado.
Eu era tanta coisa, queria tanta coisa, tinha tanta coisa e agora não sou nada. Não quero nada e não tenho nada para além deste desespero debilitante.
Já não tenho mais nada para dar. Estou demasiado gasta. Estou farta de estar desiludida e de me desiludir.
Estou demasiado doente...

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