Santa juventude

As nossas emoções são meras reações químicas. É curioso como damos tanta importância a meros retorcer do nosso cérebro. Que fazem de nós as pessoas que somos, ou então que nos fazem pensar que somos pessoas. As nossas emoções não existem realmente. E nós não passamos de seres tão irracionais como todos outros, mas que por meros retorceres exagerados do nosso cérebro e pela existência de polegares, consideramo-nos os Reis de toda a natureza.
Não acredito em emoções. Eu sei o que sinto, sei que as sinto, mas não as quero. Não quero a sensação de estar a enlouquecer de tão assoberbada em trabalho, não quero a sensação de desespero, de carência, de ciúmes, ou de um ódio como nunca senti.
Não quero nem acredito em nada disso. Acredito em endorfinas e hormonas, acredito em reações químicas. Que nos transformam de animais em animais com a mania das grandezas.
Daí que não acredite no amor. Não o compreendo e acho que sou muito nova para o fazer. Compreendo a lógica, a Razão. Não os devaneios de loucos, nem os meus próprios devaneios em dias em que as hormonas levam a melhor do meu cérebro brilhante.
Acredito que amamos os nossos pais porque fomos biologicamente feitos para o fazer, acredito que amamos os nossos amigos porque nenhum ser humano quer estar sozinho e então criamos esta ilusão que é o amor, a ilusão que se dá quando se suporta outra pessoa.
E, como já disse, um milhão de vezes, sei o que é o que dizem ser o amor. Atração física, medo de estar só.
Compreendo o que isso é. E se isso é o tão aclamado ''amor'', perdoem-me que discorde do seu caráter eterno ou de conto de fadas. Não acredito em nada disso, ninguém racional o faz. Não acredito em contos de fadas porque a vida real não se processa assim: o amor à primeira vista não existe, a atração física, por seu lado, é bem real; os homens não são príncipes encantados e nenhuma de nós mulheres é uma princesa; não vamos, aos 16, 17, 18 anos e por aí em diante conhecer o amor da nossa vida, porque tal não existe. As pessoas casam-se porque não se importam com rotinas, e porque realmente não entendem o que é o resto de uma longa vida com a mesma pessoa.
Não me canso de dizer: a esperança média de vida, para as mulheres, é de 80 anos. 8 décadas. E, as pessoas que casam e se mantém casadas, gastam entre 5 a 6 décadas dessa vida com a mesma pessoa. Acho que ninguém compreende o que são 50 ou 60 anos a acordar ao lado do mesmo homem.
Mas, enfim, tudo isto era compreensível antigamente, em que as mulheres eram dependentes e irrelevantes para a sociedade e em que os homens tinham de corresponder a um determinado estereótipo. Já nada disso se passa agora. A esperança média de vida alargou consideravelmente, a ciência desenvolveu-se e os seres humanos já não dependem uns dos outros para sobreviver ou ter qualquer tipo de estatuto. Podes ser o que quiseres como quiseres. És livre, realmente e independentemente livre, de tudo menos dos teus pais, caso tenhas a minha idade.
Então, seja-me por favor explicado: porque raio desperdiças a tua liberdade? Porque raio te prendes a situações que não te servem, crescem ou melhoram?
Sabem do que eu estou a falar. Este já não é um simples desabafo. Tenho-me tornado mais mole e tolerante. Consequentemente, aceito que entrem em relações. É típico da nossa idade. É o normal, e pouca gente sai do normal. Aceito que entrem em relações que vos façam bem, que tenham sentido de humor e diversão.
Mas não aceito que, já sabendo que essas relações acabaram e que tudo o que pode haver é rotina, não vos desenvolvendo os cérebros ou o corpo, e não vos fazendo melhor, continuem por medo da solidão. Além disso, não aceito que, com a idade que têm, realmente considerem que aquela pessoa é a Tal, como se tal coisa existisse.
Por achar que já gastei este assunto e que só o continuo porque me é impossível impedir o meu espírito revoltado, despeço-me, muito simplesmente dizendo: sejam felizes. Quando a relação em que estão já vos é indiferente, saiam. Não se conformem, não se esforcem por resolver. Temos a idade que temos, não devíamos ter de resolver nada, não devíamos ter de partilhar nada, não devíamos ter de ABDICAR de nada, a não ser do tempo que quisermos e tivermos para abdicar. 
Viva a liberdade da juventude! Não a desperdicem com dramas, infelicidades, rotinas e regras em algo que não deveria ter regras. 
O que é meu, é meu, o que é dele, é dele, o que é nosso é nada. Não confundam papéis, não confundam gestos, não desatinem e separem a vossa vida da vida das outras pessoas.
Vivam a liberdade da juventude!

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