Crises existenciais / Críticas aparvalhadas / Pessimismo Generalizado

A escola portuguesa foi criada para desenvolver o hemisfério esquerdo do cérebro. O hemisfério esquerdo contém o raciocínio lógico, matemático. A capacidade de memorizar. Ignorando assim o hemisfério direito, da criatividade e imaginação, da personalização.
Porque é isto relevante? Somos todos produtos estandardizados da mesma fábrica, formatados apesar de tão novos, quadrados, educados para perdermos a imaginação, a inspiração a criatividade. Criados para acreditarmos que tudo se consegue com esforço, sem qualquer influência do nosso génio, ou com pouca. As soluções criativas, as personalidades genialmente desvairadas? São completamente rejeitadas e vistas como libertinas. Procura-se o conveniente, o dentro das conformidades.
Mas porque raio é isto relevante? Não sei. Talvez seja uma mera crítica que me anda a marinar na mente há muito tempo, talvez seja produto do meu estado apático de pessimismo.
Apercebi-me de tudo isto quando um dos meus textos foi chamado de ''demasiado lírico''. Compreenda-se que não me haviam pedido para elaborar um texto imparcial, uma notícia. Haviam-me pedido para refletir, para dar a minha opinião. Mas a minha opinião era demasiado lírica, demasiado criativa, não suficientemente científica. Sinceramente, quem diabo teve a ideia de cientificar a arte? A arte não tem nada de lógico. Eu sei-o, porque tenho tanto de lógico como de emocional, e garanto que a parte de mim que escreve não é a lógica.
A educação portuguesa mata-nos o espírito, portanto. E entenda-se que sempre a defendi. Acho que neste país criamos génios. Que depois nos deixam por outros países. Génios antipatriotas, que escândalo. No entanto, estes génios têm que aprender a ser adultos sozinhos. Ninguém nos ensina a tratar de impostos, e a descontar e sabe-se lá mais o quê. Ninguém nos ensina a reparar os nossos aparelhos domésticos que se estragam. Ninguém nos ensina a preencher documentos legais ou a informarmo-nos sobre os partidos e candidatos para podermos votar. Os nossos pais ajudam, mas pouco. E, além disso, e após todos estes séculos, o nosso país continua completamente insensível à arte, à literatura e, principalmente e acima de tudo, à personalidade. Somos todos números, personalidades jurídicas com direitos e deveres, mas sem qualquer alma.
Mas isto é realmente irrelevante. Não quero que isto se torne um artigo de opinião. Esses pertencem ao jornal ou a um blogue feito para eles, não no meu blogue.
Passando este assunto, os meus pais são muito barulhentos. Este texto será um bando de ideias desassociadas caso não tenham percebido pelo título.
Voltando ao que estava a escrever, os meus pais são muito barulhentos. O mundo é muito barulhento. E eu sou muito intolerante ao barulho. Anseio pelo silêncio, pela absoluta solidão. Já não estoava sozinha em casa como neste momento há mais tempo do que me consigo lembrar. E adoro, posso ser só eu, posso pensar só em mim, posso ser eu, por uma vez, barulhenta. Posso concentrar-me, sem barulho de fundo, sem gritos de um andar para outro, sem cantorias ou discussões. A casa em que vivo, que de maneira nenhuma é minha, está vazia e silenciosa. E eu sinto finalmente que pertenço, que estou em casa. Estou farta de ouvir barulho. Em casa, no colégio, onde a maior parte do que ouço são futilidades ou barbaridades. Ninguém compreende, mas acho o pináculo da vida quando estou no carro e ninguém fala. Limitamo-nos a ouvir a rádio e os sons exteriores. Quando estou numa mesa rodeada de amigas mas todas estamos silenciadas pelos nossos pensamentos. Quando eu e ele nos fitamos mas não dizemos nada. O silêncio não é constrangedor, é relaxante, É cheio.
Infelizmente, esses momentos são poucos, porque os meus pais e irmão são barulhentos, as minhas amigas são barulhentas e o Tiago é barulhento. Este mundo fala mais do que pensa. Eu falo mais do que penso.
Não consigo processar o barulho. Arranha-me o cérebro e impede-me de pensar.
Nos últimos tempos ando a considerar a hipótese de ser psicopata. Ou bipolar. Uma das duas será.
Passando a explicar a minha tese: sou absolutamente imune a emoções superficiais. A não ser que seja ''aquela altura do mês''. E a psicopatia é isso mesmo: saber compreender as emoções, mas não as sentir. As únicas emoções que, na realidade, sinto são a indignação e a autocomiseração. O resto geralmente é fome que se disfarça de emoção. Será que toda a gente se sente assim? Sou clinicamente egoísta e egocêntrica. Cada vez mais, a cada passo a descer que as minhas autoestima e autoconfiança dão. Sou o diagnóstico de narcisista. Os sentimentos dos outros são-me em geral irrelevantes. Minto como se falasse a verdade, e minto principalmente a mim própria, tão bem que chego a acreditar. Talvez seja psicopata.
Talvez seja bipolar. Afinal, consigo passar de feliz a furiosa em frações de segundos. Sinto uma mistura de sentimentos em relação a muitas coisas, e não sei distinguir as minhas emoções. E, apesar de na maior parte das vezes não sentir nada, quando sinto parece que é uma bola de demolição que vem contra mim. Talvez seja apenas adolescente.
Por falar nos meus insuficientes excessos emocionais, falemos de outros excessos emocionais. Os dos meus pares. Acho que já gastei este assunto até ao osso. Porquê que me repito tanto? Odeio adolescentes, ponto final parágrafo.
Quero fugir e não voltar. Já vos descrevi a minha fuga internacional, mas a verdade é que acredito nela cada vez mais. Para quê que hei de ficar? O que eu procuro é a Terra do Nunca, em que nunca tenho de crescer e lidar com a pergunta ''e se eu detestar o curso?'' ou com as minhas anteriormente excelentes notas e agora a roçar o razoáveis, ou com a noção de que posso ser genial, esforçar-me a minha vida toda e não ter um emprego. Ou de lidar com o facto de que, secalhar, fui feita para ser diletante e não trabalhadora. Pobres dos meus pais. Ou de lidar com o facto de que não são os melhores que conseguem viver neste mundo, são os privilegiados. Os com contactos e/ou dinheiro. E Deus sabe que os meus pais são anjos do céu mas pelo menos um não me podem dar e o outro não me podem dar o suficiente para poder ser ''privilegiada''. Não quero lidar com a corrupção deste mundo. Não quero saber como é a praxe.
Perceba-se o meu dilema com a praxe: tenho demasiada (apesar de em decadência) autoestima e autoconfiança e dignidade e orgulho para baixar os olhos perante alguém que é igual a mim mas que, por ter 1, 2, 3 ou poucos mais anos que eu, acha que eu lhe devo respeito e obediência. Compreendo que faz parte da experiência e, não me interpretem mal, tenciono fazê-la. Mas não compactuo com humilhação. E, para o meu gigante ego, quase tudo é humilhação. Não obedeço a quem não tem autoridade.
Outra coisa com a qual não quero lidar e da qual a Terra do Nunca me protege, é compreender que não posso salvar o mundo. E, em escala mais pequena, não posso solucionar o direito português, Sou uma formiga. Não é por eu me revoltar que as guerras e a fome vão acabar, o ébola vai ser curado, os géneros vão ter igual tratamento, a corrupção vai terminar. Não é por eu tirar direito que a corrupção, a burocracia e a injustiça vão acabar. Sou inútil. Portanto, para quê? Para quê fazer seja o que for, se não vai ser o suficiente para me preencher, para mudar o mundo?
Ser homem é ser descontente, é ser louco, é ser inconformado. Fernando Pessoa detestava os conformados. Eu detesto ser inconformada.

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