Just some lover

Gosto de ter o controlo.
Todos sabemos do que estou a falar. Daquela sensação de superioridade, de se ser quem decide, de ter quem dependa de nós e não depender de ninguém. Gosto de saber, aliás, o meu enorme, esplendoroso e dominante ego, gosta de saber que tudo depende da sua decisão. Tudo depende de si.
Preciso de ter o controlo.
Percebi recentemente que, a partir do momento que não sou eu a controlar, perco também o controlo de mim mesma. Parece que deixo de saber existir, flutuando entre a imensa letargia e a alegria suave. Parece que entreguei o controlo remoto das minhas emoções a alguém que não sabe lidar com elas. Correção: a alguém que sabe perfeitamente lidar com elas e prime todos os botões para propositadamente as desequilibrar.
Ultimamente sinto-me uma heroína romântica. Para vocês que não sabem o que isso quer dizer, significa que sou a típica mulher antiga, submissa, sofredora por tudo e por nada, com umas emoções excessivamente ativas. Sinto-me precisamente assim. A diferença entre mim e essas mulheres é que elas deviam ser assim, eu não. A minha personalidade: forte, rasgada, corrosiva, protesta dentro de mim, violentamente, pelo retorno da minha estabilidade mental. Mas esta demora a chegar. Em vez, mantém-se esta bipolaridade de ideias, de estados de espírito.
A isto se mistura uma súbita crise existencial, das típicas, ridículas, manufaturadas. E ainda se mistura a ansiedade, o stress, se preferirem. Portanto, o meu estado emocional, já frágil em si mesmo pelas circunstâncias, está a ser atacado por algo a que eu chamo: submissão mental. Significa que alguém detém um poder e um controlo demasiado afincado sobre elas. É capaz, provável até, que não seja propositado. Mas isso não responde à minha sede de recuperar o controlo, a estabilidade.
Esta submissão mental traduz-se a meras ausências, pequenas e ínfimas, que me fazem sentir ainda mais usada, ainda mais velha, ainda mais ridícula. As contas tornam-se fáceis de fazer.
É preferível esconder-me nos eufemismos das analogias: a minha vida é um campo de manobras. Manobras levadas a cabo por mim, que geralmente significam completos desvios do que é certo, e manobras alheias, que geralmente têm sucesso e geralmente destroem o meu orgulho. Por vezes, tenho dificuldade em distinguir o que é uma manobra e o que não é. Por vezes, distraio-me e acabo por perecer. Mas agora, que a lucidez me assola levemente, eu consigo ver todos os sinais. Consigo saber que tudo, até agora, foi uma bela mentira, plantada por alguém que sabe bem mentir. E eu, ao início distraída, reconheço isso agora. Mas não há problema.
Não há problema porque eu sei precisamente como recuperar o controlo, o meu orgulho. Ainda é cedo. Desta vez, é cedo.
Desta vez tenho tempo para regredir no tempo, como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse passado de outra sombra que me fita com olhos de admiração. Desta vez tenho amor próprio suficiente para meramente me afastar, devagar e com cautela. Tenho amor próprio suficiente para saber que eu é que me destaco, que eu é que reino, que ele é que tem sorte.
Sou uma rainha no meu castelo. Outro eufemismo escondido numa analogia.
Tudo correrá como planeado. E, daí a uns meses, quando eu voltar a decidir reinar naquele castelo verde, ele terá sido só mais um na minha jornada. Ninguém se lembrará desse caso. Eu não me lembrarei de sequer ficar constrangida. Voltarei à minha liberdade incondicional, desta vez sem condições realmente nenhumas. Será um ano fantástico, em que estarei por completo e absoluto entregue a mim própria.
Ao meu lado, ele não existe. Ao meu lado, eu sou o sol, ele é um planeta que gira à minha volta. Analogias, analogias...
Já sinto o controlo a voltar, a recuperar-me, a regenerar-me, a estabilizar-me.
E ele é, ele torna-se, realmente, só mais um, um peão no meu jogo de xadrez. Sem qualquer importância ou destaque.
Mais uma paixão adolescente, daquelas que nascem num olhar intenso e morrem no primeiro beijo.
Mais uma vez, descobri que não estou pronta. Não estou pronta porque, se uma mera paixão adolescente, me deixa com os tipos de calafrios que eu tive no início, com a instabilidade emocional que se arrastou em mim estas semanas, é porque a minha mente ainda não está pronta para algo sério.
Então... Voltarei às minhas aventuras? Porque tenho a sensação de que já conseguia escrever um livro bem extenso com elas. Eufemismos, eufemismos...
Então... Paro? Por completo? Por um tempo? Talvez me limite a receber atenção alheia, sem ter de a concretizar. Recebo o suficiente para satisfazer o meu gigante ego, não preciso de mais.
Além disso, um verão livre faz muito mais sentido.
Pois bem, assim seja.
Até eu sei que isto são tretas. Tenho demasiada carência de autocontrolo. Mas tentarei e divertir-me-ei a tentar.
E que as belas brisas de verão abençoem esta minha promessa.

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