Aprendizagens

Cheguei à irónica conclusão de que os anos passam mas eu não aprendo nada com eles. Mudo um milhão de vezes a cada ano, revoluciono-me interiormente a cada semana, mas não aprendo.
Não aprendi nada com os meus erros. Tenho a sensação que os faria vezes sem conta se tivesse oportunidade para tal. Tenho a certeza que faria tudo outra vez, como se todo o meu passado nunca tivesse acontecido, como se os meus erros não tivessem sido cruzes que eu tive de carregar.
Não mudei. Talvez tenha crescido, mas não mudei. No máximo, aprendi a distinguir o certo do errado. Aliás, nem isso aprendi, porque cada pessoa tem a sua distinção e a minha é substancialmente diferente das convencionais.
Cresci, porque agora sei o porquê de ser errado tudo o que faço. Mas mesmo assim vejo-me a fazê-lo. E a história repete-se como num ciclo sem fim, para sempre. Estou condenada à minha estupidez eterna, à minha ingenuidade forçada, à minha inocência desconfiada...
Só isso justifica as minhas ações, só isso explica porquê que o meu cérebro pensa, mas a minha boca não diz, porquê que eu sei mas mesmo assim não impeço o que está prestes a acontecer.
Sinto-me nova e ridícula outra vez. Agora sei precisamente onde estes meus erros vão acabar por me levar. Já não tenho a desculpa da ignorância. Já não tenho a desculpa de estar iludida, de estar cegamente apaixonada, porque todos sabemos que sou demasiado velha para isso. Talvez tudo se resuma precisamente a isso: estou demasiado velha e cansada para os meus erros. Estou demasiado exausta para ver, com os meus olhos lassos, as consequências da minha falta de controlo. As consequências são fáceis de adivinhar e resumem-se numa: a minha humilhação, pura e segura.
Será o fim do meu ''novo começo''. Será o fim da nova vida que eu tinha planeado para mim.
Mas que importa lamentar-me? Farei tudo à mesma. Que importa dizer que me sinto corroída pela culpa, que consigo adivinhar a queda livre da minha vida estável, que sou demasiado velha para estas palpitações desenfreadas que tanto pretendo impedir? Que importa que eu saiba, que eu sinta que tudo isto é tão incrivelmente precoce e errado e que me vai estragar por completo?
E todos sabemos que eu não consigo fazer isto outra vez. Todos sabemos que eu perdi a capacidade de amar, de confiar, de sequer querer. Perdi a paciência, perdi a ansiedade, perdi a minha já escassa juventude.
Todos sabemos que não sei amar nada nem ninguém que não seja eu. Consigo, de facto, amar-me, com muito fervor e dedicação, mas esse mesmo amor próprio impede-me de amar seja quem for, porque proteger-me acima de tudo significa impedir todas as situações em que posso ficar humilhada, ou magoada, ou infeliz. Há, portanto, que ter em conta, que ele pode ser um bom rapaz, mas é só um rapaz. Um rapazinho, um menino, que é tão maduro para umas coisas e tão infantil para outras. Nunca pode ser suficiente e tem demasiadas lacunas. Lembra-me outro rapazinho que eu conheci há tanto tempo (há 3 anos, meu Deus!) e que também não foi o suficiente, mas esse por escolha.
Não é que eu não me consiga imaginar noutra relação. Mas não numa que me satisfaça, não numa que me dê exatamente o que quero, não numa completamente honesta, não numa que seja completamente livre, leve e divertida, sem julgamentos e sem olhos alheios a analisar tudo o que fazemos, não numa em que eu possa confiar por absoluto, primeiro porque já não o sei fazer, depois porque é complicado fazê-lo quando não se sabe, não se conhece.
Além disso, há o pequeno problema: é-me impossível não fazer comparações. Não por maldade, e sim porque tenho termos para tal.
Cheguei à irónica conclusão de que tomei a decisão errada. Como o faria há anos atrás. Cheguei à irónica conclusão de que apressei o que não devia ser apressado. Como o faria há anos atrás.
Cheguei à irónica conclusão de que me expus de novo à vergonha, à dor e a toda a marcha que vem com a ridícula e estúpida e falsa suposição de que existe amor.
O que, mais uma vez, todos sabemos ser mentira. Portanto, porquê que ainda tento? Porquê que não me entrego ao que é confortável, simples, fácil? Porquê que procuro algo complicado, algo ''próprio para a minha idade''? Odeio a minha idade e odeio pessoas da minha idade, portanto porque diabo quereria eu algo ''próprio para a minha idade''?
Suspiro pesadamente a cada segundo, enquanto anseio que tudo o que aconteceu no dia anterior se apague por magia, nem que seja só da minha mente. Tudo isto fazia de mim uma pessoa ainda mais atroz, ainda mais psicologicamente perturbada. Porque não podia eu simplesmente aprender?!
Pela simples razão de que havia uma hipótese, uma mera esperança dentro de mim, de que era possível voltar a sentir-me como sentia, de voltar a ser nova e apaixonada outra vez.
E por essa ínfima chance ali estava eu a pôr-me em risco outra vez.
Não aprendi nada. Talvez nunca aprenda...

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