Viagem
O meu jovem e brilhante coração estremece com a visão do céu tão pecadoramente azul, de um azul escuro e estrelado que parece nunca desaparecer. A lua cheia de um branco lívido fendia este esplendoroso céu, que só por si tornava a minha vida significativa.
Sentada na enorme varanda do meu novo quarto, com o computador no colo e os olhos esperançosos, não me podia impedir de me apaixonar torridamente por aquele sítio em que o cheiro a ar do mais puro se misturava com o aroma a laranjais, a protetor solar, a praia, a férias. Não podia deixar de prometer a mim própria que faria o que fosse preciso para, de alguma forma, voltar ali. Algum dia na minha vida, algures muito mais tarde.
A leve brisa quente fez-me fechar os olhos harmoniosamente, deleitada com todo aquele silêncio, com a visão da cidade calma e luminosa à distância, com o calor espontâneo. Apaixonei-me pela minha calma, pelo desaparecimento de toda e qualquer ansiedade, pela solidão. Apaixonei-me por conseguir finalmente pensar com lucidez, por conseguir respirar livremente, por ter todo o tempo de mundo para escrever, para admirar a paisagem, para ler ou simplesmente para pensar.
Apaixonei-me por conseguir tolerar músicas viciantes que eu odiaria no quotidiano. Por as dançar e as cantar livremente, sem me preocupar. Apaixonei-me por não ter de querer saber como estou vestida ou como está o cabelo ou qualquer dessas futilidades. Apaixonei-me por estar incrivelmente zen, por não ter de me concentrar realmente em nada. Apaixonei-me por conseguir tomar decisões de forma diferente. E, por fim, apaixonei-me por todos os meus sentidos, que me permitiam sentir a brisa leve no rosto, ver todo aquele espetáculo azul infinito que se propagava eternamente, sentir os sabores doces do verão precoce e desta terra tão longe da minha, cheirar o tal aroma característico que me derretia o peito e ouvir todas as palavras que me deleitavam, que soavam como mel, que ressoavam nos meus ouvidos.
Então, com esta nova mentalidade, eu pensei: porque não?
Não merecia aquilo que me podia proporcionar? Não procurava aquilo mesmo há demasiado tempo? Não procurava um conto de fadas, um daqueles amores cegos e imensuráveis de miúda? Não pretendia ficar completamente cega como já não ficava desde que me tinha tornado velha? Talvez tenha procurado longe demais, e a resposta estivesse mesmo à minha frente. E eu a estivesse a ignorar como pretensiosa que sou.
Não mereço uma história sórdida, extasiante? Então porque não me deixo simplesmente ir?
Continuo a ser racional e a saber que a minha personalidade errante vai ser uma dificuldade. Continuo a ter medo de me tornar de novo velha e perdida e infeliz. Mas, se eu mantivesse um controlo apertado sobre tudo, talvez fosse possível eu ter essa história perfeita que tanto procuro.
Quais são as alternativas? A solidão? Ou a entrada em algo normal, banal, que nunca será suficiente, que nunca será seguro?
Porque não entregar-me àquilo que sei poder dar-me o que eu quero, com tempo e com paciência? Até porque anseio ser jovem outra vez. Anseio os meus olhos brilhantes e cegos de raiva ou de paixão, anseio a torrente de pensamentos, anseio os suspiros, anseio a minha vida de novo, a vida que perdi há mais de um ano atrás. E se ser jovem para mim implica apaixonar-me loucamente, infantilmente, perdidamente, como acho que nunca mais me vai ser possível fazer, como acho que nunca me foi possível fazer, então seja.
Com cautela vou procurar essa história. Se bem que é impossível considerar ter cautela quando o calor leve nos entra nos poros, os nossos olhos se fecham de absoluto deleite, a nossa mente nos leva para breves saudades e a música que ele me sussurrava ao ouvido está a assentar suavemente e docemente no meu espírito e a dele jorrar como se fosse mel.
Sentada na enorme varanda do meu novo quarto, com o computador no colo e os olhos esperançosos, não me podia impedir de me apaixonar torridamente por aquele sítio em que o cheiro a ar do mais puro se misturava com o aroma a laranjais, a protetor solar, a praia, a férias. Não podia deixar de prometer a mim própria que faria o que fosse preciso para, de alguma forma, voltar ali. Algum dia na minha vida, algures muito mais tarde.
A leve brisa quente fez-me fechar os olhos harmoniosamente, deleitada com todo aquele silêncio, com a visão da cidade calma e luminosa à distância, com o calor espontâneo. Apaixonei-me pela minha calma, pelo desaparecimento de toda e qualquer ansiedade, pela solidão. Apaixonei-me por conseguir finalmente pensar com lucidez, por conseguir respirar livremente, por ter todo o tempo de mundo para escrever, para admirar a paisagem, para ler ou simplesmente para pensar.
Apaixonei-me por conseguir tolerar músicas viciantes que eu odiaria no quotidiano. Por as dançar e as cantar livremente, sem me preocupar. Apaixonei-me por não ter de querer saber como estou vestida ou como está o cabelo ou qualquer dessas futilidades. Apaixonei-me por estar incrivelmente zen, por não ter de me concentrar realmente em nada. Apaixonei-me por conseguir tomar decisões de forma diferente. E, por fim, apaixonei-me por todos os meus sentidos, que me permitiam sentir a brisa leve no rosto, ver todo aquele espetáculo azul infinito que se propagava eternamente, sentir os sabores doces do verão precoce e desta terra tão longe da minha, cheirar o tal aroma característico que me derretia o peito e ouvir todas as palavras que me deleitavam, que soavam como mel, que ressoavam nos meus ouvidos.
Então, com esta nova mentalidade, eu pensei: porque não?
Não merecia aquilo que me podia proporcionar? Não procurava aquilo mesmo há demasiado tempo? Não procurava um conto de fadas, um daqueles amores cegos e imensuráveis de miúda? Não pretendia ficar completamente cega como já não ficava desde que me tinha tornado velha? Talvez tenha procurado longe demais, e a resposta estivesse mesmo à minha frente. E eu a estivesse a ignorar como pretensiosa que sou.
Não mereço uma história sórdida, extasiante? Então porque não me deixo simplesmente ir?
Continuo a ser racional e a saber que a minha personalidade errante vai ser uma dificuldade. Continuo a ter medo de me tornar de novo velha e perdida e infeliz. Mas, se eu mantivesse um controlo apertado sobre tudo, talvez fosse possível eu ter essa história perfeita que tanto procuro.
Quais são as alternativas? A solidão? Ou a entrada em algo normal, banal, que nunca será suficiente, que nunca será seguro?
Porque não entregar-me àquilo que sei poder dar-me o que eu quero, com tempo e com paciência? Até porque anseio ser jovem outra vez. Anseio os meus olhos brilhantes e cegos de raiva ou de paixão, anseio a torrente de pensamentos, anseio os suspiros, anseio a minha vida de novo, a vida que perdi há mais de um ano atrás. E se ser jovem para mim implica apaixonar-me loucamente, infantilmente, perdidamente, como acho que nunca mais me vai ser possível fazer, como acho que nunca me foi possível fazer, então seja.
Com cautela vou procurar essa história. Se bem que é impossível considerar ter cautela quando o calor leve nos entra nos poros, os nossos olhos se fecham de absoluto deleite, a nossa mente nos leva para breves saudades e a música que ele me sussurrava ao ouvido está a assentar suavemente e docemente no meu espírito e a dele jorrar como se fosse mel.
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