Elos
Era uma vez um fino fio dourado. Apesar de fino, o fio era duro, forte. Mantinha duas realidades opostas para sempre juntas.
Estas duas realidades estiveram juntas durante algum tempo, criando este longo fio. No entanto, o tempo fez com que elas se separassem e com que alongassem o já de si longo fio. À medida que a distância entre estas realidades aumentava e à medida que a velocidade do tempo deixava tudo para trás o fio aumentava.
Chegou a um comprimento maior do que o das maiores torres do mundo.
Este fino fio doirado não era, porém, um fio regular. Estava cheio de cortes, rasgões, fendas e amaços. Fora cortado diversas vezes para depois ser reatado. Sempre que estava cortado tornava-se negro e era um rastilho que explodia nas realidades nas suas extremidades, alterando-as e tornando-as mais ferozes, mais distópicas, mais ridículas. Quando uma das realidades assim o decidia, esse fio era reatado com um pequeno nó, que restaurava a sua cor, que se propagava às realidades opostas, tornando-as brilhantes e harmoniosas.
Mas, a maior parte das vezes, este fio permanecia na sua imensidão, intocado. Nenhuma das entidades se lembrava dele, mas ele não ia a lado algum. Continuava duro, forte, mantendo estas realidades ligadas por meros pensamentos, por uma ligação que elas nunca saberiam explicar, mas que se estabelecera talvez eternamente.
Estas realidades lembravam-se desta ligação quando tudo parecia cair e desabar. Aí sentiam, dentro de si, aquele fio forte e eterno, tão distante, tão temporalmente distante. Mas ali estava, dentro delas, sabendo que poderiam dizer uma prece e que a outra realidade ouviria, de alguma forma, algures. Lembrando-as que um dia haviam criado aquele fio, mesmo que parecesse impossível.
Uma das realidades que viviam nas extremidades do fio era amarga, assertiva, corrosiva, falava pouco e vivia muito dentro de si, perdida em pensamentos. A outra, era sorridente, alegre, algo distraída, mole e com uma capacidade de martirização surpreendente. Falava muito e vivia excessivamente fora de si. Eram o exato contrário uma da outra, ou assim ambas pensavam e ambas esperavam. Haviam-se aproximado e afastado um milhão de vezes, impelidas e compelidas por aquele fio que as ligava.
Mas a vida avançava. E elas esqueciam-se uma da outra, esqueciam-se do fio que representava a sua ligação surpreendentemente forte. O tempo passava.
No entanto, haveria sempre um momento de tanto em tanto tempo, em que uma realidade se lembraria da outra, a imaginaria no seu estado eterno, sorriria por uns momentos, sentindo de novo o fio a ser puxado pelo outro lado, e, depois, voltaria à sua vida.
As realidades haviam decidido apartar-se de vez. Porque a vida avançava e o tempo não dava tempo para as recordações, para a nostalgia ou para as distrações. Mas, ao decidirem apartar-se eternamente, decidiram, também, manter o seu fio. O fio que as ligara e que o faria até que ambas se esquecessem dele de vez. Para que, quando tudo parecesse desabar e cair à sua volta, pudessem puxar por esse fio e sentir a outra realidade a sorrir, a compreender, a ouvir, a suspirar de desilusão, a cerrar o maxilar de saudade, ou a rir de orgulho.
A realidade mais amarga havia-se, com o tempo, tornado cega e entediada, não podendo já ver o doirado do fio e não sentindo por ele mais que tédio e desconforto. Isto porque esta realidade tinha melhor memória e, portanto, de cada vez que o fio era cortado, era também cortada uma parte de si. Ela muitas vezes sentia-se feliz por cortar essa parte de si. Mas não deixava de sentir o vazio. E, por vezes sem conta, perguntava-se quando pararia de sentir o fio dentro de si, quando voltaria a ver. A sua visão recuperava lentamente demais para uma realidade tão veloz e cheia de ferocidade.
A realidade mais alegre mantivera-se igual. Para sempre. O tempo e a vida amargurara-a um pouco, mas não o suficiente. Mantinha-se brincalhona e distraída, com sonhos mais altos do que o que podia alcançar.
A vida de ambas as realidades tornava-se cada vez mais rápida e distraída. Nenhuma das duas planeava alguma vez ver a outra. Se bem que não haveria maneira de saber se tal aconteceria, por acaso do tempo, por engano do destino. Ambas esperavam que não. Não tinham tempo para distrações, para perdições e para repetidas e eternas despedidas.
Limitar-se-iam a sentir aquele fio, aquela ligação, enquanto ela existisse. Enquanto ela não fosse, de novo, cortada.
Estas duas realidades estiveram juntas durante algum tempo, criando este longo fio. No entanto, o tempo fez com que elas se separassem e com que alongassem o já de si longo fio. À medida que a distância entre estas realidades aumentava e à medida que a velocidade do tempo deixava tudo para trás o fio aumentava.
Chegou a um comprimento maior do que o das maiores torres do mundo.
Este fino fio doirado não era, porém, um fio regular. Estava cheio de cortes, rasgões, fendas e amaços. Fora cortado diversas vezes para depois ser reatado. Sempre que estava cortado tornava-se negro e era um rastilho que explodia nas realidades nas suas extremidades, alterando-as e tornando-as mais ferozes, mais distópicas, mais ridículas. Quando uma das realidades assim o decidia, esse fio era reatado com um pequeno nó, que restaurava a sua cor, que se propagava às realidades opostas, tornando-as brilhantes e harmoniosas.
Mas, a maior parte das vezes, este fio permanecia na sua imensidão, intocado. Nenhuma das entidades se lembrava dele, mas ele não ia a lado algum. Continuava duro, forte, mantendo estas realidades ligadas por meros pensamentos, por uma ligação que elas nunca saberiam explicar, mas que se estabelecera talvez eternamente.
Estas realidades lembravam-se desta ligação quando tudo parecia cair e desabar. Aí sentiam, dentro de si, aquele fio forte e eterno, tão distante, tão temporalmente distante. Mas ali estava, dentro delas, sabendo que poderiam dizer uma prece e que a outra realidade ouviria, de alguma forma, algures. Lembrando-as que um dia haviam criado aquele fio, mesmo que parecesse impossível.
Uma das realidades que viviam nas extremidades do fio era amarga, assertiva, corrosiva, falava pouco e vivia muito dentro de si, perdida em pensamentos. A outra, era sorridente, alegre, algo distraída, mole e com uma capacidade de martirização surpreendente. Falava muito e vivia excessivamente fora de si. Eram o exato contrário uma da outra, ou assim ambas pensavam e ambas esperavam. Haviam-se aproximado e afastado um milhão de vezes, impelidas e compelidas por aquele fio que as ligava.
Mas a vida avançava. E elas esqueciam-se uma da outra, esqueciam-se do fio que representava a sua ligação surpreendentemente forte. O tempo passava.
No entanto, haveria sempre um momento de tanto em tanto tempo, em que uma realidade se lembraria da outra, a imaginaria no seu estado eterno, sorriria por uns momentos, sentindo de novo o fio a ser puxado pelo outro lado, e, depois, voltaria à sua vida.
As realidades haviam decidido apartar-se de vez. Porque a vida avançava e o tempo não dava tempo para as recordações, para a nostalgia ou para as distrações. Mas, ao decidirem apartar-se eternamente, decidiram, também, manter o seu fio. O fio que as ligara e que o faria até que ambas se esquecessem dele de vez. Para que, quando tudo parecesse desabar e cair à sua volta, pudessem puxar por esse fio e sentir a outra realidade a sorrir, a compreender, a ouvir, a suspirar de desilusão, a cerrar o maxilar de saudade, ou a rir de orgulho.
A realidade mais amarga havia-se, com o tempo, tornado cega e entediada, não podendo já ver o doirado do fio e não sentindo por ele mais que tédio e desconforto. Isto porque esta realidade tinha melhor memória e, portanto, de cada vez que o fio era cortado, era também cortada uma parte de si. Ela muitas vezes sentia-se feliz por cortar essa parte de si. Mas não deixava de sentir o vazio. E, por vezes sem conta, perguntava-se quando pararia de sentir o fio dentro de si, quando voltaria a ver. A sua visão recuperava lentamente demais para uma realidade tão veloz e cheia de ferocidade.
A realidade mais alegre mantivera-se igual. Para sempre. O tempo e a vida amargurara-a um pouco, mas não o suficiente. Mantinha-se brincalhona e distraída, com sonhos mais altos do que o que podia alcançar.
A vida de ambas as realidades tornava-se cada vez mais rápida e distraída. Nenhuma das duas planeava alguma vez ver a outra. Se bem que não haveria maneira de saber se tal aconteceria, por acaso do tempo, por engano do destino. Ambas esperavam que não. Não tinham tempo para distrações, para perdições e para repetidas e eternas despedidas.
Limitar-se-iam a sentir aquele fio, aquela ligação, enquanto ela existisse. Enquanto ela não fosse, de novo, cortada.
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