Amélia - I
O som dos tacões ecoava na rua escura e vazia. Ela era apenas uma sombra na solidão. Mesmo à luz ela seria apenas uma sombra. Não passava disso, de lixo solitário e supérfluo. Pelo menos, era assim que se via.
O seu aspeto mostrava exatamente a sua desistência da vida: os sapatos pretos, a saia mínima também preta, tal como o top e o casaco. Quando lhe perguntavam o porquê de tanta escuridão, ela sorria, com os lábios carregados de escárnio, e afirmava que estava de luto de si própria.
O seu corpo já tinha perdido as formas há muito tempo, o seu cabelo castanho já tinha perdido o brilho, tal como a sua pele já tinha perdido a sua cor saudável. Os seus olhos eram pretos, quase não sendo possível fazer a distinção entre a íris e o resto. Pequenas covas formavam-se à volta destes o que lhe escondia a verdadeira idade, acrescentando-lhe mais dez anos.
Apesar de tudo isto, ainda era excecionalmente bonita. Nunca tão bonita como há anos atrás, quando os seus olhos ainda se esbugalhavam de entusiasmo e o seu sorriso ainda era branco e honesto. Tinha deixado essa vida para trás quando os ''venenos'' abriram uma porta que não podia voltar a ser fechada. Quando Madalena, outra que era lixo humano, lhe tinha afirmado muito convicta que preferia a palavra veneno a droga, Amélia quase tinha caído de tanto rir.
Quando era outra pessoa teria feito um sorriso triste e um comentário elitista qualquer sobre a Sociedade. Sim, porque apesar de tudo, detestava a pessoa que tinha sido.
Mergulhada em falsidade, hipocrisia à qual chamam educação, dinheiro, preceitos da alta sociedade e numa religião falsa. Falsa, sim, porque que raio de Deus deixaria que ela vivesse assim, a definhar aos poucos, entre as ressacas e os vícios, a violência e a prostituição?
O seu aspeto mostrava exatamente a sua desistência da vida: os sapatos pretos, a saia mínima também preta, tal como o top e o casaco. Quando lhe perguntavam o porquê de tanta escuridão, ela sorria, com os lábios carregados de escárnio, e afirmava que estava de luto de si própria.
O seu corpo já tinha perdido as formas há muito tempo, o seu cabelo castanho já tinha perdido o brilho, tal como a sua pele já tinha perdido a sua cor saudável. Os seus olhos eram pretos, quase não sendo possível fazer a distinção entre a íris e o resto. Pequenas covas formavam-se à volta destes o que lhe escondia a verdadeira idade, acrescentando-lhe mais dez anos.
Apesar de tudo isto, ainda era excecionalmente bonita. Nunca tão bonita como há anos atrás, quando os seus olhos ainda se esbugalhavam de entusiasmo e o seu sorriso ainda era branco e honesto. Tinha deixado essa vida para trás quando os ''venenos'' abriram uma porta que não podia voltar a ser fechada. Quando Madalena, outra que era lixo humano, lhe tinha afirmado muito convicta que preferia a palavra veneno a droga, Amélia quase tinha caído de tanto rir.
Quando era outra pessoa teria feito um sorriso triste e um comentário elitista qualquer sobre a Sociedade. Sim, porque apesar de tudo, detestava a pessoa que tinha sido.
Mergulhada em falsidade, hipocrisia à qual chamam educação, dinheiro, preceitos da alta sociedade e numa religião falsa. Falsa, sim, porque que raio de Deus deixaria que ela vivesse assim, a definhar aos poucos, entre as ressacas e os vícios, a violência e a prostituição?
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