The ghost of days passed
"Se pensas que te odeio, enganas-te. Seria muito melhor, para mim e para ti, que te odiasse. Na verdade, creio que a ti não te faz diferença se eu te odeio ou não. Mas eu preferiria odiar-te.
Mas mais do que odiar-te, preferia que me fosses indiferente. Que pensar em ti não me pusesse nem um sorriso parvo na cara, nem me desse um aperto no peito. Gostava que depois daquele fatídico momento eu pudesse fazer de conta que não existes nem nunca exististe e que principalmente não vives em alguma parte de mim.
Ambos sabemos quão errado tudo isto é. Mais uma vez, parece-me que eu quero saber mais do que tu. Não me parece que ocupes muito espaço na tua mente a recriminar-te sobre seja o que for. Não és esse tipo de pessoa. Eu também não o sou, e parece que a minha falta de auto-recriminação tem chocado o mundo.
Apesar de preferir esquecer-te, como se nunca tivesse olhado, e quero dizer realmente olhado, para ti, quero agradecer-te. Fizeste-me sentir nova. Sou a pessoa mais rígida do mundo e sigo-me por padrões impossíveis de atingir. Mas sou humana, e sou uma miúda, e tu lembraste-me disso. Obrigada por me teres dado alguma luz no meio de toda a minha dormência adulta.
Obrigado por me teres feito sentir outra vez. Houve inúmeras sensações que eu achei estarem perdidas para a minha velhice precoce mas tu provaste-me errada. Ninguém me prova errada, principalmente no que toca a mim própria.
Eu sei que temos de nos despedir. Já disse a mim própria que estava na hora de nos despedirmos um milhão de vezes, mas dou por mim sempre a procurar-te nas multidões. Aquele formigueiro adolescente, mas agora com a calma adulta, assola-me sempre que acho que cheiro o teu perfume, ou sempre que acho que te vejo, a viver a tua vida, despreocupadamente e como se eu nunca tivesse existido. Mas não passa disso, nem nunca passará disso.
Há quem te ache pequeno demais para mim. Em múltiplos sentidos, mas acima de tudo porque te julgam pelas tuas ações de pessoa não rígida. Eu também te julgo, mas muito mais levemente do que eles. Talvez te devesse julgar com mais firmeza, talvez isso eliminasse as quimeras que assolam a minha cabeça quando imagino o teu sorriso da última vez que olhaste para mim.
Odeias-me? Talvez tenhas razão para isso. Pintaram-te de negro por minha causa quando na verdade eu não sou tão pura como eles me pintam. Já me odiavas antes? Não me olhas porque achas que sou demasiado pequena para ti?
Quero-me despedir, mas o último beijo que me deste prolonga-se na minha pele, e a maneira como me disseste algo de que te lembraste é uma imagem que não consigo tirar da cabeça. Saber que ocupo pelo menos uma parte ínfima das tuas memórias é uma sensação que não me quer abandonar.
Acho-te incrível. Não faço a mínima porquê, todos dizem que és lixo, pelo que fazes, mas eu acho-te incrível. Admito que tens os teus defeitos e tenho a suspeita dolorosa de que sou apenas a manifestação de um deles. Mas aos meus olhos brilhas como se fosses feito de ouro.
Não quero estar contigo, nem o posso fazer, mas também não te consigo esquecer. A tua indiferença magoa-me, e ao mesmo tempo é infinitamente conveniente. Gostava de a sentir, ou pelo menos de a imitar tão bem como tu.
Não sei bem quem tu és. Se quem és comigo é quem tu és, ou não. Mas quem quer que sejas, deixa-me esquecer-te. Isso não está nas tuas mãos, nem sei se estará nas minhas, mas deixa-me esquecer-te. Eu sei que virá o dia, num futuro espero eu próximo, mas mais provavelmente longínquo, em que me esquecerei que me fazias sorrir por razão nenhuma.
Adeus, mais uma vez. Pode ser que agora, passado todo este tempo, seja permanentemente."
Mas mais do que odiar-te, preferia que me fosses indiferente. Que pensar em ti não me pusesse nem um sorriso parvo na cara, nem me desse um aperto no peito. Gostava que depois daquele fatídico momento eu pudesse fazer de conta que não existes nem nunca exististe e que principalmente não vives em alguma parte de mim.
Ambos sabemos quão errado tudo isto é. Mais uma vez, parece-me que eu quero saber mais do que tu. Não me parece que ocupes muito espaço na tua mente a recriminar-te sobre seja o que for. Não és esse tipo de pessoa. Eu também não o sou, e parece que a minha falta de auto-recriminação tem chocado o mundo.
Apesar de preferir esquecer-te, como se nunca tivesse olhado, e quero dizer realmente olhado, para ti, quero agradecer-te. Fizeste-me sentir nova. Sou a pessoa mais rígida do mundo e sigo-me por padrões impossíveis de atingir. Mas sou humana, e sou uma miúda, e tu lembraste-me disso. Obrigada por me teres dado alguma luz no meio de toda a minha dormência adulta.
Obrigado por me teres feito sentir outra vez. Houve inúmeras sensações que eu achei estarem perdidas para a minha velhice precoce mas tu provaste-me errada. Ninguém me prova errada, principalmente no que toca a mim própria.
Eu sei que temos de nos despedir. Já disse a mim própria que estava na hora de nos despedirmos um milhão de vezes, mas dou por mim sempre a procurar-te nas multidões. Aquele formigueiro adolescente, mas agora com a calma adulta, assola-me sempre que acho que cheiro o teu perfume, ou sempre que acho que te vejo, a viver a tua vida, despreocupadamente e como se eu nunca tivesse existido. Mas não passa disso, nem nunca passará disso.
Há quem te ache pequeno demais para mim. Em múltiplos sentidos, mas acima de tudo porque te julgam pelas tuas ações de pessoa não rígida. Eu também te julgo, mas muito mais levemente do que eles. Talvez te devesse julgar com mais firmeza, talvez isso eliminasse as quimeras que assolam a minha cabeça quando imagino o teu sorriso da última vez que olhaste para mim.
Odeias-me? Talvez tenhas razão para isso. Pintaram-te de negro por minha causa quando na verdade eu não sou tão pura como eles me pintam. Já me odiavas antes? Não me olhas porque achas que sou demasiado pequena para ti?
Quero-me despedir, mas o último beijo que me deste prolonga-se na minha pele, e a maneira como me disseste algo de que te lembraste é uma imagem que não consigo tirar da cabeça. Saber que ocupo pelo menos uma parte ínfima das tuas memórias é uma sensação que não me quer abandonar.
Acho-te incrível. Não faço a mínima porquê, todos dizem que és lixo, pelo que fazes, mas eu acho-te incrível. Admito que tens os teus defeitos e tenho a suspeita dolorosa de que sou apenas a manifestação de um deles. Mas aos meus olhos brilhas como se fosses feito de ouro.
Não quero estar contigo, nem o posso fazer, mas também não te consigo esquecer. A tua indiferença magoa-me, e ao mesmo tempo é infinitamente conveniente. Gostava de a sentir, ou pelo menos de a imitar tão bem como tu.
Não sei bem quem tu és. Se quem és comigo é quem tu és, ou não. Mas quem quer que sejas, deixa-me esquecer-te. Isso não está nas tuas mãos, nem sei se estará nas minhas, mas deixa-me esquecer-te. Eu sei que virá o dia, num futuro espero eu próximo, mas mais provavelmente longínquo, em que me esquecerei que me fazias sorrir por razão nenhuma.
Adeus, mais uma vez. Pode ser que agora, passado todo este tempo, seja permanentemente."
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