Paranóia
Quando é que tudo se tornou tão real? Quando é que fiquei tão lúcida? Quando é que deixei de saber tudo, de ver tudo, de perceber tudo?
Quando é que me tornei um peão na minha própria vida, deixando-me ficar apenas a ver?
Para onde foi a estabilidade? Para onde foram os pensamentos cinzentos em dias aborrecidos, sempre iguais? Para onde foram os dias irrelevantes, sem preocupações para além de acordar no dia seguinte e fazer tudo de novo?
Tudo parece demasiado mudado, demasiado cheio e vazio. Já não sei a que me agarrar. Já não existem constantes. Já nada na minha vida é constante ou perpetuamente aborrecido.
Parece que a cada semana vem um novo desafio, uma nova montanha. E eu dou por mim já demasiado cansada e extenuada para continuar. Dou por mim sem conseguir desligar, sem me conseguir esquecer. Tudo é uma presença ubíqua na minha mente.
Ser pessimista fazia-me melhor à saúde. A partir do momento em que passei a ter esperança, passei a morrer aos bocados.
Cada lasca nos meus poucos pertences materiais me mata. Cada fenda que encontro em conversas vazias mas cheias de rancor, em silêncios constrangidos, em noites turbulentas, e dias preocupados.
Já não sei se posso confiar nos meus próprios pensamentos, estando eles tão imbuídos de esperança e desilusão simultâneas.
A dor contundente, a ansiedade que me matava desapareceu. Mas a sua passagem tornou-me noutra pessoa. Dou por mim muitas vezes a preferir regressar ao estado de desespero magoado do que a este simples transe da ignorância.
Parte de mim não acredita. Afinal, nada de mal pode acontecer a alguém como eu. Nada de realmente mal.Ou será que pode? Será que realmente o mundo é aleatório e cruel? Ou será que Deus chegou à conclusão que eu afinal sempre não sou nada de mais e que mereço tanto castigo como todos os outros?
Posso garantir que nunca na minha vida achei que chegaria a este ponto. Apesar de todo o meu pessimismo sempre acreditei em mim. E na minha responsabilidade, e na minha cabeça. Por alguma razão, isso pareceu suficiente, como se o mundo não fosse feito de circunstâncias incontroláveis.
Eu vou morrer um dia. E, mais do que isso, a vida não vai ser como eu disse. Percebi isso há largos meses, mas é uma realidade que ainda dói e vai sempre doer.
Não sei quem sou sem uma vida definida, sem os meus passos controlados, à mercê da maré. Não sei o que vai acontecer se a maré me apanhar e me derrubar.
Haverá alguma escapatória? E eu tomá-la-ei?
���������� mal comecei a ler e já via um pouco de mim nas tuas palavras, talvez um pouco de cada um e um pouco de ninguém! "Ser pessimista fazia-me melhor à saúde..." demasiado "eu"!
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