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A mostrar mensagens de abril, 2015

Laços Proibidos - II

Tu viste-me. E, pela primeira vez em muito tempo, eu senti-me vista. Após uma vida a atravessar olhares, alguns dos quais supostamente eram afáveis, amigáveis e até amorosos, só a tua visão me despertou. Eu vi-te. E não haveria mais nada a dizer, mesmo que eu te pudesse dizer algo. Mas eras tu. E eu vi-te, como nunca me lembro de alguma vez querer ver alguém. Ou, antes, como não vejo ninguém há muito tempo. Tudo é lavado de mim com naturalidade, como se nada se tivesse alterado. Menos tu. Mais uma vez, tudo o que posso fazer é ver-te. Ver-te, olhar para ti, reparar em ti. Não posso, nem nunca poderei fazer mais. Tenho esta vontade intensa, esta sensação de dejá vu . E, de alguma forma, sei que já te conheci, num qualquer Universo, numa qualquer realidade. É a única maneira de explicar esta ligação astronómica, esta atração intrínseca. Esqueço-me de ti, várias vezes, vários dias. Mas quando me lembro de ti, é de forma estrondosa. Como se todas as luas de Júpiter se alinhassem. Se...

Finais cansados

Todas as minhas memórias estão distorcidas de cansaço. Todos os meus dias estão repletos de um cansaço transversal e de uma saturação impaciente. Um cansaço melancólico, um cansaço ignorante, um cansaço imaturo. Não tenho mais energia, nem tenho mais nada para dar. Sinto-me, de novo, como milhões de hectares de uma floresta queimados até não sobrar mais. Queimado todas as vezes em que sou uma pessoa que não conheço, todas as vezes em que não disse o que queria ou o que devia, todas as vezes em que tenho de me limitar e controlar. Queima-me a perda, mas nem sei de quem nem do quê, talvez da minha paciência, de mim, ou de qualquer outra coisa. Estou cansada de mim. Cansada da sensação vertiginosa de prisão que tenho mas que mais ninguém tem, da necessidade premente de me destacar, da necessidade urgente de falar, cansada da ânsia por algo que não conseguiria aguentar. Estou demasiado cansada de ter personalidade. Desejo ser comum, gostar do que os outros gostam, viver na banal...

Opostos não se atraem

Continuo a imaginá-lo. Perdido na sua ingenuidade, na sua inocência. Sem saber na realidade o que faz. Perdido neste mundo. Ele nunca foi pessoa de planos sólidos, nunca foi pessoa de Planos B, de planos de segurança. Ele sempre viveu na espontaneidade das suas emoções. E é essa a maior fraqueza dele: não haver um único osso calculista e/ou racional no seu corpo. Ele é só um rapaz brincalhão, nunca passou disso. Torna-se cada vez mais claro à medida que eu me aproximo da maturidade. Ele nunca passou do pouco que ele é. Eu, por outro lado, passei de muito. Passei de muitas marcas, muitos limites. Passei-me a mim mesma. Sou uma pessoa tão diferente que sou quase irreconhecível, não fosse o meu rosto o mesmo. Sempre fui emocionalmente limitada, mas nunca tanto como agora. Sempre tive problemas com compromissos, mas nunca tanto como agora. Sempre me saturei depressa, mas nunca... Eu sempre fui um porto seguro. Sempre tive planos B, sempre fui confiável, sólida e responsável. Feliz ou...

Laços proibidos

Querido amigo, Talvez não te devesse escrever. Afinal, que te posso eu dizer? Não é que alguém fisicamente me impeça, mas impede-me muito. Impede-me a minha vida, impede-me a tua, impede-me as vidas alheias. Não te posso dizer muito, mas queria apenas que soubesses o pouco que eu te posso dar. Desde aquele dia que não me esqueço de nada. Sempre fui amaldiçoada com uma memória perfeita, que não falha mesmo quando está afogada. Portanto, só queria que soubesses que não me esqueci. Por muito irracional que eu considere que isso seja, por muito que não faça sentido. Não me esqueci. Já me tentei convencer que o que passou, passou, mas não consigo acreditar mesmo nisso. O que é bastante irregular, porque quando me convenço de algo, tenho tendência a deixar a dúvida para trás. Mas não desta vez. Não é que estas palavras vão fazer qualquer diferença. Apenas as escrevo na vaga esperança que tu as leias ou na vaga esperança de que o escrevê-las me ajude a ultrapassar(-te). Tenho a certeza...

Eu e Tu

Eu e Tu. Nunca Tu e Eu. Nunca Nós. Eu e Tu. Tu és o meu refúgio. Após um longo dia posso sempre voltar e mergulhar nos teus braços cansados, que estão sempre abertos mesmo quando preferiam estar fechados. E, aí, posso finalmente dormir um sono pesado, confortável e confiante, de alguém que finalmente encontrou o seu lugar. Eu e Tu vivemos a vida com rapidez mas vivemo-nos com lentidão e calma, como se entrássemos no mar e quiséssemos estar sempre à deriva. Eu e Tu vemo-nos de olhos fechados. Só de olhos fechados sabemos quem o outro é, como é e porque o é. E quando abrimos os olhos, somos só nós, sem máscaras e sem artifícios, só Eu e Tu. Os meus olhos pousam nos doces lagos verdes que são os teus olhos e fitam-te com a mesma expressão de seriedade e perdição. E neste mundo não há mais nada nem mais ninguém. Todas as guerras são irrelevantes, todos os sons deixam de existir. Só existo Eu e só existes Tu. Tudo é ou calma absoluta ou um furacão infinito. Ou estou absolutamente plác...

1 hora no passado ou 10 minutos no futuro?

Imaginando que nos é possível viajar no tempo, dentro da nossa própria vida, fá-lo-íamos? E para onde iríamos?Para o passado ou para o futuro? Acredito piamente que "o que não sabemos não nos pode magoar", portanto, nunca iria para o futuro. Sempre para o passado. Sou uma pessoa agarrada a rotinas e passados. Por exemplo, em vez de ver um programa novo na televisão prefiro ver sempre um episódio já repetido. Em vez de ler um livro novo, prefiro sempre voltar a ler um velho. Voltaria, portanto, para o passado. A questão é para quando? E poderia ir para mais de um tempo? Para mais de um lugar? E ao voltar, seria eu ou a pessoa que eu era na altura? Há tantos tempos onde eu gostaria de ir... Queria poder ver por uns minutos, a criança que fui, no seu dia mais feliz. Depois gostaria de poder avisar a miúda ingénua que fui, contar-lhe dos maus caminhos, dizer-lhe para onde ir, e quais as consequências de seguir o caminho que eu, efetivamente, segui. E, demorando cerca de meia...