"E depois do Adeus" (?)
Dear ,
Sonhei contigo esta noite. Tal como na noite anterior e na noite anterior.
Sonhei contigo como sonho de muito em muito tempo, apenas para me relembrar de ti e do sítio onde pertences.
As coisas não têm andado muito bem. Não têm andado mal, mas também não têm andado bem.
Sinto que já não sei quem sou. Ou o que vou fazer, ou como o vou fazer.
Não estou feliz. Sou feliz, mas não estou feliz. As ondas de mudança começam a precipitar-se e a engolir-me e eu já nem sei se quero que elas se despachem para que a pessoa que eu sou desapareça rapidamente ou se quero que elas abrandem, para que a dor seja mais lenta e dolorosa.
A minha alma começa a sentir-se desajustada para este corpo. Muito velha para a idade que este corpo tem, muito nova para a idade para que este corpo vai.
Talvez esteja simplesmente a ser melodramática.
Desculpa. Não tenho nada por que te pedir desculpa e por isso peço desculpa. Desculpa por não ter sabido quem sou sem ti. Desculpa por nunca ter conseguido admitir que precisava de ti. Desculpa por nunca ter precisado de ti. A não ser agora. Só preciso de ti agora, que já não me lembro quem és a maior parte das vezes. Perdoa-me por só precisar de ti agora. Perdoa-me por nem sequer saber como se precisa de alguém.
Sonhei contigo esta noite. Acho que ambos sabemos porquê. Tu apenas representas quem eu era. A pessoa que eu quero manter e a pessoa que já não sou desde que decidi começar a ser prudente e tudo menos eu. Tu és a minha juventude. Uma juventude enorme e protetora, que parecia já não existir dentro de mim mas mesmo assim existia fora de mim, sempre alerta e à minha espera.
Mas eu tenho de deixar essa juventude ir. Da mesma forma que te deixei ir. Dolorosa e tortuosamente, com muitas relutâncias, desilusões e medos.
Tenho saudades tuas. Mas não tenho saudades tuas. Tenho saudades de quem tu eras. E de quem eu era quando tu existias. Tenho saudades de quando não tinha de me preocupar com o meu futuro e tudo era uma coisa de cada vez. Tenho saudades de quando tinha tempo.
Tenho saudades tuas. Não tuas, da pessoa que tu foste, mas que tem a tua cara. Tenho saudades dessa pessoa. Vou ter sempre saudades dessa pessoa. Sempre.
Tenho pena e ao mesmo tempo orgulho de que me tenhas conhecido quando era forte, jovem, imprudente e divertida. Lamento e agradeço que não me conheças agora que sou fraca, aborrecida e velha de uma velhice inadequada e tortuosa.
Queria poder pedir aquilo que nunca pedi quando era altura. Queria poder enrolar-me nos teus braços e sentir que tudo estava bem. Esta é a primeira vez que admito isto a mim própria. Um chumbo no meu orgulho, uma faca na minha racionalidade, mas a verdade do meu coração.
Mas isso não é a resposta, Tu não és a resposta. Tu nunca foste a resposta, por muito que eu te tivesse usado para responder a muitas perguntas.
Desculpa. Desculpa por me estar a desculpar a ti e não a mim. Tu não tens nada a ver com isto, nem comigo. Tu não existes, a não ser na minha memória. E, pelos vistos, nos meus sonhos.
Desculpa estar a implicar-te onde não és chamado.
Desculpa.
Eu nem sequer sei pelo que estou a pedir desculpa.
Desculpa ter obrigado quem tu eras a existir na minha memória, quando tu obviamente já não queres que essa pessoa, que és tu, exista.
Estou a passar por uma fase baixa.
Prometo que isto me passa, assim que eu tomar as rédeas da minha vida outra vez.
Mas enquanto isso não acontecer, não vou deixar de nos imaginar, ao sol. E eu a afogar as minhas mágoas no teu peito, enquanto os raios de luz se tornam oblíquos. E tudo o que existe à nossa frente é praia e sol e mar e um infinito de nada.
Acho que ambos sabemos que terei sempre essa imagem guardada no canto mais escondido do meu cérebro.
Lamento, também, por isso.
Lamento ter de te obrigar, ou antes, a quem tu eras, a ficar a olhar para o nada comigo.
Desculpa.
Vou tentar voltar a ser quem era, a pessoa a quem este corpo realmente pertence e não a velha magoada e usada que vive dentro deste corpo. Vou tentar voltar a ser íntegra e uma muralha.
E prometo que não vou precisar mais da memória de quem tu eras. Não vou deixar que essa memória volte a reinar o meu pensamento. Que se mantenha onde pertence: na parte do meu cérebro onde está o que eu me esqueço mas que nunca vou esquecer.
Não vou voltar a sonhar contigo.
Desculpa.
Se estiveres a ler isto, sabe que não quero que voltes. Sob nenhuma forma. Apenas quero que saibas isto, que é mais do que eu alguma vez te disse e alguma vez vou dizer. E sabe que espero que a pessoa que és agora tenha tudo o que quer. Mas sabe também que eu não quero que a pessoa que és agora intervenha, ou que volte. Não voltes. Aliás, existe o mais longe de mim possível. E, aí consegue tudo o que queres.
Vou-me controlar. Vou-me recompor. Vou tomar decisões e mudar. Prometo.
Um dos últimos adeus para sempre:
Adeus.
Sonhei contigo esta noite. Tal como na noite anterior e na noite anterior.
Sonhei contigo como sonho de muito em muito tempo, apenas para me relembrar de ti e do sítio onde pertences.
As coisas não têm andado muito bem. Não têm andado mal, mas também não têm andado bem.
Sinto que já não sei quem sou. Ou o que vou fazer, ou como o vou fazer.
Não estou feliz. Sou feliz, mas não estou feliz. As ondas de mudança começam a precipitar-se e a engolir-me e eu já nem sei se quero que elas se despachem para que a pessoa que eu sou desapareça rapidamente ou se quero que elas abrandem, para que a dor seja mais lenta e dolorosa.
A minha alma começa a sentir-se desajustada para este corpo. Muito velha para a idade que este corpo tem, muito nova para a idade para que este corpo vai.
Talvez esteja simplesmente a ser melodramática.
Desculpa. Não tenho nada por que te pedir desculpa e por isso peço desculpa. Desculpa por não ter sabido quem sou sem ti. Desculpa por nunca ter conseguido admitir que precisava de ti. Desculpa por nunca ter precisado de ti. A não ser agora. Só preciso de ti agora, que já não me lembro quem és a maior parte das vezes. Perdoa-me por só precisar de ti agora. Perdoa-me por nem sequer saber como se precisa de alguém.
Sonhei contigo esta noite. Acho que ambos sabemos porquê. Tu apenas representas quem eu era. A pessoa que eu quero manter e a pessoa que já não sou desde que decidi começar a ser prudente e tudo menos eu. Tu és a minha juventude. Uma juventude enorme e protetora, que parecia já não existir dentro de mim mas mesmo assim existia fora de mim, sempre alerta e à minha espera.
Mas eu tenho de deixar essa juventude ir. Da mesma forma que te deixei ir. Dolorosa e tortuosamente, com muitas relutâncias, desilusões e medos.
Tenho saudades tuas. Mas não tenho saudades tuas. Tenho saudades de quem tu eras. E de quem eu era quando tu existias. Tenho saudades de quando não tinha de me preocupar com o meu futuro e tudo era uma coisa de cada vez. Tenho saudades de quando tinha tempo.
Tenho saudades tuas. Não tuas, da pessoa que tu foste, mas que tem a tua cara. Tenho saudades dessa pessoa. Vou ter sempre saudades dessa pessoa. Sempre.
Tenho pena e ao mesmo tempo orgulho de que me tenhas conhecido quando era forte, jovem, imprudente e divertida. Lamento e agradeço que não me conheças agora que sou fraca, aborrecida e velha de uma velhice inadequada e tortuosa.
Queria poder pedir aquilo que nunca pedi quando era altura. Queria poder enrolar-me nos teus braços e sentir que tudo estava bem. Esta é a primeira vez que admito isto a mim própria. Um chumbo no meu orgulho, uma faca na minha racionalidade, mas a verdade do meu coração.
Mas isso não é a resposta, Tu não és a resposta. Tu nunca foste a resposta, por muito que eu te tivesse usado para responder a muitas perguntas.
Desculpa. Desculpa por me estar a desculpar a ti e não a mim. Tu não tens nada a ver com isto, nem comigo. Tu não existes, a não ser na minha memória. E, pelos vistos, nos meus sonhos.
Desculpa estar a implicar-te onde não és chamado.
Desculpa.
Eu nem sequer sei pelo que estou a pedir desculpa.
Desculpa ter obrigado quem tu eras a existir na minha memória, quando tu obviamente já não queres que essa pessoa, que és tu, exista.
Estou a passar por uma fase baixa.
Prometo que isto me passa, assim que eu tomar as rédeas da minha vida outra vez.
Mas enquanto isso não acontecer, não vou deixar de nos imaginar, ao sol. E eu a afogar as minhas mágoas no teu peito, enquanto os raios de luz se tornam oblíquos. E tudo o que existe à nossa frente é praia e sol e mar e um infinito de nada.
Acho que ambos sabemos que terei sempre essa imagem guardada no canto mais escondido do meu cérebro.
Lamento, também, por isso.
Lamento ter de te obrigar, ou antes, a quem tu eras, a ficar a olhar para o nada comigo.
Desculpa.
Vou tentar voltar a ser quem era, a pessoa a quem este corpo realmente pertence e não a velha magoada e usada que vive dentro deste corpo. Vou tentar voltar a ser íntegra e uma muralha.
E prometo que não vou precisar mais da memória de quem tu eras. Não vou deixar que essa memória volte a reinar o meu pensamento. Que se mantenha onde pertence: na parte do meu cérebro onde está o que eu me esqueço mas que nunca vou esquecer.
Não vou voltar a sonhar contigo.
Desculpa.
Se estiveres a ler isto, sabe que não quero que voltes. Sob nenhuma forma. Apenas quero que saibas isto, que é mais do que eu alguma vez te disse e alguma vez vou dizer. E sabe que espero que a pessoa que és agora tenha tudo o que quer. Mas sabe também que eu não quero que a pessoa que és agora intervenha, ou que volte. Não voltes. Aliás, existe o mais longe de mim possível. E, aí consegue tudo o que queres.
Vou-me controlar. Vou-me recompor. Vou tomar decisões e mudar. Prometo.
Um dos últimos adeus para sempre:
Adeus.
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