O que será, será.
Os dias passam leves, lentos e simples. Não tenho memória de acontecimento nenhum, porque nenhum acontecimento é digno de memória. A minha mente entrou numa fase de estagnação absoluta, e assim sendo, o passado não existe, o futuro também não. Não me lembro do que fiz ontem, do que fiz na semana passada, no mês passado. Felizmente, também não me lembro, ou lembro-me apenas lassamente e com uma indiferença extrema, do que me gastou no mês passado, no ano passado, numa vida passada. Do que me ofendeu ontem. Não me lembro do que é sentir. Ou, antes, não me lembro do que é sentir seja o que for que não seja esta vaga vontade de me libertar das obrigações, que estão já em contagem decrescente, ou esta resignação alegre da estagnação. O meu ser desistiu de se sentir revoltado, indignado. Desistiu de lutar por um breve período e decidiu hibernar, ou estivar, aliás. Todas as injustiças do mundo ainda lá estarão daqui a umas semanas, todas as minhas causas podem esperar. Toda a teoria sobre t...