O Fogo
Dei por mim a fitar um sol encadeante e a respirar um ar fresco que me lembrou velhos verões. Estávamos a meio de um inverno primaveril, que me enchia de esperança quando não havia mais esperança nenhuma.
Eram esses dias, os lindos e resplandecentes, que me faziam perceber o quão dizimada me sentia. Em todos os outros dias eu era feliz, equilibrada. Mas nestes dias, com um sorriso de contemplação no rosto a olhar para a paisagem verde e fértil, eu percebia o quão queimada e o quão feita em cinzas eu estava. Essa sensação não me impedia de continuar a ser feliz e equilibrada, apenas me enchia de uma letargia temporária que eu não sabia contornar.
O frio acabava por voltar e eu podia voltar a ignorar os meus problemas. Chamar-lhes problemas é um exagero. Não há palavra correta para descrever a sensação de ser uma floresta aniquilada por um fogo que se extinguiu. Há apenas a espera, a longa espera pela regeneração, pela volta à superfície, pelo retorno à realidade. E eu sabia que começava a regenerar-me. Sabia, aliás, que estava muito melhor do que esperei estar, assim de repente e sem aviso.
No entanto, naqueles dias brilhantes e sem cinza alguma, eu era inundada por uma nostalgia profunda. Essa nostalgia impedia-me de pensar corretamente ou de agir racionalmente. Obrigava-me a lembrar-me de momentos que eu quase já esquecera ou a sacudir a cabeça para não inventar novos.
Eu estou curada. Após meses de reabilitação, eu sei que estou curada de um vício destruidor da minha saúde, da minha paciência e da minha mente. Portanto, estes momentos de lucidez deprimente eram desnecessários e uma grande perda de tempo. Mas eram insistentes. E neste lindo dia de domingo, em que a primavera domina o inverno, em que o sorriso domina o meu rosto, as cinzas dominam também a minha alma. A minha pobre, queimada e velha alma.
Eram esses dias, os lindos e resplandecentes, que me faziam perceber o quão dizimada me sentia. Em todos os outros dias eu era feliz, equilibrada. Mas nestes dias, com um sorriso de contemplação no rosto a olhar para a paisagem verde e fértil, eu percebia o quão queimada e o quão feita em cinzas eu estava. Essa sensação não me impedia de continuar a ser feliz e equilibrada, apenas me enchia de uma letargia temporária que eu não sabia contornar.
O frio acabava por voltar e eu podia voltar a ignorar os meus problemas. Chamar-lhes problemas é um exagero. Não há palavra correta para descrever a sensação de ser uma floresta aniquilada por um fogo que se extinguiu. Há apenas a espera, a longa espera pela regeneração, pela volta à superfície, pelo retorno à realidade. E eu sabia que começava a regenerar-me. Sabia, aliás, que estava muito melhor do que esperei estar, assim de repente e sem aviso.
No entanto, naqueles dias brilhantes e sem cinza alguma, eu era inundada por uma nostalgia profunda. Essa nostalgia impedia-me de pensar corretamente ou de agir racionalmente. Obrigava-me a lembrar-me de momentos que eu quase já esquecera ou a sacudir a cabeça para não inventar novos.
Eu estou curada. Após meses de reabilitação, eu sei que estou curada de um vício destruidor da minha saúde, da minha paciência e da minha mente. Portanto, estes momentos de lucidez deprimente eram desnecessários e uma grande perda de tempo. Mas eram insistentes. E neste lindo dia de domingo, em que a primavera domina o inverno, em que o sorriso domina o meu rosto, as cinzas dominam também a minha alma. A minha pobre, queimada e velha alma.
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