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A mostrar mensagens de novembro, 2014

Finais

Tudo tem um fim. Tal como eu sempre apregoei. Seria de esperar que me regozijasse pela minha vitória em todas as discussões alguma vez tidas sobre o assunto. Não o faço. Sinceramente, não o quero fazer. Que consolação nos traz o fim? Nenhuma. Espero que, de facto, lhe traga alívio. Mas a mim não me traz nada. Não tenciono esperar desta vez. A minha personalidade foi alterada para sempre por aquele tempo em que esperei incessantemente. Não vou voltar a esperar. O pessimismo instalou-se nos meus ossos e a minha energia foi-me completamente drenada. O entusiasmo, o real entusiasmo, já não vive em mim. Porquê? Mágoa? Não, solidão. O tempo passa e escorre-me por entre os dedos e eu nem me esforço por o fazer valer. Para quê? Por ser o último ano? Para ser memorável? Que se lixe. O tempo passa e eu, apesar do terror que me provocará crescer, apenas quero que ele corra até eu já não ter memória, até ao fim. O fim não me trouxe nada que não memórias indiferentes e solidão. Estes três an...

Percalços

Nesta tarde cinzenta e típica do fim de novembro, quero contar a história que já contei um milhão de vezes. Mas não o posso fazer, porque já não há mais a dizer. Já gastei todas as palavras, já passou todo o tempo na ampulheta, já se esvaiu de mim sem se esvair todos estes anos. Porque não sinto um pingo de amargura ou ódio a fluir-me debaixo da pele, portanto não posso discutir comigo mesma. Apenas saudades e cansaço. Saudades do tempo em que eu não via o mau em tudo. Saudades do tempo em que eu nunca estaria sozinha, apesar de me sentir sempre e irremediavelmente sozinha. E com isto não me refiro ao tempo em que era abafada sem o ser. Refiro-me ao tempo em que novembro significava proximidade ao natal, castanhas, frio e lareiras. Agora, apenas significa o tempo a escorrer dos meus dedos. O meu último novembro antes da minha vida dar a maior volta possível. E eu, que detesto mudanças, luto com esta com todas as minhas forças. Luto com o fim da minha infância. Não estou pronta, de man...

Condolências

O movimento violento fê-la levantar-se. Continuou a desferir o punho no ar, como se lhe fosse dar alguma solução, como se a fosse confortar. Mas não estava a ajudar. E, com o suor a misturar-se com as lágrimas, os olhos enlouquecidos de dor e desespero, sabia que não podia parar. Estava presa. E, nessa prisão, perdera os melhores anos da sua vida. A cama continuava revolta, o som do silêncio pesava na casa enorme. O único som era o da respiração ofegante dela, que finalmente parara de esmurrar o ar e caíra sem ruído no chão, dobrando-se sobre si própria, num choro que a sufocava. Não conseguia mais. Estava presa, exausta, desgastada a um ponto tão precoce. O enorme cabelo liso dela tapava-lhe o rosto. Não se atrevia a ligar a luz, não se atrevia a ver-se ao espelho. Sabia o aspeto que tinha: o aspeto de quem quer morrer. E não se queria ver assim. Sabia quem era, e não era do género de pessoas que se deixa morrer. Não era do género de pessoa que se perdia numa relação. Era do género...

Cemitérios

O meu cabelo abanava muito suavemente com a brisa gradualmente mais fria. Mas os meus olhos não reparavam. Estavam perdidos nas colinas verdes e desertas que se espalhavam na minha vista. E, por uns meros segundos, esqueci-me da inconveniência daquele dia. Esqueci-me de onde estava e de todas as razões pelas quais detesto aquela terra perdida no meio do fim do distrito a que eu chamo meu. Tentava ouvir o que me rodeava. O maravilhoso som do silêncio, como lhe chamava o meu pai. O som da absoluta paz, onde eu sinto que finalmente pertencia. E, ali, onde os meus ouvidos ouviam o som que foram feitos para ouvir, pareceram-me ainda mais fúteis as palavras. Falamos demais. Esquecera-me do quanto gostava de ouvir, pela simples razão de também gostar de ouvir a minha própria voz. A minha não melodiosa mas rude voz, que sempre tinha muito para dizer. Mas, às vezes, sentia a extrema falta do silêncio. O silêncio das noites de inverno. Da minha felicidade que transborda de festividades, de des...