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A mostrar mensagens de maio, 2014

Just some lover

Gosto de ter o controlo. Todos sabemos do que estou a falar. Daquela sensação de superioridade, de se ser quem decide, de ter quem dependa de nós e não depender de ninguém. Gosto de saber, aliás, o meu enorme, esplendoroso e dominante ego, gosta de saber que tudo depende da sua decisão. Tudo depende de si. Preciso de ter o controlo. Percebi recentemente que, a partir do momento que não sou eu a controlar, perco também o controlo de mim mesma. Parece que deixo de saber existir, flutuando entre a imensa letargia e a alegria suave. Parece que entreguei o controlo remoto das minhas emoções a alguém que não sabe lidar com elas. Correção: a alguém que sabe perfeitamente lidar com elas e prime todos os botões para propositadamente as desequilibrar. Ultimamente sinto-me uma heroína romântica. Para vocês que não sabem o que isso quer dizer, significa que sou a típica mulher antiga, submissa, sofredora por tudo e por nada, com umas emoções excessivamente ativas. Sinto-me precisament...

Presságios

Abri os olhos. A escuridão clara atingiu-me e abafou o meu sufoco de desespero. E, ali fiquei, deitada e a fitar o teto invisível do meu quarto. A minha respiração estava a ser progressivamente controlada. O mesmo para os meus olhos. Sabia que era demasiado cedo para acordar, mas agradecia tê-lo feito. Preferia até ter acordado antes de os meus sonhos terem decidido atormentar-me… Tinha sido tão real… E o que mais me incomodava era aquela sensação de desilusão no peito, aquela que eu já devia ter perdido há tanto tempo, aquela que me obrigava a reprimir todos os átomos do meu ser para não desabar sobre mim própria. Não percebera o porquê do sonho, não percebera porquê que o meu inconsciente se lembrara de algo que eu já tinha esquecido e que estava bem enterrado nos recônditos da minha mente. Olhei para o relógio. O despertador não tocaria até daí a meia hora. Pensei em voltar a dormir. Mas sabia que depois daquele sonho, tudo o que veria ao fechar os olhos seria a imagem que me a...

Aprendizagens

Cheguei à irónica conclusão de que os anos passam mas eu não aprendo nada com eles. Mudo um milhão de vezes a cada ano, revoluciono-me interiormente a cada semana, mas não aprendo. Não aprendi nada com os meus erros. Tenho a sensação que os faria vezes sem conta se tivesse oportunidade para tal. Tenho a certeza que faria tudo outra vez, como se todo o meu passado nunca tivesse acontecido, como se os meus erros não tivessem sido cruzes que eu tive de carregar. Não mudei. Talvez tenha crescido, mas não mudei. No máximo, aprendi a distinguir o certo do errado. Aliás, nem isso aprendi, porque cada pessoa tem a sua distinção e a minha é substancialmente diferente das convencionais. Cresci, porque agora sei o porquê de ser errado tudo o que faço. Mas mesmo assim vejo-me a fazê-lo. E a história repete-se como num ciclo sem fim, para sempre. Estou condenada à minha estupidez eterna, à minha ingenuidade forçada, à minha inocência desconfiada... Só isso justifica as minhas ações, só isso exp...

Pobre (de) Espírito!

A escuridão começava a abater-se sobre ela. Curvava-se em cima de si própria, tentando salvar-se, tentando resgatar-se. O seu corpo tremia entre as leves convulsões típicas, as suas mãos tentavam alcançar algo inatingível. As cortinas estavam cerradas porque ela não se queria ver, não queria que por um qualquer equívoco se visse no espelho. Sentada no tapete felpudo e atormentada pelas brutalidades da vida, deixava assim o mundo desabar em cima dela. Deixava-se escorregar no desespero, na ansiedade, na tão profunda tristeza dos dias anteriores. Deixava o silêncio surdo perfurar-lhe os ouvidos, deixava todas as suas cicatrizes sangrarem sem parar. O seu rosto molhado desfazia-se na mais pura expressão de horror, de sofrimento, nascido após tantas noites sem dormir, abandonada aos seus pesadelos acordados, nascido no meio do seu nervosismo corrosivo, que lhe remoía as entradas ao ponto de lhe retirar a fome, ao ponto de sentir o ataque de pânico a subir-lhe no peito e ter de controlar ...