''Tempo, tempo, que não volta atrás. Nem sempre há remendo para as asneiras que se faz.''
As sombras movem-se na meia escuridão. Sombras das minhas mãos a procurarem o meu rosto em mais uma noite sem dormir. Em mais uma noite atormentada por nada mais que eu própria. O tempo corre barbaramente. Sem eu dar conta passaram meses e meses, dias e dias, em que me foi sugada a vida. Já quis desesperadamente que o tempo parasse, já quis ainda mais desesperadamente que voltasse atrás. O tempo não me obedeceu. Mas obedece-me agora que lhe imploro que corra o mais sofregamente possível, como se se olhar para trás se vá tornar em cinzas. Eu suspiro, a manhã chega. Eu sorrio e mais uma semana passou. Não tenho memória de nada, porque não há nada para memorizar. A minha vida é pura velocidade, sofreguidão, escuridão. Tudo é um nevoeiro na minha mente, nada existe realmente. Já nem sequer o tédio me atormenta. Já passei o tédio, já passei o desespero, já passei as manifestações entre inspirações de quem quer existir, de quem quer pertencer. A pior parte já passou, digo eu, a sentir o ...