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A mostrar mensagens de novembro, 2013

''Tempo, tempo, que não volta atrás. Nem sempre há remendo para as asneiras que se faz.''

As sombras movem-se na meia escuridão. Sombras das minhas mãos a procurarem o meu rosto em mais uma noite sem dormir. Em mais uma noite atormentada por nada mais que eu própria. O tempo corre barbaramente. Sem eu dar conta passaram meses e meses, dias e dias, em que me foi sugada a vida. Já quis desesperadamente que o tempo parasse, já quis ainda mais desesperadamente que voltasse atrás. O tempo não me obedeceu. Mas obedece-me agora que lhe imploro que corra o mais sofregamente possível, como se se olhar para trás se vá tornar em cinzas. Eu suspiro, a manhã chega. Eu sorrio e mais uma semana passou. Não tenho memória de nada, porque não há nada para memorizar. A minha vida é pura velocidade, sofreguidão, escuridão. Tudo é um nevoeiro na minha mente, nada existe realmente. Já nem sequer o tédio me atormenta. Já passei o tédio, já passei o desespero, já passei as manifestações entre inspirações de quem quer existir, de quem quer pertencer. A pior parte já passou, digo eu, a sentir o ...

Ainda a contar...

Dia 237: Os murmúrios paralelos mantêm-se. Eu mal os ouço a sussurrar, a rir. A sala está quente, mais quente do que lá fora, imaginava eu. Fito a página em branco. Procuro na minha mente um qualquer rasgo de brilhantismo, de esperança. Nada. Tudo o que se ouve é silêncio. Dirijo o olhar para a janela que mostra a realidade deprimente de uma quinta-feira chuvosa e escura. Os enormes montes verdes eram uma constante animadora no longo e gelado Inverno que nos esperava. Sorri, ansiosa pelas noites sentada à frente da lareira a ler um livro, a árvore de natal a espreitar-me no canto do olho. É impossível sentir-se partida quando o calor nos invade suavemente as veias, a nossa casa cheira a comida e tudo é harmonia, amenidade, calma. O teu coração enche-se, remenda-se, torna-se uma nuvem pura e leve. Anseio pelo inverno gelado se ele significa um coração remendado. Sabia que para o meu coração já não havia remendo que valesse, mas alguns agrafos, talvez, resolviam a coisa. As noites ...

O ciclo sem fim

Ouvi algo estalar. Tudo aquilo parecia irreal, desde as luzes coloridas e presas, que tornavam a minha visão fracionada e lenta, à música ridícula e pulsante, que me obrigava a mexer-me e a participar, à mão que me prendia. De repente, o choque transformou-se em lucidez. As mãos dele começaram a pesar-me nas costas, o corpo dele começou a, finalmente e realmente, aparecer à minha frente. E, ao contrário do esperado, a minha vontade foi correr. Correr, mesmo que os meus pés, armados com uns tacões destruidores, se desfizessem. Correr, mesmo que acabasse por cair. Correr, mesmo que parecesse ridículo, patético, embaraçador. Pensei mesmo em fugir, refugiar-me em algum lugar onde chovesse profusamente, deitar-me no chão e fechar os olhos. Não pensar, não imaginar. Simplesmente desaparecer ali, deixar o meu espírito fugir daquele corpo magoado e abandonar-se. Porque tudo aquilo era demasiado real, demasiado familiar, demasiado passado. E assim, com a respiração dele no meu ombro, o corp...