Páginas em branco
A minha vida resume-se a uma página em branco. Resume-se a como eu a preencherei, a todas as palavras cheias que eu escreverei naquelas folhas vazias e as que eu apagarei. Resume-se a todos os começos, todos os fins que nela descreverei. Resume-se a todas as frustrações, a todas as lágrimas que reprimi para depois as deixar recair sobre a minha caneta. A minha vida é, assim, uma torrente de palavras que acabam por não ficar escritas, que são filtradas. Essas palavras, as que de facto são escritas, são o reflexo do transbordo do meu peito. Quando o meu coração é demasiado pequeno para todas as emoções. E o meu coração não aumenta, não se adapta. Simplesmente transborda. E esses sentimentos não suportáveis pelo meu peito escorregam para a folha. Escorregam para a folha e delineam-se, quase sem mim. Mas essas palavras têm tanto de mim que não importa se se escrevem sozinhas.