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A mostrar mensagens de fevereiro, 2013

Páginas em branco

A minha vida resume-se a uma página em branco. Resume-se a como eu a preencherei, a todas as palavras cheias que eu escreverei naquelas folhas vazias e as que eu apagarei. Resume-se a todos os começos, todos os fins que nela descreverei. Resume-se a todas as frustrações, a todas as lágrimas que reprimi para depois as deixar recair sobre a minha caneta. A minha vida é, assim, uma torrente de palavras que acabam por não ficar escritas, que são filtradas. Essas palavras, as que de facto são escritas, são o reflexo do transbordo do meu peito. Quando o meu coração é demasiado pequeno para todas as emoções. E o meu coração não aumenta, não se adapta. Simplesmente transborda. E esses sentimentos não suportáveis pelo meu peito escorregam para a folha. Escorregam para a folha e delineam-se, quase sem mim. Mas essas palavras têm tanto de mim que não importa se se escrevem sozinhas.

Saturação

O dia acordou cinzento. Eu acordei cinzenta. Não, a verdade é que acordei com vontade de rebentar tudo. Por razões desconhecidas. Estou farta de palavras, de sons. Quero silêncio. Para sempre. A vida devia ter uma botão ''Mute''. Cada som está a fazer-me perder a paciência. E eu não tenho muita. Quero concentrar-me e não consigo. Quero concentrar-me em escrever este texto e não consigo. Como se escrever já não se tivesse tornado difícil o suficiente com a torrente de pensamentos que tenho. E nunca consigo concretizar nenhum! Estou farta desta frustração entranhada em mim. Estou farta de sentir o ódio a palpitar debaixo da minha pele. Estou farta de não conseguir escrever, de não conseguir fazer nada! Estou farta de querer derrubar tudo, de só sentir. Nos últimos tempos só sinto, meu Deus, só sinto! Estou farta! Estou farta de espelhos para me desiludirem, estou farta de passos na madeira, estou farta de vozes, estou farta de música! Estou farta de tudo o que seja...

Oh, patéticos devaneios ...

Apaixonei-me hoje. Ao acordar e olhar para a tua fotografia. Ao ler todas as tuas mensagens, todas as tuas declarações de amor. Ao relembrar-me de todas as tuas palavras, de todos os nossos momentos. Apaixonei-me vezes e vezes sem conta, até o meu coração transbordar. Pela primeira vez na vida senti que a minha boca não era grande o suficiente para o sorriso que eu queria fazer. Senti que queria chorar de felicidade. Claro que não o fiz. Senti-me feliz. Já não tive o passado a atormentar-me. Esquecera-me desta emoção, deste momento em que o mundo se torna uma pessoa. É-me realmente difícil acreditar que isto foi possível. Que agora todos os dias de amanhã abro os olhos para me deparar com este sentimento. E apaixono-me todos os dias.

Amor

Tenho esta visão de que o amor deve ser absoluto, incondicional, infinito, total. Preenchido de olhares intensos, conversas profundas, tudo lento e calmo. Para mim, era isto o amor. Este sentimento intrínseco e inócuo que atravessa a espécie humana, que a paralisa, que a desfaz. Tinha tanto medo deste sentimento. Temia-o com todas as forças do meu ser. E não precisava. Descobri este novo tipo de amor, leve como uma pena, sorridente, divertido, descontraído, mútuo. É esta a palavra-chave. Porque nunca soube o  que era o amor mútuo. Nunca recebi, só dei. E este amor em que recebo mais do que dou, é uma experiência nova para mim. Não digo que ele nunca me tenha magoado. Cada pequeno comentário viperino é uma farpa no meu coração. Mas é ele. O maldito príncipe encantado, honesto, maravilhoso. Também não digo que este amor seja suficiente para mim. Sou dada a emoções fortes, avassaladoras, a exageros e este amor leve parece, por vezes, não preencher o meu coração. Mas nos...

Amélia - I

O som dos tacões ecoava na rua escura e vazia. Ela era apenas uma sombra na solidão. Mesmo à luz ela seria apenas uma sombra. Não passava disso, de lixo solitário e supérfluo. Pelo menos, era assim que se via. O seu aspeto mostrava exatamente a sua desistência da vida: os sapatos pretos, a saia mínima também preta, tal como o top e o casaco. Quando lhe perguntavam o porquê de tanta escuridão, ela sorria, com os lábios carregados de escárnio, e afirmava que estava de luto de si própria. O seu corpo já tinha perdido as formas há muito tempo, o seu cabelo castanho já tinha perdido o brilho, tal como a sua pele já tinha perdido a sua cor saudável. Os seus olhos eram pretos, quase não sendo possível fazer a distinção entre a íris e o resto. Pequenas covas formavam-se à volta destes o que lhe escondia a verdadeira idade, acrescentando-lhe mais dez anos. Apesar de tudo isto, ainda era excecionalmente bonita. Nunca tão bonita como há anos atrás, quando os seus olhos ainda se esbugalhavam de...