Dependência
Este véu negro dança sobre o meu discernimento. O meu senso comum parece hipnotizado, embalado pelos movimentos desse mesmo véu, enfeitiçado pelas imagens que este me mostra. Uma parte de mim ainda me procura dentro deste corpo, dentro desta mente. Ainda procura a minha convicção, a minha teimosia, a minha indignação e a minha tendência para explodir com força e rapidez. Mas estas minhas características escondem-se algures atrás do véu. Não perdi a capacidade de me enraivecer, de discutir com um tom afiado e palavras aguçadas, de me concentrar ou de ser a pessoa que sou. Só que agora faço, penso e digo tudo de forma mais leve, mais suave, mais doce e mais gasosa. Os meus sentidos estão enleados numa ilusão, numa bela e demasiado indulgente ilusão, diga-se de passagem. Os meus olhos só veem a mesma sequência de imagens, mesmo quando estão cegos, os meus ouvidos só ouvem um som, o meu nariz só sente um cheiro, as minhas mãos só querem um toque, e o meu paladar só quer um sabor. ...