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A mostrar mensagens de junho, 2015

Dependência

Este véu negro dança sobre o meu discernimento. O meu senso comum parece hipnotizado, embalado pelos movimentos desse mesmo véu, enfeitiçado pelas imagens que este me mostra. Uma parte de mim ainda me procura dentro deste corpo, dentro desta mente. Ainda procura a minha convicção, a minha teimosia, a minha indignação e a minha tendência para explodir com força e rapidez. Mas estas minhas características escondem-se algures atrás do véu. Não perdi a capacidade de me enraivecer, de discutir com um tom afiado e palavras aguçadas, de me concentrar ou de ser a pessoa que sou. Só que agora faço, penso e digo tudo de forma mais leve, mais suave, mais doce e mais gasosa. Os meus sentidos estão enleados numa ilusão, numa bela e demasiado indulgente ilusão, diga-se de passagem. Os meus olhos só veem a mesma sequência de imagens, mesmo quando estão cegos, os meus ouvidos só ouvem um som, o meu nariz só sente um cheiro, as minhas mãos só querem um toque, e o meu paladar só quer um sabor. ...

Adeus, Juventude

Este quarto está mergulhado na mais absoluta escuridão e no calor não incomodativo de primavera. Jazo imóvel sobre a minha cama e deixo que os soluços violentos tomem conta de mim. Na minha mão prostra-se o símbolo da minha segunda casa. E o mero sentir da textura desse mesmo símbolo envia-me para as minhas ondas de dor fechadas, com as quais nunca soube lidar, ao ponto de as luzes do meu quarto terem de estar desligadas, como se isso me ajudasse a sobreviver-lhes ou a fingir que elas não existem. Quando esse símbolo me foi dado, fui surpreendida pela primeira onda de dor astronómica, que me abateu violentamente, em forma das perguntas "E agora?", "Para onde vou?", "O que vou fazer?", e em forma das afirmações "Acabou.", "Nunca mais." e "A minha vida mudou para sempre". Com aquele edifício vai a pessoa que eu fui há 3 anos, as memórias de 3 anos, todas as sensações de 3 anos e, mais importante do que tudo, 3 anos da minha v...