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A mostrar mensagens de fevereiro, 2015

Indolor

E ali estava ela a defender a sua paixão como se fosse a sua vida. E eu, revirando os olhos e discutindo, exibia a minha opinião já tão óbvia e gasta sobre aquele assunto. Todas as palavras que saíam da minha boca eram cuidadas e pensadas, e a tese que elas formavam era uma tese que eu elaborara nova, e pela qual era e sempre fui apaixonada. Não tinha qualquer pena de destruir o conto de fadas que ela criara nem tinha pena de saber estar a gastar a minha voz em vão. Há que defender aquilo em que acreditamos, independentemente se vale a pena ou não. Vale sempre a pena, e terminem vocês. Tinha pena, no entanto, de já não fazer ideia do que ela estava a falar com os olhos brilhantes e lacrimejosos. Já não sabia do que ela falava há muito tempo, porque já não sentia o que ela sente há muito tempo. Nem eu sei há quanto. Nem eu me lembro, sinceramente, quando foi a última vez, porque o tempo atravessou-me e todas as memórias estão já borratadas, apagadas e já não me dizem (e finalmente ...

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As correntes de ferro apertam-se à volta dos meus pulsos. Sinto, a cada momento, o ferro a cortar-me a pele, o meu sangue a jorrar. Cada dia que passa o ferro entra cada vez mais. Cada dia que passa a minha vida esvai-se por entre as manchas de um vermelho escuro. Parece que cada passo que dou se aproxima do nada. Do infinito precipício, do enorme salto, da completa escuridão. Não sei o que se segue. Não sei para onde vou ou como vou. Os dias passam e cada ''final'' chega, Cada coisa que será a última que eu vou fazer. As correntes cortaram-me profundamente os pulsos no dia em que decidi tornar-me prudente. Talvez seja um exagero de uma mente melodramática, mas foi um passo muito grande, tomado por uma pessoa que ainda se vê como uma criança pequena. A minha vida esvai-se por entre os meus dedos pequenos e finos. Não consigo fechar a mão e agarrá-la. Preparo-me para terminar tudo. A minha irresponsabilidade, o meu humor, o meu embaraço, a minha prodigialidade...